capítulo trinta e cinco.

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S/n:

Chego a Pittsburgh no fim da tarde de sexta-feira, quando o sol já está baixo no horizonte.

Agora que não tenho que passar todo minuto preocupada com minha mãe, passei a viagem olhando pela janela,
pensando, bem… na Hailee.

Em como ela é a única que entenderia a importância do que aconteceu.

O significado que ontem teve para mim. Na diferença que fez compartilhar essa parte minha com ela, naquela noite na biblioteca.

Se finalmente consegui confrontar minha mãe e contar como me sinto, posso fazer o mesmo com a Hailee.

Mesmo que ela esteja com a Cora e eu tenha perdido minha chance — se é que já tive alguma —, devo um pedido de desculpas por ter magoado ela e mentido. Porque ela também é a melhor amiga que já tive.

E, se não puder ter mais que isso, pelo menos talvez possa reconquistar a confiança dela e ter a amizade de volta.

Quando Jim me deixa em casa, abro o story que ela postou no Instagram duas horas atrás e vejo um boomerang de Griffin com um pedaço enorme de pizza, na cozinha em que fizemos palachinkas.

Ela está na casa do Griffin.

Então, mesmo que tudo que eu queira seja me largar na cama, acabo ziguezagueando pelas ruas de bicicleta, o vento ardendo em meus olhos quando viro as curvas, as placas verdes das ruas virando borrões enquanto voo por elas.

Antes mesmo de notar, entro na rua Mintwood, freando com a sola do All Star no asfalto e olhando para a casa branca torta na esquina.

Não notei quanta saudade estava sentindo até agora.

Pego o celular para ligar para ela, mas, assim que clico no botão verde, a tela apaga, a bateria completamente esgotada por causa da noite passada viajando pela Pensilvânia.

Solto um suspiro longo e devagar.

Sei que é uma desculpa. Sei que posso fugir.

Mas não quero.

Encosto a bicicleta na escada e subo devagar até a porta. Fecho a mão em punho e estico o braço, hesitante, antes de bater de leve.

Acho que não respiro até a porta se escancarar, e meu coração dá um pulo no peito quando…

Griffin aparece.

— S/n! Oi — diz ele, se encostando na porta, e apontando para a casa. — Hailee não está.

— Ah — digo, engolindo em seco e assentindo. — Você… por acaso sabe onde posso encontrá-la?

— Ela acabou de sair para um rolê no museu de arte.

Ele hesita e desvia o olhar do meu, coçando a nuca, como se
soubesse o quanto a próxima parte vai doer.

— Com a Cora — acrescenta.

Mesmo que eu devesse esperar isso, ainda perco o fôlego.

— Saquei! Claro. Pois é — consigo dizer, minha mão encontrando o corrimão de metal frio enquanto eu desço um degrau, tropeçando. — Hm, valeu, Griffin. Eu na real tenho que…

Aponto para trás, deixando a frase no meio.

Eu me viro, quase mecanicamente, e desço até a bicicleta, fazendo muito esforço para manter a compostura.

— S/n! — chama ele, de trás de mim.

Olho para trás, e ele desce correndo os degraus da entrada, parando bem na minha frente.

— Eu… eu amo minha irmã — diz, olhando para mim com um sorrisinho. — Fiquei um pouco preocupado quando vi que deram um quarto individual para ela. Com medo de ela ter dificuldade para fazer amizade. De ser igual à escola de novo — continua, levando uma mão ao meu ombro. — Mas não estou mais preocupado. Ela finalmente está
descobrindo quem é, e acho que tem dedo seu nisso. Então… obrigado.

Olho para baixo, dando um chute leve no último degrau.

— Bom, agora ela tem a Cora.

Ele dá de ombros.

— É, talvez. Mas não significa que não sinta saudade de você.

É, claro. Lágrimas ardem nos meus olhos, e pego a bicicleta, subindo nela em um pulo, e pedalo rua abaixo sem dizer
mais uma palavra.

Minhas pernas ardem subindo a colina e atravessando a ponte para Oakland, meu peito arfa enquanto pedalo o mais rápido que consigo, voando por ruelas e curvas.

A gente não precisa fingir que se importa uma com a outra.

Mas não era fingimento. Não dá para fingir sentir o que senti com ela. Já tentei.

Aperto o freio com tudo quando o sinal à minha frente pisca para o vermelho, a parte do trajeto pela qual mais queria passar rápido.

O Museu de Arte Carnegie é imenso e, bem do meu lado, consome completamente minha visão periférica.

Eu devia ter só furado o sinal.

Viro a cabeça e vejo uma fila de alguns poucos universitários lá dentro, visível pelas janelas de vidro enormes. Ternos pretos e vestidos compridos e coloridos, bebidas nas mãos, sorrisos no rosto.

Quero entrar. Encontrar Hailee. Mas seria egoísta. Quero conversar com ela, mas não estragar sua noite. Sei que um evento desses só pode acabar juntando as duas.

Ainda assim, parte de mim está procurando por ela.

Querendo vê-la passar em um vestido preto comprido, jogando a cabeça para trás de tanto rir, bem ao lado de Cora. Querendo só vê-la feliz, completamente genuína.

E amá-la o suficiente para que seja Cora a fazer ela se sentir assim, em vez de mim.

Amá-la.

A conclusão me assusta mais do que a buzina do carro atrás de mim.

Quase caio da bicicleta quando volto à realidade. O sinal à minha frente nitidamente voltou ao verde, sem que eu notasse.

Aceno com um pedido de desculpas e desço a rua até a calçada, estacionando no bicicletário na frente da biblioteca.

Não posso voltar para o apartamento. Ainda não. Vou até a entrada e respiro fundo ao abrir a porta, subindo as escadas e atravessando as fileiras até o lugar ao qual fui com Hailee, o cheiro de papel e encadernação velhos enchendo as narinas enquanto desço devagar até o chão.

Fecho os olhos e encosto a cabeça na estante, deixando o silêncio me envolver.

Penso na minha mãe, lá em Erie, finalmente recebendo a ajuda de que precisa, depois de tanto tempo. Na Hailee, a poucas portas daqui, provavelmente de mãos dadas com Cora, como esteve comigo naquela noite na pista de patinação.

A biblioteca era o lugar de silenciar a dor e a mágoa, de fugir disso tudo, mas agora… parece o lugar para me permitir sentir. Para deixar a barragem estourar.

Abraço os joelhos contra o peito, e as lágrimas que seguro desde que cheguei a Pittsburgh finalmente começam a cair.

Ela Fica Com A Garota • Hailee Steinfeld and YouOnde histórias criam vida. Descubra agora