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Danielle pov

6:45
Maldito despertador. Sem vontade nenhuma acabo por sair da cama. Caminho vagarosamente até ao quarto de banho onde faço a minha higiene pessoal. Duche tomado, dentes lavados, cabelo seco e penteado, só me falta vestir. Escolho uma saia rodada preta não muito curta e um camiseiro elegante, finalizando o look com um saltos não muito altos, pretos. Pronta a sair de casa, pego na minha mala e telemóvel. Ao pegar neste reparo que tenho uma mensagem e duas chamadas não atendidas. Desbloqueio o aparelho eletrónico e percebo que as chamadas e a msg eram ambas da mulher que insistia em atormentar-me.

Mãe:
Se pensas que podes sair assim sem qualquer consequência enganas-te. Eu vou encontrar-te e fazer a tua vida acabar com tudo o que te resta. Beijinhos.

Senti o líquido tão bem conhecido por mim queimar-me os olhos, mas não deixo que isso aconteça. Eu não vou chorar mais por ela. Nunca mais. Depois de trabalho tenho de comprar um cartão novo. Apago a mensagem juntamente com as duas chamadas, bloqueando o telemóvel e arrumando-o na minha mala. Saio de casa e vou em direção ao carro. A editora não fica muito longe, e como ainda é cedo não há trânsito, o que me permite chegar rapidamente ao meu novo local de trabalho.
Atravesso as portas da empresa desejando um "bom dia" à rececionista e ao porteiro. Subo o elevador até ao último andar, onde supostamente será o meu escritório. Quanto menos me cruzar com o Cameron melhor. Ele está sempre a gozar comigo , já não o suporto e só o conheci ontem. Quando as portas se abrem, apresso o passo até ao meu escritório, mas sou parada por uma voz.
"Bom dia menina Danielle."
"Bom dia Cameron" tento dizer o mais simpática possível.
"Pontual. Gostei."
Assinto, e sem querer continuar aquela conversa vou-me embora. Ele também não se prenuncia dando a minha fuga por bem sucedida. Entro no meu suposto escritório e fico radiante com a vista. Existem duas grandes prateleiras de vidro encostadas numa das paredes, a secretária é grande e moderna, uma grande janela que começa no chão e se estende até ao teto, igual à de Cameron, permite observar a linda paisagem de Seattle e um pouco atrás desta está um vistoso e enorme sofá. Sento-me na minha secretária e começo por ler um dos manuscritos que estão à minha frente.
Em 4 horas, já li metade. Era capaz de continuar a lê-lo por ser realmente bom, mas o meu estômago não me permite. Decido fazer uma pausa e comer qualquer coisa.
O piso encontra-se silencioso, devem ter ido almoçar. Cumprimento Raquel, seguindo para o elevador. Quando as portas se estão quase a fechar vejo um pé impedir que tal acontece-se. As portas abrem-se revelando o chato do meu vizinho e chefe. Tal não me agrada, mas vou ter de aprender a viver com isso. Lança-me um sorriso convencido e toca num dos botões.
Sinto o elevador parar e não gosto nada do que se trata. O elevador avariou. E o chato do meu chefe está aqui. Só a mim, mesmo.
"Porcaria, já tinha pedido que o arranjassem." disse enquanto tocava nos botões ao calhas.
"Para, ainda fazes pior." puxei-lhe o braço ao de leve fazendo parar.
"Eu tenho uma reunião às duas não posso ficar aqui fechado Smith." wow, Smith. Ele chama-me sempre pelo primeiro nome. Ele está mesmo chateado.
"Calma, hão de reparar e chamar o técnico."
"Até lá, fico atrasado. Não tenho rede aqui. Tens?"
"Não."
Instalou-se um silêncio asfixiante, mas eu não me atrevo a quebrá-lo.
"Jogo das 20 perguntas?" pergunta meio reticente
"infantil?"
"ok, preferes este silêncio extremamente irritante, assim permanecerá"
Não, isso não.
"Quantos anos tens?"
"25, moras sozinha?" só? Pensava que era mais velho. Já tem um cargo importantíssimo e só tem 25?
"sim, irmãos?"
"Não, filho único e tu?"
"também, planos futuros?"
"gerir a minha própria impresa."
"sonhas alto."
"E faria o quê?"
" Não sei, és novo. Não seria mais emocionante viajar, conhecer o mundo, novas pessoas?"
"Nada disso me importa, o meu foco é somente o sucesso. Mas é tu? Aposto que sonhas conhecer a tua alma-gêmea e criar uma família."
"Não quero falar sobre isso e não, este não é o meu sonho."
O assunto da família é algo que não estou à vontade e não estava a gostar do rumo da conversa. Dou pelo jogo infantil terminado e por isso deixo-me escorregar suavemente pela parede do elevador. Sinto-o sentar-se a meu lado e murmurar um "desculpa". Não querendo prolongar a conversa deixo-me estar em silêncio. Sinto o colocar a mão no meu ombro.
"Sabes não tem mal, eu também não quero saber do amor, nem me preocupa se encontro ou não a minha alma-gêmea. Na verdade nem quero saber." olho-o seriamente.
"Eu nem sei o que é amor." limito-me a responder. E a voltar a encarar o vazio.
"Eu nunca me importei realmente com isso."
"Tens família? Sabes o que é ser amado?"
"Tenho. Mas acho uma perca de tempo." olho-o incrédula.
"Impressionante. Tens mas não queres saber, em quanto há imensa gente a querer ter e ser amada e não tem como."
"Não tens família?" pergunta, perfurando-me pelo olhar.
"Tenho mas é como se não tivesse." deixo que uma lágrima teimosa me cubra o rosto, mas apresso-me a limpá-la. Desvio o meu olhar do seu. Que parva, como fui eu deixar-me chorar à frente do meu patrão que por acaso também é o meu vizinho imbecil. Ainda é tudo muito recente e não consigo não me deixar abalar. O meu coração está negro e não há como evitar.

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