013: Poesia acústica #6, pra sempre.- 2020.

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Isabelle Borges
Fevereiro, 23:49

Pra que eu fui inventar?

Era para eu e Sávio cantarmos aqui em uma cidade do Rio de Janeiro.

Mas começou a sair na previsão que ia ter uma chuva feiona.

Vários artistas cancelaram o show, pelo perigo de ficarem ilhados. Mas eu e Sávio batemos pernas falando que queríamos fazer o show.

Tinha que ser.

Agora sabe onde estamos? Ccom a van Ilhados na puta que o pariu, em uma cidade que ninguém nunca tinha ouvido falar.

— Eu vou matar vocês dois!– Minha empresária exclama, enquanto eu e meu namorado nos encolhemos no banco.

— A gente avisou!– Marcos diz, olhando pela pequena janela, vendo que a água só estava subindo.– Por que a gente foi inventar de escutar uma adolescente de dezesseis anos, hein?!

— Ei!– Protesto.– Eu ainda estou aqui!

— Ah, mas eu sei muito bem.– Luiza diz, com uma veia saltando de suas têmporas.

— A gente foi muito burro.– Sávio sussurra para mim, rindo.

— Por que nenhum de nós dois pensa um pouco?!– Choramingo sobre os ombros do meu namorado.

O celular de Luiza começa a tocar do meu lado, e eu entrego para lado.

Vejo o nome de Thalita no chamador.

Ela é a assistência dos meus empresários, e está na outra van atrás de nós com o resto da equipe.

Que equipe?! Minha e do Sávio.
A van dele é a atrás de nós, mas ele quis vir na minha van comigo.

Aí o Marcos mandou a Thalita para a van do meu namorado para facilitar a comunicação.

— Alô, Siqueira?– Luiza diz, ao atender o telefone no viva-voz.

— Então... péssima notícia.

— Aí, meu Deus.– Marcos mormura, passando a mão pelo cabelo.

— Fala, Thalita.– Luiza pede, e eu e o Sávio prestamos atenção na conversa alheia deles.

— Vamos precisar abandonar a van. A água tá subindo muito. É melhor sairmos agora, e procurarmos lugar para passar a... noite.– A mulher diz em um tom de dúvida ao falar da noite, já que está quase amanhecendo.

— Você está ouvindo, né, Isabelle?!– Luiza diz como uma mãe, e escuto me tremendo toda, já que considero a empresária minha segunda mãe de fato.– Olha, se amanhã a gente não estiver em são Paulo, para você conseguir gravar a poesia seis, eu...

— Poesia seis?!– Meu namorado questiona, franzindo o cenho, e eu bato a mão na testa.

— Era surpresa, Luiza!– Eu e o Marcos exclamamos em um unisso.

— Aí, foi mal!– Ela leva as mãos a boca.– Esqueci, tava nervosa.

— Surpresa, bê!– Viro o rosto para Sávio.

— Você vai cantar poesia, sereia?– Ele questiona, se animando, e eu assinto.– Parabéns, preta! Você merece!

(...)

Caramba, eu estou no estúdio para gravar poesia seis!

O lado bom? Eu vou gravar poesia acústica.

O lado ruim?

Felipe Ret também está aqui.

Não sou a maior simpatizante dele. Depois que nós brigamos no rap in cena 2019, toda vez que nos encontramos é problema.

Que cara insuportável!

E eu fui descobrir que ele tem trinta e quatro anos. Um 'vei perrequeiro desse, mano.

— Se você arrumar confusão, eu te mato.– Cabelinho mormura para mim, quando eu reviro os olhos para algo que Ret disse.

— Fala isso para ele, Victor. Fala para ele não tirar uma com a minha cara, né.

— Olha, 'relaxaaa– Meu amigo balança meus ombros.– 'Tamo no poesia, porra!

— Jae.– Dou um sorriso.

— Krait!– O produtor me chama.

— Oi?

— A parte do Ret vai vir depois da sua, falou?

— O que?!– Eu e ele dizemos em um unisso.

— Por que?– Ret questiona, franzindo o cenho.

— As partes de vocês casam bem. Pode ser?

— Fazer o que, né?– Mormuro para mim mesma.– Pode ser!– Digo em voz alta dessa vez.

— Então, vem, é a sua vez.

Eu me levanto, e entro na cabine.

Eu encaixo os fones de ouvido em minha cabeça, e quando eu vejo o sinal de positivo, e a melodia andando, eu começo a cantar.

"Vou descer, vou dançar
Me esquecer
Do meu próprio valor
Não me importo com a dor
De viver sem você
Sem você, sem amor..."

"Eu com toda essa estrada que não tem saída
Narrando a história que fala de nós
Contigo eu tô tentando arrumar minha vida
Bagunçando ela embaixo dos lençóis
Eu sei que a gente não se dá tão bem
Mas se eu te ligar, sei que tu vem"

"E se quiser ficar com outro alguém
Por mim tá tudo bem
Segue o baile, vai
Segue o baile, vai
Não somos obrigados a voltar atrás
Segue o baile, vai
Segue o baile, vai"

"Eu não vou te esquecer
Mas não trago comigo
Vai dar merda de novo
Vamo correr perigo
Escondido é gostoso
Mas somos só amigos
E quando amanhecer
Baby, eu não, eu não vou tá contigo"

Então, quando eu acabo, eu tiro os fones, e saio da cabine.

— Caralho, foda, Isa!– Cabelinho exclama.

— Ficou brabão mermo!– Xamã concorda, sorrindo.

— Ixi– Ret engata.– Veio 'pro poesia e escreveu isso? Problemas no paraíso, Krait?!

— Cala a boca, Ret.– Reviro os olhos.– Não abre a boca 'pra falar do meu namorado. Eu só não escrevo love, falou? Pode ficar em paz, que do meu relacionados cuido eu, e eu cuido muito bem. Agora vai lá cantar a sua parte.– Digo, e ele sai de perto.

— Caralho.– Xamã diz.

— Nunca vi tanto ódio em uma pessoa só.– Cabelinho ri.

— Fico puta se mete o Tete no meio.

— Qual o nome do Teto?– Xamã questiona.

— Ele só usa o nome artístico dele.– Digo dando um risinho.

— O moleque vai estourar uma hora, tenho certeza– Cabelinho engata.– Ai eu quero ver ninguém descobrir o nome dele.– Victor diz, e eu daquele jeitão dele.

'Êêê, Clériton Sávio.

Maktub, sinônimo do destino.- Teto.Onde histórias criam vida. Descubra agora