20
Os galhos secos que Eylef havia trazido queimavam lentamente no centro da fogueira enquanto nos acomodamos em silêncio à sua volta. O céu estava escuro, não havia lua ou estrelas, o que me fez chegar ainda mais perto do fogo.
—Você está quieta demais.
Ouvi a voz grave ecoar pelo que restava das paredes.
—Pensei que gostasse do silêncio.
—Gosto, mas isso não é normal, não vindo de você.
—Obrigada pela preocupação...
Um suspiro.
—Fale o que está pensando, humana.
—Não era o vento — disparei — Eu sei que não.
—Pelo visto é mais inteligente do que parece.
Franzi o cenho.
—O que era?
—Um Ghool.
Ia abrir a boca para fazer outra pergunta, mas Eylef prosseguiu.
—São espíritos atormentados que buscam um corpo para possuir.
Senti o horror ao lembrar da sensação de uma mão fria me tocando.
—Por que insistiu que era o vento?
—A única forma de fugir de um Ghool é não pensar nele, por sorte você não sabia que algo assim existia, o que tornou as coisas mais fáceis.
—Eu não diria que foi fácil... — resmunguei.
—Imaginar ser o vento é a melhor maneira de escapar de um ataque.
—Você também escutou?Também pensou no vento naquela hora?
Um curto silêncio surgiu.
—Não.
Com a resposta pairando no ar decidi encerrar as perguntas por ali mesmo, alguma coisa me dizia que Eylef não ia se dispor a falar mais nada então fechei os olhos e adormeci.
Na manhã do dia seguinte acordei com o céu ainda escuro, algumas brasas queimavam na fogueira enquanto a figura de manto vermelho estava de pé, parada em frente do que restou da estátua.
—Deve ter sido algo muito bonito — disse conforme me aproximei, o frio tocando minha pele e causando arrepios.
Como de costume Eylef continuou em silêncio, sua atenção nos destroços permaneceu por mais alguns segundos antes dele se virar em direção a floresta.
—Vamos.
Caminhamos pela mata fechada por horas a fio, algumas vezes tive que saltar troncos ou me esgueirar por roseiras secas onde espinhos rasgavam minha roupa assim como a pele, ignorando o ardor dos machucados continuei em frente até que um longo campo verdejante surgiu. Ao longe podia ver riachos cortando a paisagem enquanto algumas pilastras de mármore erguiam-se em direção ao céu.
—Uau...
Ia dar mais um passo quando alguém me segurou.
—Ei!
—Se pisar aí eles vão te ver.
—Eles?
—Olhe para as pilastras.
Encarei as colunas de mármore, dessa vez com mais atenção, me surpreendo com enormes cobras brancas enroladas na base de cada uma, quase como se também fossem de pedras.
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Corpo e alma, a pior das maldições (Projeto em fase de criação)
Fantasy"O monstro do poço" foi assim que Sophie o conheceu através das terríveis histórias que passaram de geração em geração, um lembrete a quem fosse esperto o suficiente para ouvir e acatar as ordens de quem detinha o poder, no entanto, quando ela mesma...