capítulo nove.

607 63 7
                                    

S/n:

Desço a escada de pedra em espiral da Catedral do Aprendizado, desviando de alunos e sorrindo para meu “celular ferrado”, no qual se encontra o contato de Hailee Steinfeld.

Vai ser moleza.

Ajudo Hailee a ficar com Cora, por puro altruísmo. Mostro para Natalie que sou praticamente a Madre Teresa, em vez de uma escrota sem disponibilidade emocional e incapaz de me aproximar de outras pessoas. Ela fica com a garota. A gente volta. Todo mundo sai ganhando.

Assobiando, saio do prédio e viro a cabeça de um lado para o outro, tentando me localizar, procurando algum lugar para começar a me candidatar a alguns empregos antes da aula de química, para conseguir pagar o mês de aluguel que acabei de gastar em livros didáticos.

Mas não reconheço nada.

Aperto os olhos. Árvores altas. Fontezinha esquisita. Parque de grama do outro lado da rua, cheio de universitários pegando sol.

Parece a melhor opção.

Dou de ombros e sigo para lá, o celular vibrando ruidosamente na minha mão. Quando o olho, vejo uma ligação da minha mãe piscando na tela rachada.

Ela nunca liga.

A não ser que tenha algo de errado. E não tive notícia nenhuma dela ontem.

Como sempre acontece nesses momentos, sinto o estômago afundar, e aceito a chamada.

— Mãe? Está tudo bem…

— S/nn — diz ela, arrastando a voz alegre, me interrompendo. — Como vai a faculdade? Suas… aulas. Tudo bem?

Afasto o celular da orelha para ver a hora. Não são nem dez da manhã.

Nada aconteceu, mas ainda tem algo errado.

Ela está de porre numa manhã de segunda. Que maravilha.
Ainda assim, é bom fingir, por um segundo, que ela só ligou para saber de mim. Como se eu fosse criança de novo, e fôssemos próximas como éramos, e ela tivesse mesmo interesse em saber como estou, em vez de só pensar na próxima bebida. Solto um suspiro e chuto o meio-fio, esperando o sinal abrir.

— Tudo. Tive minha primeira aula agora. Tá sendo bem legal…

— Apartamento! Como é sua colega? — pergunta ela, claramente tentando avançar a conversa para chegar ao motivo real da ligação.

A ilusão evapora.

Estico o pescoço para olhar para a Catedral do Aprendizado, apertando os olhos contra o sol.

— Não tão legal — digo, com uma careta. — Mas tudo bem. Tenho tentado ficar ocupada. Fora de casa.

Olho para a rua e vejo o sinal indicando para atravessar, enquanto o silêncio se estende do outro lado. Ela não tem mais perguntas. É melhor acabar com isso logo.

— E aí, mãe? Por que ligou?

Ela passa um tempo em silêncio, preparando o discurso.

— Escuta, meu bem — diz.

Eu circulo devagar pelo parque, vendo universitários deitados em cangas coloridas ou chutando bolas de futebol, se agarrando aos últimos dias de verão. Queria ser um deles, em vez de lidar com o que quer que isso seja.

— Eu ia ao mercado hoje à tarde e… — continua — acho que não tenho dinheiro para nada além de ovo e leite.

Além de uma garrafinha de vodca, quero dizer, mas aperto os lábios, esperando um momento para responder.

Ela Fica Com A Garota • Hailee Steinfeld and YouOnde histórias criam vida. Descubra agora