O que somos?

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[...]

— Estou bem, querida. Vocês dois exageram muito. — disse mamãe sorrindo para mim e meu pai, mas não consigo relaxar. Há apenas alguns momentos, achei que ela estaria morta. Mas vê-la bem é um enorme alívio. Graças a Deus, nenhum conselheiro saiu ferido, mas a dor e a raiva ainda persistem. Eles não sabem que Jinx é a verdadeira responsável por tudo isso, acham que foi um ato de Silco. Não estou com cabeça para falar disso agora, muito menos para contá-los tudo que aconteceu nas últimas horas. Se o fizer, prefiro falar quando todos estiverem reunidos.

Passei um tempo com minha mãe até ela adormecer. Meu pai me pediu que fosse para casa descansar. Minto dizendo que vou. Só de lembrar daquele momento... Tentarei encontrar um hotel para passar a noite. Não conseguirei voltar para casa e muito menos entrar em meu quarto.

Caminhando pelo hospital, avisto a figura de cabelos cor-de-rosa ainda na recepção. Ela está com a cabeça apoiada na parede, os braços cruzados, profundamente adormecida. Será que ela ficou aqui o tempo todo? Supus que já tivesse ido embora e, por isso, não me dei ao trabalho de conferir sua presença.

Aproximo-me dela, observando seu rosto serenamente adormecido. Essa posição certamente lhe causará dores nas costas. Decido despertá-la, tocando levemente seu ombro. Ela entreabre os olhos lentamente, ergue-se coçando os olhos e me encara preocupada.

— O que está fazendo aqui? — pergunto, e ela abaixa a cabeça.

— Pensei que pudesse precisar de algo, então decidi esperar... E como está sua mãe?

— Ela está bem, dormindo agora. E eu também preciso de uma longa noite de sono. — Indico a saída e ela fica imóvel. — Você vem? — Essas simples palavras bastam para que ela se junte a mim, porém, desta vez, não me apoio nela.

Caminhamos lado a lado, mas sinto como se houvesse um abismo nos separando. Ela não diz uma palavra durante todo o percurso.

— Não estou com raiva de você. Minha raiva é da sua irmã. Ela foi a faísca que incendiou tudo, arriscando as pessoas mais importantes da cidade e ameaçando o início de uma guerra.

— Sei... — Paro de andar enquanto ela contínua.

— Violet... Vi! — Chamo seu nome em um grito, surpreendendo-a ao se virar para mim. Avanço em sua direção e a abraço antes que consiga falar algo. — Vamos resolver isso, mas eu não consigo sem você, sua idiota! Então, por favor, pare com essa expressão.

Enquanto nos abraçamos, sinto suas lágrimas começarem a rolar, me apertando com ternura. Seu calor me relaxa completamente. Esse efeito que ela tem sobre mim me deixa louca. Não sei ao certo o que temos, mas não quero perder isso.

— Vamos, estamos quase no hotel. E não ouse contestar, você ficará comigo esta noite. Precisamos de uma folga. Entendido?

— Você quem manda, Cupcake~ — Esse apelido! Sempre me deixa desconcertada quando ouço. O modo como me olha intensamente me deixa com as pernas bambas.

[...]

Só faz algumas horas, mas a cidade está em completo silêncio. Não sei se é impressão minha ou estão tentando evitar um alarde maior. Não quero nem imaginar como as coisas estão lá embaixo.

Onde você está...

— Falando sozinha? — respondeu Caitlyn, saindo do banheiro com uma toalha envolta no corpo. Engoli em seco diante da cena. Seu cabelo solto caía suavemente para frente, e MANO, que mulher!

Encarei-a por um instante e notei um pequeno corte em seu lábio. Levantei-me instintivamente e toquei o seu rosto. Ela se assustou levemente com o contato, mas não recuou. Ficamos ali, ela apenas de toalha, e eu tocando seu rosto.

De repente, senti um calor inexplicável. Nossas respirações se misturavam, nossos olhos se encontravam. Parecia que poderia ficar daquele jeito para sempre, mas ela se afastou, com as bochechas coradas. Que fofa...

— Eu... Eu vou me molhar. — balbuciei, dirigindo-me apressadamente ao banheiro. O que foi aquilo? Meu corpo ardia e parecia difícil respirar. Seus olhos, seus lábios, seu perfume. Ela não sai da minha mente. Cada detalhe nela é simplesmente perfeito. Sinto-me incrível ao lado dela, completa, mas como expressar isso? Fui grossa com ela na primeira vez, e não é como se fossemos intimas. Não somos amigas...

Então, o que somos?

Só tive uma parede para conversar nos últimos anos. Não faço ideia de como me abrir com ela sem dizer nada sem sentido ou entrar em assuntos complicados. Droga, droga, droga!

Entre fios vermelhosOnde histórias criam vida. Descubra agora