Hailee:
A casa de shows é pequena. Tem espaço para umas cem pessoas, no máximo, entre o tablado e um bar grande e retangular no fundo do prédio.
Luzes antigas pendem de correntes compridas do teto abobadado, e janelas opacas em arco cobrem as duas paredes. Parece uma igreja transformada.
— A banda é muito boa! — grita Cora no meu ouvido, em meio ao estrépito dos alto-falantes, o pé esbarrando de leve no meu no chão preto e lustroso.
Sorrio e faço que sim com a cabeça, entusiasmada, mas estou tão distraída que não prestei atenção a uma música sequer.
Distraída por S/n, do meu outro lado.
Distraída por ela ter me ignorado a noite toda, exceto quando confirmou que vou contar para a Natalie tudo que ela fez por mim.
Distraída pelo fato de que a atenção dela está grudada em Natalie, no palco, há meia hora, e pelo jeito que Natalie a olha. Como se cada verso que cantasse fosse só para os ouvidos de S/n. Como se só existissem elas
naquela sala.Tomo um gole de Sprite e olho de relance para Cora.
Ela está usando um lindo vestido azul com flores amarelas, que sobe até as coxas quando ela pula, dançando no ritmo da música. A boca foi perfeitamente delineada com batom vermelho, e o minúsculo brilhante no nariz cintila sob os holofotes.
Ela vê que estou encarando, mas não para de dançar.
Só sorri, aquele sorriso enorme e luminoso, pelo qual estou apaixonada desde o nono ano.
É um sorriso que me sacode, me acorda e me lembra que estou aqui com Cora Myers, a garota dos meus sonhos.
— Estou muito feliz por você ter vindo, Cora — digo, o coração martelando.
— Bom, você demorou bastante para me chamar — provoca ela. — Apesar de, tecnicamente, eu ter convidado você, né.
— Bom, tecnicamente, a gente estaria estudando para a prova de biologia agora, se eu não tivesse falado do show, então…
Dou de ombros, de brincadeira. Sinto o nervosismo subir, mas é diferente daquela noite na festa, quando eu mal conseguia olhar para ela.
Não estou nervosa porque acho que vou fazer besteira.
Acho que estou nervosa porque talvez isso funcione.
Talvez eu possa mesmo ficar com a garota dos meus
sonhos.— Verdade — concede. — Então, acho que estou feliz por você ter me chamado. Muito feliz.
Ela bate com o copo de refrigerante no meu, e nós duas tomamos um gole enquanto uma salva de palmas percorre a plateia. Alex olha para mim por um segundo, antes de voltar a concentrar sua atenção no palco. Natalie sopra beijos para o público, e S/n assobia alto, com dois dedos na boca,
enquanto a banda sai.Uns dois minutos depois, S/n acena para alguém, mas não enxergo quem, por causa da multidão. Até que Natalie aparece, vindo na nossa direção e passando por algumas pessoas que apontam para ela, cochichando entre si.
Quando a vejo se aproximar de S/n, me pergunto se elas vão se beijar.
Faz quase um mês que não se veem, afinal. Mas elas não se beijam, e suspiro, aliviada. Em vez disso, S/n puxa Natalie para um abraço apertado, cochichando algo no ouvido dela.
Desvio o rosto, me virando para o bar, que está lotado de gente tentando comprar bebida antes da banda principal
subir ao palco.— O que vocês acharam? — pergunta S/n, abrindo espaço para incluir Cora e eu.
— Você foi incrível! — diz Cora para Natalie. — Eu não fazia ideia que a S/n namorava uma estrela do rock.
Vejo S/n ficar fisicamente tensa ao ouvir aquilo. Eu me pergunto se é por ter medo de que Natalie ache que S/n não falou o suficiente dela, sua namorada.
— É, bom… — diz Natalie, jogando o cabelo preto comprido por cima do ombro, piscando os cílios cobertos de rímel —
… ela é uma moça de sorte.S/n relaxa um pouco, e é muito estranho vê-la nervosa. É só que… não é a cara dela.
Mas imagino que elas tenham resolvido as complicações, ou não estariam ali.
— Ei, amor, pega uma água para mim — diz Natalie para S/n, como se nem fosse uma pergunta.
— Claro — diz S/n. — Já volto.
— Vou junto — diz Cora, levantando o copo vazio. — Hailee, quer um refil?
— Não, estou bem. Obrigada.
Sacudo a cabeça, e S/n me olha atentamente antes das duas sumirem na multidão, me deixando com Natalie. Sozinha com ela, sinto a ansiedade voltar, deixando meu peito apertado. Mas penso em S/n e, apesar de ela estar esquisita essa noite, devo isso a ela.
— Oi, me chamo Hailee, prazer — digo, esticando a mão.
Natalie aperta minha mão depois de hesitar por dois segundos, em que me analisa. Sinto aquele suor conhecido me cobrir. É só insistir, Molly.
— A S/n é mesmo incrível. Ela tem me ajudado muito — digo, me preparando para contar como ela me ajudou a sair com a Cora hoje, que ela é uma pessoa diferente da garota que Natalie deixou na Filadélfia. — Esse último mês todo, a gente…
Natalie me interrompe, bufando com desdém, e revira os olhos.
Paro de falar e olho para ela, confusa.
— Não comece a achar que é especial — diz. — É óbvio que você é um cachorrinho perdido, querendo atenção. E S/n dá atenção para qualquer um, por um tempo. É assim que ela é.
Dou um passo para trás quando ela me encara, fazendo eu me sentir pequena, como eu era antes de vir para cá, antes de conhecer S/n. Por mais que eu queira defender minha amiga, dizer para Natalie que ela nem merece estar na vida de S/n…
Eu só… não consigo.
S/n e Cora chegam com as bebidas.
— Falaram muito de mim? — pergunta S/n, me olhando diretamente.
Dou um passo para trás, relaxando os dedos.
— Só coisas boas — diz Natalie, abraçando bem a cintura de S/n com a mão, e dá um beijo no pescoço dela. — Não foi, Hailee? — pergunta, me fuzilando com o olhar através do pequeno círculo.
Encaro ela de volta por um momento, tentando pensar em uma resposta, mas, em vez disso, só assinto.
— Já volto — digo, evitando o olhar de Cora e correndo na direção do banheiro, pegando o celular enquanto me esgueiro pelas aberturas na multidão, meu sangue praticamente fervendo.
Me encontra no banheiro, mando para S/n, e espero.
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Ela Fica Com A Garota • Hailee Steinfeld and You
RomanceUm romance leve sobre duas meninas com vidas totalmente diferentes que se conhecem na faculdade e, sem perceber, criam uma relação de respeito e apoio mútuo S/n Blackwood é teimosia com uma pitada de caos e uma boa dose de flerte. Ela sabe como fica...