014: Quarentena.- 2020.

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Isabelle Borges
Julho, 12:32

Quando minha aula acaba, eu desligo meu computador e o ponho na mesinha de Savio.

Com toda essa loucura de quarentena, eu e o Cleriton decidimos passar juntos. Agora estamos aqui em Jacobina.

Esse lugar 'tá uma paz.

Logo voltando minha atenção para ele.

— Pronto?– Ele diz, rindo.– Posso voltar a te beijar, já?!

Meu namorado nem espera uma resposta, ele só ataca meus lábios mesmo.

O beijo não dura muito já que ele sela nossos lábios.

— Tenho uma novidade 'pra te contar.– Sávio faz suspense.

— O que?!

— Tá ligada no Matuê?

— Óbvio, né.

— Eu tinha escrito M4, né?– Ele continua, e eu assinto.– Eu chamei ele 'pra participar, e ele topou!

— Mentira!– Levo minhas mãos a boca.– Parabéns, vida!– Dou um abraço no meu namorado.

Caralho, é muito importante 'pra carreira dele.

É a porra do Matue, mano!

— Tô felizão, vida.– Sávio diz, se sentando em frente seu pc.

— E é pra estar mesmo. Ele vai te mandar a parte dele ou você vai fazer?– Questiono, pegando uma seda, e um saquinho com ganja.

— Ele disse que vai me mandar... inclusive tá aqui, acabou de mandar.

— Eai?! Coloca aí!– Digo, concentrada enquanto bolo o baseado.

— Vou por.

Me sento em seu colo.

Meu namorado entra em um arquivo enviado para ele, e aumenta um pouco o som, enquanto eu passo a língua pela seda.

Quando eu termino de bolar o baseado, o Sávio aperta o play.

O som já começou naquele refrãozinho que eu já conhecia, porque ele tinha me mostrado antes.

Como essa é a guia, é perceptível que ainda falta algumas coisas nesse som, mas que eu sei que vão entrar uma hora ou outra.

Franzi o cenho quando ele simula um vômito e depois... come ele?

Quando eu ouvi a guia, não tinha essa bomba não.

Faço uma anotação mental para perguntar o que ele quis fazer com isso, e eu pego o isqueiro, acendendo o baseado, e levando até minha boca, quando a parte do Tue começa.

"E duas Mac-10 com o pente estendido
Quiser bater de frente, fica estendido
Tentar me atravessar, tu tá fudido
Eu vou te dar logo um novo umbigo"

Okay... o Matue já chegou de um jeito bem daora.

"Tu não é de gang, mano
Mas sou violento e tenho grana
Ele vai virar um animal
Vejo as dona de casa passar mal
Tô com a Draco na minha mochila"

"Rapariga esperando por mim
Milhares de fãs que gritam meu nome
Eles querem mais do Tuêzin"

CARALHO, eu amei essa parte! Eu sinto que ainda vou gritar muito: "eles querem mais do Tuêzin".

"Arranca um pedaço dessa minha vida louca
Lean não é vício pra mim
Inveja dinheiro e vivência pra mim
Tudo que é bom tem algo ruim
Mantenho a consciência, manin"

Gostei 'pra caralho desse verso.

"Tudo azul
Carro faz vrum
Bala na mente (bala)
Ouro no dente
Sou milionário
Extraordinário"

Esses dois cantando esse refrão juntos. Meu Deus.

"Te ganhei, otário (uh, uh, uh, uh)
Wow, wow, wow
Teto que gira esse din (ah)"

— Eai?– Sávio questiona, animado.

— Eu amei! Estou muito orgulhosa.– Selo nossos lábios, e entrego o baseado para ele.

— Mano, eu curti tanto esse som, bê, ele está incrível. Mês que vem eu vou 'pra fortal gravar esse som com o Matue. O Matue, mano!– Sávio dá um trago.

— E tu vai gravar no estúdio da trinta?

— Vou, bichinha! E você vai vir comigo.

— Eu?!

(...)
Um mês depois.

— Nunca tinha vindo 'pra fortaleza.

É, eu vim.

— Aqui é lindão.– Meu namorado sorri.

— E calor, né?– Luiza diz.

Sim, meus empresários estão aqui!

Depois de Fortal, eu vou voltar a São Paulo.
Tô meio triste, amo estar em Jacobina, foram incríveis cinco meses. Mas eu também preciso voltar a trabalhar.

— Eu passei quatro meses na Bahia, eu até me acostumei.– Digo, e eles riem.

Saímos do carro, e Marcos aperta a campainha do estúdio.

Então, a porta é aberta por uma garota loira.

— Eai, gente! Entrem aí.– Ela sorri quando entramos.– Eu sou a Clara, prazer!

— Eu sou o Teto, 'cê sabe, né?– O baiano ri, tímido.

— Eu sou a Krait, mas pode me chamar de Isa, como você preferir.

— E eu sou a Luiza e ele o Marcos, somo empresários da Isabelle, e o Marcos agora está empresariando o Teto também.

— Fiquem à vontade.

Nós vamos adentrando o local e damosee de cara com ele.

Matuê.

— Eai, vetin!– Tuê exclama.

— Meu Deus.– Sávio mormura para mim.– Eai, viado!– Eles fazem um aperto de mão.

— Krait! Eai, tudo certo?– Ele me dá um abraço.

— Tudo ótimo!

— Pô, mano, curto muito teu trampo.

— Valeu, Tuê! 'Cê também tem um trabalho foda.

— Eai, gente – O dono da 30 comprimenta meus empresários.– Vamos gravar, Teto?

— Bora!

— E vocês são os empresários, não é?– Clara diz, simpática.– É ali naquela sala para acertar as coisas.

Maktub, sinônimo do destino.- Teto.Onde histórias criam vida. Descubra agora