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Danielle pov

Percebo que talvez não seja o momento certo, mas de certeza que silêncio não é todo a melhor resposta. Levanto-me da minha cama e saio do quarto, batendo com a porta. Fiquei quase 15 minutos à espera e nem uma resposta tive. Seria melhor ter qualquer resposta, fosse o que fosse. Eu acho que merecia no mínimo um "amigos" ou algo do género. Passei-me completamente, talvez esteja a exagerar, mas eu esperava algo. Sinto uma sensação esquisita, talvez seja o peso de ser rejeitada . Apoio as minhas mãos no balcão e baixo o meu rosto. Sinto umas mãos circularem a minha cintura e virarem-me de frente para o tronco da pessoa que menos queria ver agora. Viro o meu rosto para o lado, não quero olhar-lhe nos olhos.
"Olha para mim." pede, mas eu continuo sem lhe falar, nem mesmo olhar-lhe.
"Danielle, olha para mim." desta vez soa mais como uma ordem, mas eu não obedeço e continuo a olhar o vazio. Neste momento, eu nem quero olhar-lhe, mas ao mesmo tempo estou feliz por ele ter vindo atrás de mim. As suas mãos continuam na minha cintura.
"A sério que vais ficar assim comigo?"
"Podes ir-te embora." digo sem nunca olhar-lhe nos olhos. É tudo o que menos quero, mas sou teimosa e não vou admitir que não quero que ele vá. Porque eu não quero mas a parte de mim que mais odeio, não o permite.
"Tens a certeza que é isso que queres?" pergunta, sinto os seus olhos em mim, mas não correspondo ao olhar.
"Sim, vai." sussurro, as palavras saiem com alguma dificuldade, mas lá acabam por sair.
"Então olha-me nos olhos e diz-me isso." encaro-o e tento ao máximo dizer-lhe que quero que ele saia, mas não sou capaz. Não quando estes lindos olhos de cor de avelã me observam atentamente à espera de uma resposta.
"Deixa-me apenas explicar. Eu não quis ficar em silêncio. Eu apenas estou confuso."
"Porquê?"
"Olha porque eu nunca tive uma namorada, foi sempre curtir com várias. Eu apenas parti muitos corações. Eu não sei como amar-te e fazer-te feliz. E é o que mais mereces. Porque és a pessoa que eu mais quero ver feliz. E quero ser eu a fazer-te feliz, mas não sei como. Desculpa por não ser aquilo que tu esperas."
"Mas eu também não sei. Eu nunca amei ninguém, nem nunca fui amada. Tu sabes o que é ser amado, eu não. Fui sempre só eu. Sozinha." respondo e baixo o olhar. Uma das suas mãos sobe até ao meu rosto e eleva-o até ficarmos olhos nos olhos, novamente.
"Desculpa-me, eu estou confuso."
"Mas eu também não pedi para sermos namorados. Eu só queria uma resposta. Uma certeza para não esperar mais. Porque eu também não sei o que sinto, eu também estou confusa. Eu quero só uma resposta, para tentar impedir-me de querer ser mais do que isso." digo, observando os seus olhos.
Ele parece ponderar por algum tempo, mas parece perder-se em pensamentos e não recebo nenhuma resposta. É assim tão difícil, dizer-me para que sejamos apenas amigas, por muito que a esta altura vá doer, é o melhor e eu não me quero iludir. Eu não quero apaixonar-me pela pessoa errada. Se o sentimento não for mútuo, é melhor deixar-me estar no meu canto. Saio dos seus braços e dirijo-me de novo ao meu quarto . Mal entro neste sou encostada à parede. As suas mãos permanecem junto da minha cabeça, não permitindo qualquer fuga minha. Utilizo o mesmo truque de à bocado e olho o vazio.
"Vais continuar a ignorar-me?"
Não repondo à primeira, mas quando ele volta a insistir acabo por ceder.
"Então? Responde-me. Vais continuar a ignorar-me?"
"Sim, enquanto não decidires se queres ser meu amigo ou algo mais, dou a nossa relação por acabada. Não vou estar a alimentar uma coisa que não existirá e tu arranja outra bonequinha para brincares, porque eu não vou jogar mais aos teus jogos mentais." respondo sem nunca tirar os olhos da televisão que estava em frente da cama. Ele permanece sério a olhar-me, até cortar o silêncio extenuante que nos envolvia.
"É esta a tua perceção do "nós"?"
"Não há "nós". Ainda não percebeste, eramos apenas amigos." digo, olhando finalmente nos seus olhos.
"Eramos? Amigos não dormem juntos, nem passam quase 24h por dia juntos. Não percebes? Nós temos química, algo mais que amizade."
"Sim , eramos. Prefiro cortar o mal pela raiz." digo não sendo sincera e desviando o meu olhar do seu. Vai custar. É verdade passavamos demasiado tempo juntos para agora cortar de vez. Mas tem de ser, estou a perder-me cada vez mais nele. Estou a sentir coisas que nem sei distinguir. Ele é a minha fraqueza, já não há volta a dar. Se ele tivesse ficado na cama, eu tinha acabado por esquecer a estúpida ideia e teria voltado. Mas agora ele piorou a situação. Eu não quero estar em algo que não posso localizar, tem de ser algo constante. Eu preciso de algo constante na minha vida, tem de assentar.
"Por favor, se já acabaste, sai." digo sem emoção nenhuma na voz. Ele parece não desistir e permanece a olhar-me, intensamente. Aproveito para capturar cada parte do seu rosto. Do seu lindo cabelo, às suas sobrancelhas perfeitas. Dos seus olhos avelã, aos seus lábios carnudos. Tudo nele é perfeito.
"Porque é que estás a complicar tanto?" questiona com um ar triste.
"Não estou a complicar, apenas estou a facilitar para mais tarde não ser mais difícil."
"Não, mas eu não quero saber de mais tarde. Eu quero-te na minha vida." sinto-me à beira das lágrimas, ou isto acaba agora ou vou acabar por ceder. "Se não significar nada para ti, eu juro que vou e não volto." diz e aproxima cada vez mais os seus lábios dos meus.

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