capítulo dezenove.

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S/n:

Ziguezagueio pelas colinas sinuosas de Lawrenceville e voo pela rua Butler, antes de cruzar a ponte até Sharpsburg, enquanto o celular no meu bolso vai me explicando o trajeto até a Hitchhiker Brewing.

Estou cheia.

Comi muitas palachinkas. Hailee estava certa. Depois de cobri-las com a geleia caseira de morango da mãe dela, já era. Açucaradas e deliciosas, a massa fina e quente quase doce. Que nem crepes, mas… melhor.

Reconheço a chaminé alta da Hitchhiker Brewing das imagens que encontrei no Google, um resquício da época em que era uma fábrica. Faço uma curva para a esquerda e paro bem na frente antes de sair da bicicleta, o GPS do celular exclamando “Você chegou ao seu destino!”.

Jim ainda não chegou. Faz sentido. Hailee praticamente me empurrou porta afora para eu não me atrasar, e desci as colinas de Lawrenceville bem rápido, pensando em ligar para a Natalie pelo caminho todo. Meus olhos ainda estão ardendo do vento.

Eu me sento no meio-fio e, tendo um pouco de tempo livre, aperto o botão de ligar logo abaixo do nome dela. Como Nat dorme até tarde, eu não pude ligar de manhã, e vou ficar ocupada no trabalho até tarde, então agora é a hora perfeita.

Além do mais, as palachinkas me lembraram das panquecas que comíamos na lanchonete, e passei o trajeto de bicicleta ainda mais animada para ouvir a voz dela.

Prendo a respiração quando o telefone toca. Uma vez. Duas vezes.

— S/n? — diz, ao atender.

Fico de pé em um pulo ao ouvir a voz dela, mas não soa tão animada quanto eu esperava. Nervosa, caminho pela calçada esburacada que ladeia o estacionamento. Ouço vozes abafadas ao fundo, o som de um baixo tocando
algumas notas.

— Oi, amor! Como vai?

— Por que você tá me ligando agora? — pergunta ela, e franzo a testa, confusa.

Afasto o celular do ouvido e olho para a tela por um segundo antes de voltar a falar.

— Você pediu para eu ligar.

Ontem? Quando eu estava tomando iogurte? Tinha até um coraçãozinho.

— É — diz. — Mas não agora. Tenho show hoje. Preciso me preparar.

E lá se foi a hora perfeita para telefonar.

— Eu sei. Em Kansas City — digo, fazendo um cálculo de cabeça. — Não começa só daqui a umas seis horas?

Não tem jeito nenhum de ela precisar “se preparar” por seis horas. Até porque eu sei que ela não ajuda a carregar nada do equipamento.

Natalie solta um suspiro demorado.

— As coisas são diferentes na estrada, S/n. Você não entenderia.

As vozes abafadas no fundo somem quando ela vai para um lugar mais silencioso.

— Mas acho que a gente pode conversar agora, se for bom para você — diz.

— Se você não puder, tudo…

— Não, não. Está tranquilo — diz. — Como você anda?

— Arranjei um trabalho em um food truck. Tem sido legal. Boas gorjetas.

Tudo em espécie. Estou esperando meu turno começar.

Chuto uma pedrinha no chão e a vejo quicar rua abaixo.

— Ah. Legal.

Ela não faz mais nenhuma pergunta, e o silêncio que se segue é ensurdecedor. Então eu decido perguntar:

Ela Fica Com A Garota • Hailee Steinfeld and YouOnde histórias criam vida. Descubra agora