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Danielle pov

Acordo com uma dor de cabeça horrível, tento levantar-me mas uma enorme tontura faz-me esquecer esta ideia e voltar a deitar-me. O quarto encontra-se escuro e eu não sei se é o meu quarto, nem sei como aqui cheguei. Ouço o som de uma fechadura abrir e sinto alguém entrar no quarto. Nem me mexo, continuo com a minha cabeça enterrada na almofada, ignorando qualquer presença. Com o aumento de peso a cama desce e sinto umas mãos brincarem com o meu cabelo.
"Se és algum aproveitador ou estuprador de mulheres, põe-te a andar." falo através da almofada.
Ouço a gargalhada que conheço muito bem, fazendo-me perceber que era o estúpido do meu vizinho.
"Devia mesmo ter-te deixado podre de bêbada a fazer figuras à porta daquele bar." diz, fazendo-me erguer a cabeça de rompante e arrependo-me de imediato por as dores aumentarem consequentemente.
"Como assim fazer figuras?" pergunto, com medo do que poderia ser a resposta.
"Tu não te lembras de nada?" pergunta
"Nada." respondo, deixando a minha cabeça voltar a enterrar-se na almofada.
"Não te preocupes, para primeira bebedeira não fizeste nada assim tão mau."
"Como é que tu sabes?" questiono admirada, novamente através da almofada.
"Eu conheço uma primeira bebedeira de longe."
"Vai pastar." ouço-o rir e dou-lhe um chuto trapalhão na sua perna.
Rodo o meu corpo para o seu, faço um sorriso amarelo e ele deposita um beijo na minha bochecha.
Ele sai do quarto e volta com uma aspirina e um copo de água para as dores de cabeça. Não fiz mais nada durante este dia, não me apetecia comer, estava enjoada e sentia o meu estômago embrulhado. Passei-o na cama a preguiçar. Não tinha vontade de sair dali, por isso não o fiz. O que me vale é estar de férias. O Natal está quase, tenho adiado comprar os enfeites, mas tenho de os comprar amanhã ou depois de amanhã. Não posso adiar mais. O assunto de Cameron me ter gritado ontem vem-me à cabeça. Eu nem devia estar a falar com ele. Não consigo aguentar, e possivelmente estarei a criar mais problemas, mas não consigo parar-me.
"Porquê que me falaste daquela maneira, ontem?" pergunto a medo.
"Olha desculpa, ok? Não devia ter reagido daquela maneira, é um assunto difícil para mim e não me contive. Desculpa." responde, exatamente o que queria ouvir. Abraço o meu recente amigo e fixo o meu olhar nele.
"Desculpa, não devia ter tocado no assunto." é a minha vez de pedir desculpa. Ele assente e concentra-se novamente no filme que passava na televisão. Sinto-o puxar-me para cima do seu peito e sorriu, por mais vezes que ele repita o gesto nunca deixara de me fazer sorrir. Cameron às vezes pode ser rude, convencido, irresponsável, bipolar e estúpido, mas dentro daquela figura de pedra, está um coração de manteiga que o faz ser um homem querido, preocupado e respeitador.
Durante este tempo, conheci um Cameron totalmente diferente do que os restantes já vieram a conhecer. O sentimento por ele tem vindo a crescer cada vez mais, ele é o meu único amigo. Cameron é um rapaz lindo e atraente, um dia irá encontrar alguém que o fará feliz. Pergunto-me se durante todo este tempo, a minha mãe possa ter pensado em mim uma vez que seja. Ela continua sem ter notícias minhas, mas receio que algum dia ela venha a descobrir onde estou. Conheço-a tão bem ou melhor que ela própria e sei que só irá desistir quando me encontrar, para poder infernizar-me a vida.
Eu gostava que ela pará-se com isso, mas está longe disso. Ela já deve ter contactado algum detetive para encontrar-me. Mas desta vez eu não vou deixar que ela me faça o mal que ela me fazia. Ela tem uma fixação por me fazer sentir mal, que eu não compreendo, nem nunca hei de compreender. Eu nunca tive nem um pouco de respeito e nem de amor dela, sempre fui o brinquedo dela, e quando acabei com aquilo, ela não lidou bem. Muitos diriam que "Ce la vie", mas eu tenho a plena noção que a viver não é levar porrada e ouvir coisas que não se diz a ninguém.
Cameron remexe-se na cama, ele está desconfortável, quer perguntar-me ou dizer algo, mas tem receio.
"Passa-se alguma coisa?" pergunto encarando os seus lindos olhos cor de avelã.
"Hum, é que eu... Deixa esquece."
"Tens a certeza?"
"Não, mas às vezes é melhor estar calado do que dizer porcaria pela boca fora"
Não quis insistir, por isso levantei-me sem lhe dizer nada. Não por estar chateada, mas por já saber que se continuasse ali, ia acabar por insistir com ele, porque a minha curiosidade leva sempre a melhor, e a conversa podia não correr bem. Vou até à cozinha, e encosto-me na bancada a beber um copo de água, vejo Cameron aproximar-se de mim, o suficiente para os nossos corpos se juntarem e ele deixar um beijo na minha bochecha, enquanto segura a minha cintura. Ele não sai, nem deixa de me segurar, permanece ali a olhar-me nos olhos até decidir cortar o silêncio.
"Quando for a altura certa, eu conto-te o que ia dizer-te, okay?!" sorrio, e assinto.
"Ficas cá a dormir?"
"Sim, se não houver problema."
"Deixa de ser tola, se te convidei é porque não há problema. Vou encomendar pizza."
"Sim, claro. Ainda acabas gordo." digo um pouco mais alto por ele já não se encontrar na mesma divisão que eu.
Eu não sei se o que nós somos se designa de melhores amigos, mas tenho a certeza que mais que isso não somos.
Volto para a cama à espera de Cameron e da pizza que ele encomendou. A cama desce com o aumento de peso, comprovando que Cameron se juntara a mim.
"Chega dentro de 15 minutos." avisa, e deixa um beijo na minha bochecha.

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