16
Depois que me recuperei do choque a pequena mulher veio se sentar ao meu lado onde entregou uma faca e várias frutas na qual eu cortava em cubinhos.
—Vou fazer um manjar pra você comer amanhã Sophie — Alie deslizava a lâmina pela casca amarela de uma fruta oval que eu conhecia bem.
—Minir e Dimir ficaram espantados quando eu dei algumas dessas para eles — apontei para sua mão — Eles me disseram que é muito difícil de conseguir.
—Então era você mesma que pegava as Oparins?Tenho que me lembrar de pedir desculpas aqueles dois por ter duvidado do que disseram.
—Oparins?
Alie continuou descascando a fruta amarela até a polpa vermelha aparecer.
—Não existem no seu mundo?
Balancei a cabeça.
—De onde eu venho há mangas de vários tipos, mas nunca vi nada igual a essa... Oparin.
—Até que faz sentido, as Oparins são conhecidas por sua alta essência de magia.
—Magia? — a olhei com espanto — Quer dizer que eu comi magia?!
Alie riu.
—Não se preocupe Sophie, essas frutas possuem propriedades mágicas mas não é a mesma coisa que uma poção.
—Isso ainda não me acalma...
Comi uma fruta mágica...
Continuei cortando o restante sem tirar os olhos da polpa vermelha.
E se nascer um chifre em mim?
Já estava levando uma mão até a cabeça, só para garantir que não havia nenhuma protuberância anormal quando a voz de Alie me tirou dos devaneios.
—Normalmente as Oparins ficam presas nos galhos das árvores e não soltam por nada nesse mundo, mesmo que cerrem os caules elas ainda ficam lá só caindo no final do verão — suas mãos deslizavam agilmente, agora descascando uma ameixa muito brilhante — Por isso achei que as crianças só deram muita sorte e que o outono chegou mais cedo.
—Que estranho — segurei uma fruta amarela, não havia manchas ou arranhões na casca, mesmo que tivesse despencado de uma boa altura — Foi tão fácil pegá-las.
—Isso é realmente estranho, vai ver é pelo fato de você não ser daqui.
—Talvez...
Continuei encarando a Oparin até me dar conta de algo importante.
—Você ainda não terminou de contar a história Alie.
—Tem razão!Onde eu estava mesmo... ah sim, lembrei!
Ela me entregou a ameixa partindo para uma maçã.
—Como eu estava dizendo e você mesma viu, esse mundo é repleto de magia e todo feérico a tem correndo em suas veias, porém, cada um usa de um jeito diferente, acho que é mais fácil dizer que são iguais a dons, você vai ver muitas pessoas fazendo coisas incríveis e assustadores com magia Sophie, ai vai entender melhor do que estou falando...
'A muito tempo atrás, quando eu ainda era criança e estava aprendendo a usar magia nos legumes da horta vi minha mãe caminhando entre as árvores da floresta, volta e meia ela parava, ia até um tronco rugoso, encostava o ouvido e ficava lá por um bom tempo, quando ela voltou perguntei o que estava fazendo e recebi um: "Ouvindo o sussurro das árvores" como resposta. Desse dia em diante eu tentava fazer igual para ver se conseguia ouvir alguma coisa mas sempre acabei com formigas no rosto ou arranhões na bochecha. Então percebi que aquela era a habilidade com magia da minha mãe, ouvir a voz das árvores, no começo achei legal mas quando eu perguntava sobre o que elas falavam minha mãe dizia coisas sem sentido como: 'as patas fazem cócegas', 'os inquilinos são sem educação e fazem as camas sem pedir', ou 'sempre doem quando arrancados ainda verdes', daí em diante comecei a pensar que aquela era uma habilidade meio inútil, até algumas semanas atrás onde, em uma das minhas visitas mamãe correu para atender a porta, (o que já era muito estranho já que ela sempre reclamava de dor nas pernas) agarrou meu braço me puxando para dentro e antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa ela gritou:"As árvores contaram!Contaram que o véu se abriu e ele voltou, sim! Que tragédia! Mas outra pessoa que não pertence ao rio veio junto, e ela mudará o imutável!".
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Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)
Fantasy"O monstro do poço", foi assim que Sophie o conheceu, através das terríveis histórias que passaram de geração em geração, um lembrete a quem fosse esperto o suficiente para ouvir e acatar as ordens de quem detinha o poder, no entanto, quando ela mes...