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POV Danielle


Eu sinceramente não percebo. Não percebo. Como é que um ser completamente igual ao outro consegue ser capaz de causar tanta dor com umas simples palavras? A dor nunca vem sozinha. Há sempre o que causa e o que sofre, e eu sou quem sofre. Sou um brinquedo nas mãos da dor, mais especificamente nas mãos da minha mãe. Começou quando decidi deixar de lhe fazer todas as vontades, quando cresci e não quis mais ser a sua bonequinha. Comecei a crescer e aperceber-me que aquilo não era saudável. A minha mãe ultrapassava os limites. Quando me prenunciei, não lhe agradou lá muito. Foi aí que ela começou a insultar-me, mais tarde começou bater-me, aí a situação agravou-se. Ficava dolorida e negra. Na escola as pessoas aperceberam-se e começaram a gozar comigo porque a minha mãe me batia. Não suportei e comecei a ter pesadelos, a certa altura comecei a frequentar o psicólogo com o dinheiro da minha mesada, porque se lhe pedisse ela negaria. Ela não queria que me recuperasse, ela queria-me lá no fundo, bem lá no fundo. Cruel, não é? Eu não compreendo o porquê de ela me fazer isto, sou sua filha. Que raio se passa com a mulher? Quando se tem um filho é suposto ama-lo incondicionalmente e fazer tudo por ele, não magoar e fazê-lo sentir-se inferior. Mas hoje é finalmente o dia em que saio desta maldita casa. Consegui juntar todo o dinheiro que precisava e comprei um apartamento. Hoje é finalmente o dia em que vou poder sair desta casa que em tempos foi o meu lar, foram estas as paredes que me esconderam lágrima após lágrima. É agora. Tenho de encarar a mulher que me criou mas que mais julgou, aquela que dou o nome de mãe. Desço as escadas apressadamente, as malas já estão no carro juntamente com o contrato do meu apartamento e com tudo o resto que preciso. Não espero uma despedida calorosa nem mesmo uma lágrima dela, sei que não vai acontecer. Não me vou estar a iludir por algo que nunca iria acontecer. Chego à sala, vendo o ser que em tempos já tivera poder sobre mim, deixando-me ficar perto da ombreira porta. Sem qualquer rodeio, vou direta ao assunto.

-"Mãe vou me embora."

-"Tens muita piada tu, onde vais miúda?"

-"Mãe, eu vou-me embora. "-disse pausadamente para que ela tivesse melhor perceção do que acabará de dizer pela segunda vez.

A mulher arrogante e snob levanta-se num ápice e olha-me incrédula. Sem querer passar mais tempo com a mãe que mais me amou e educou da melhor forma, ironia nem é o meu forte, saio o mais rapidamente da enorme mansão. Apresso o passo em direção ao carro com a certeza que ela nunca conseguiria acompanhar-me com os enormes salto agulha. Quando já estou a passar os enormes portões da mansão, olho através do retrovisor e ainda consigo ver a imagem de uma mulher confusa especada a olhar o vazio. Aumento a velocidade, quero afastar-me a o mais rápido possível. Á medida que me vou afastando, flashbacks de momentos de pura dor passados naquela casa vagueiam-me na mente. Em menos de 15 minutos estou no meu apartamento. Tiro as minhas malas do porta-bagagens e entro dentro do prédio. Assim que estou dentro do meu apartamento deixo as minhas malas caírem no chão, ligo para a pizzaria mais próxima e faço o meu pedido. Deixo-me recostar no me belo e reconfortante sofá à espera da pizza. Nem passam uns 30 minutos e já estavam a tocar-me à campainha para me entregar a pizza. Devoro duas fatias pizza, guardando os restos no frigorífico. Fico a fazer zapping por mais ou menos uns 30 minutos e depois decido ir dormir. Deito-me e momentos nada agradáveis assombram-me os pensamentos. Coloco estes pensamentos de lado e adormeço.

"Achas que podes deixar de me obedecer e fazer-me a vontade?" Sinto a sua mãe bater-me no rosto, fazendo o meu corpo cambalear. Mas eu sabia tão bem, que ela não ficaria por ali. A confirmação veio assim que o seu punho veio em direção à minha cara e me fez cair no chão. E continuou, até se fartar e deixar -me a desvairar em sangue no meio do chão do meu quarto enquanto chorava silenciosamente. Antes de sair rodou-se ficou a fitar-me com desprezo. "Nunca serás amada". E com isso sai do quarto, batendo com a porta.


Acordo sobressaltada, elevo o meu tronco de forma quase automática e tento regularizar a mina respiração. Os pesadelos voltaram. Em movimentos lentos, saio da cama e vou até à cozinha beber um pouco de água. Olho para o relógio e percebo que ainda eram 5 horas da manhã. Decidi ver um filme, viso que não consegui dormir e ainda era demasiado cedo. Oh meu deus, esqueci-me completamente daqui a 4 horas tenho uma entrevista para uma editora importante e não preparei nada. Abro a mala de rompante tiro de lá um casaco ao calhas e saiu disparada de casa. Abro o porta-bagagens atrapalhadamente e tiro de lá um caixote com algumas coisa que precisava como por exemplo o meu precioso portátil. Fecho o porta-bagagens com um pouco de força a mais do que a desejada, fazendo um estrondo ecoar. Apresso-me a entrar no apartamento e seguir pelo elevador. Não acredito esqueci-me das chaves do apartamento em casa, quero esganar-me por isso. Encosto a cabeça á parede e deixo-me escorregar parede abaixo. 7:45 Ouço o som de uma fechadura abrir-se e sinto um par de olhos sobre mim . Lentamente abro os meus olhos para encontrar um ser de olhos castanhos engravatado mesmo à minha frente. Ele pisca-me o olho, fecha a porta e continuaria para o elevador. Isto se eu não me alevanta-se tipo flecha e não fosse a correr atrás dele. Mas fui. Agarrei-lhe atrapalhadamente, fazendo o parar. Como ele nem se deu ao trabalho de olhar-me dei a volta ao seu corpo, parando à sua frente.

"Desculpe, pode ajudar-me?"

"Não me parece, tenho mais que fazer boneca" disse, tentando esquivar-se. Mas eu voltei a interferir, fazendo-o parar.

"Esqueci-me das chaves em casa, sabe como posso fazer para entrar?"

"Já ouviste falar em receção ou direção do apartamento ? É que eu não tenho cara disso." Disse seco, e continuo o seu caminho até ao elevador, deixando-me especada a fuzilar-lhe com o olhar.

Imbecil.



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