Tocar o céu

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[...]

Duas semanas se passaram e, apesar disso, a notícia sobre o grande atentado ao prédio do concelho continua estampada em todos os jornais e nos lábios dos habitantes de Piltover, especialmente de Zaun.

Já faz duas semanas que estou sem fazer nada. Eu queria fazer alguma coisa, ajudar Ekko, mas o chefinho não quer falar comigo, então tenho tido poucos encontros com ele. Agora, estou apenas me movimentando sem rumo. Recebo olhares desconfiados por onde quer que eu vá e, honestamente, isso está me enlouquecendo.

~Casa da Caitlyn~

— Vamos iniciar as buscas na ponte, revistem veículos suspeitos. A vigilância dos navios será feita por um pequeno grupo, sem alaridos, procedam com cautela. Conversarei com o chefe do setor para liberar alguns guardas nas ruas de Zaun; não será um grupo grande, mas dada a situação agitada, precisamos de pelo menos dois ou três guardas lá embaixo. Ok... Sim, até logo.

Durante duas semanas me dediquei inteiramente ao trabalho sem interrupções. Nunca pedi tratamento especial, eu gosto da pressão do trabalho. No entanto, sinto uma inquietação por não passar tempo suficiente com Vi. Apesar de termos ficado juntas, não tivemos a oportunidade de conversar sobre nossa relação, e talvez eu esteja sendo precipitada, mas eu quero muito falar com ela. Contudo, ainda não falei com ela porque nunca a encontro onde deveria estar.

— Onde você está, Vi... — murmuro, soltando um suspiro profundo. Embora minha janela permaneça aberta, aguardando seu retorno, Vi não apareceu nos últimos dias. É possível que esteja com Ekko, mas essa incerteza começa a me afligir.

Subitamente, percebo alguém na janela: é Vi, porém sua postura é incomum. Ela caminha em desequilíbrio e exala o odor de álcool. — Vi...? — chamo por ela, enquanto a observo se aproximar da cama, retirando sua jaqueta e suas botas lentamente, e finalmente se deitando com o rosto afundado no colchão. — Violet! — a chamo mais uma vez, porém ela não responde.

Aproximo-me, batendo em sua perna para acordá-la. Ela resmungou algo incompreensível por estar com o rosto enfiado no travesseiro.

— Violet! — Chamei novamente, fazendo-a se levantar, irritada, e dirigir-se ao banheiro. Acompanhei-a, segurando-a pela camisa.

— Eu preciso usar o banheiro! — Ela tentou se soltar, mas segurei seu braço, fazendo-a finalmente olhar para mim, mesmo que ainda escondesse o rosto.

— Você sumiu, está claramente bêbada e se recusa a me encarar, o que me leva a acreditar que você brigou... não foi? — Exclamei, segurando seu braço com firmeza. — Olhe para mim Vi... Olhe! — Falei autoritariamente, forçando-a a me encarar.

Seu rosto está com cortes e roxos, enquanto suas mãos estão sujas de sangue. Estavam secas, indicando que já havia se passado algum tempo desde os ferimentos e provavelmente ela bebeu para tentar aliviar a raiva.

— Eu preciso usar o banheiro... — Vi se soltou e foi até lá, trancando a porta.

[...]

Eu sou tão idiota, sabia que ia abacar assim, por que não desisti, por que vim para cá?! Estou sem cabeça para conversar agora, estou bêbada, machucada e trancada no banheiro porque tenho medo de expressar meus pensamentos e perdê-la! Ótimo, Violet! Parabéns!

O quê que eu tô fazendo...

Tiro minhas roupas e entro na banheira gelada, sem ligar a água quente... esse frio é reconfortante. Mergulho por alguns segundos e volto à superfície pensativa se devo partir ou ficar, não quero ir e mesmo que tentasse, Caitlyn me deteria. Não estou com disposição para conversar hoje, sobre nada... mas preciso.

Após algum tempo, saio do banheiro e encontro Cait com uma calça de moletom e uma camisa de manga cumprida. Este é meu pijama, então apenas pego e retorno para me trocar. Ao sair, Cait já estava deitada, lendo um livro. Observo por um momento sua presença... como foi que me deitei com essa mulher? Ainda parece um sonho. Dirijo-me até o outro lado da cama e me sento na extremidade em silêncio.

O ar está frio, a chuva cai suavemente, e a suave luz do quarto cria um clima aconchegante, poderia dizer que é uma noite agradável... porém, não seria verdade. Inclino-me um pouco para encará-la, faz tempo que não a vejo lendo, tão sereno...

— Podemos conversar amanhã, não tem problema. — ela diz, marcando a página do livro e o colocando no criado-mudo ao seu lado. Ela fica linda quando está lendo, com aqueles óculos que lhe conferem um ar sedutor, quase poderia devorá-la com os olhos. Mas agora não é hora para isso, Vi!

— Me desculpa. Não deveria ter chegado assim à sua casa. Foi rude da minha parte... — murmuro, sentando-me de frente para ela e cruzando as pernas.

— Olha... Não estou chateada com isso. Estou preocupada com você! — ela fala, aproximando-se e tocando em minhas mãos calejadas. Ajeita-se e senta-se na minha frente, desamarrando as faixas das minhas mãos. — Eu queria que você conversasse comigo. Eu estou aqui por você.

— Eu sei... — Murmuro. — Mas eu tenho medo...

— Medo? Medo de quê? — Fala voltando a me encarar, desvio meu olhar do seu, mas ela se aborrece ao colocar suas mãos no meu rosto, me forçando a encará-la. — Vi... tá tudo bem. — Diz se aproximando mais e mais de mim, sinto meu rosto esquentar com seu toque. Coloco minhas mãos em volta da sua cintura, a colocando sobre mim com uma perna de cada lado.

— Tenho medo de falar... e acabar te perdendo... — Digo acariciando suas costas, fazendo-a arrepiar-se.

— Eu não vou te deixar. Nunca! — diz ela se aproximando e beijando meu rosto. Minha mão desliza por sua coxa, arranhando suavemente, provocando suspiros dela. — Pode falar Vi, estou aqui por você, eu quero você!

— Eu também te quero! — sussurro enquanto ela passa a língua em minha orelha. — Não tenho mais nada lá embaixo, nem o Ekko quer falar comigo, não sei para onde ir, não tenho mais por quem lutar, não sei o que fazer e isso me assusta...

Ela para de me beijar, encarando-me por alguns segundos, enxugando minhas lágrimas antes de unir nossas bocas. Com os braços ao redor da minha cabeça, ela guia sua língua em um duelo silencioso pelo controle do beijo. Pressiono minhas pernas entre as dela na cama, fazendo-a gemer com o contato. Ela separa nossas bocas, arfando suavemente, seu rosto corado assim como o meu, o clima do quarto se transformou rapidamente, está quente agora.

— Você não é responsável por eles, nenhum deles, Vi. Você tem escolhas, e mesmo achando que está traindo seus princípios, na verdade, não está! Você não está presa, está livre. Mesmo que ache que não exista um futuro para você, eu discordo. O futuro existe para Violet, a garota da subferia. — falou suavemente, tocando meu rosto com e indo até minha nuca, puxando levemente meu cabelo. — E agora... o que você quer agora?

— Você... Eu quero tocar o céu contigo. — Foram minhas últimas palavras antes de nos envolvermos em uma noite intensa. Não sei o que será da minha vida agora, sem pais, irmãos ou amigos. E a única pessoa que passei anos pensando, se foi. E a culpa foi minha. Se eu não fosse Cait... acho que seria o fim. Não vejo razão para continuar, porém, ela me dá um propósito para seguir em frente. Embora não tenha nada nem ninguém, eu ainda quero acreditar que possa haver esperança para Violet, a garota da subferia.

Entre fios vermelhosOnde histórias criam vida. Descubra agora