Isabelle Borges
Junho, 19:19• gravação iniciada: 20:17:34 — (19/11/2011)
"Vai, filha! Fala o que você estava falando!", Meu pai diz, risonho, com a câmera de baixa qualidade apontada para mim.
"Eu disse que quando eu for maior, bem grande mesmo, eu vou cantar em um palco com os racionais!", Digo, dando pequenos pulos.
"Preto! Para de ficar alimentando essa ideia 'pra menina!", a câmera foca na minha mãe, que entra na nossa pequena casa, com os olhos em meu pai, "Filha, eu sei que a gente gosta demais dos racionais, mas eles são 'muitooo famosos. A gente não tem dinheiro nem 'pra ver eles cantaram, quem dirá para estar em cima de um palco, xuxu."
"Mamãe, já te falei que eu vou ser uma cantora bem famosa, juro! E aí eles vão me conhecer.", digo para a mais velha, entediada, como se eu já tivesse repetido isso umas cinquenta vezes. E tinha mesmo.
"Meu amorzinho", minha mãe se agacha perto de mim, e meu pai continua gravando. Visivelmente dá para ver nosso barraco quase caindo aos pedaços, "A gente infelizmente, não pode sonhar assim, precisa trabalhar e ralar muito.", Minha mãe acaricia minha pele negra, como a dela.
"Canta 'pra sua mãe, 'fia...", minha avó diz, adentrando o local, "Eu sempre fui um sonhador, e é isso que me mantém vivo!" A câmera foca bem no sorriso de minha avó.
"Deixa ela sonhar, preta!", meu pai diz, carinhoso.
"Tudo bem.", minha mãe dá uma risada, me puxando para um abraço, "Você já é minha cantora favorita."
• gravação encerrada: 25:32:13 — (19/11/2011)
Quando o vídeo termina, o telão fica com uma tela preta.
Dou um suspiro, enquanto limpo algumas lágrimas, e volto a olhar para frente.
Para a plateia gigante aqui no rep festival.
E logo olho para um lado, com um sorriso sorriso dominando os lábios de Ice Blue, Edi Rock, KL Jay, e Mano Brown.
Os cara conheceram minha história, e como eles me ajudaram a seguir firme.
Curtiram meu som.
Fizeram questão de me chamar para cantar uma música com eles.
Porra, filma 'ae, mãe! Tô no palco com os donos das quebrada tudo.
"Firmeza total, mais um ano se passando
Graças a Deus a gente 'tá com saúde aí, 'morô? Muita coletividade na quebrada, dinheiro no bolso, sem miséria, e é nóis
Vamos brindar o dia de hoje, que o amanhã só pertence a Deus, a vida é loka!"Quando ouço eles dizerem, e o público ir a loucura, meu corpo se arrepia por inteiro.
Por um momento fico estática. Mas então, eu pisco duas vezes.
Percebo que 'tô aqui 'pra representar toda a quebrada, todos os 'menozin que conheceram de perto o crime, que foram sugados pelo sistema, assim como eu.
'Tô onde eu estou, porque sempre mostro que tem sim saída.
E que a minha foi a música, 'tá aí, a preta rara estremecendo o sistema, de pertinho, para bater de frente com essa porra toda.
— 'Xô falá pro'cê, tudo, tudo, tudo vai, tudo é fase irmão– Eles começam a cantar juntos, e Ice Blue me puxa para perto deles, erguendo meu microfone em minha frente.— Logo mais vamo arrebentar no mundão– Então, eu começo a cantar com eles, com a alma da poesia da periferia.– De cordão de elite, 18 quilates, poê no pulso, logo um Breitling, que tal? 'Tá bom?
— (...) O meu money, vai e vem, porém, quem tem, tem, não cresço o zóio em ninguém! O que tiver que ser será meu– Mano brown, a porra do mano brown aponta para mim, enquando canta minha parte favorita da música.– 'Tá escrito nas estrelas, vai reclamar com Deus, imagina nóis de Audi, ou de Citroen...
(...)
Quando minha participação no show dos racionais acabou, eu desci pela parte de trás do palco, sorrindo mais que o coringa.
— Parabéns, Isa!– Meus empresários me exclamam, e me abraçam.
— Obrigada, gente! Puta merda. Eu fiz um show aqui, e ainda apareci com os racionais! Sem vocês eu não ia conseguir.
— Tu merece, pequena.– Marcos diz, sorrindo.
— Minha família já está no camarim?– Questiono, e eles assentem.– Então vamos!
Eu começo a andar pelos corredores para chegar ao meu camarim.
Mas no meio do caminho, sinto alguém me puxar pelos braço levemente, afim de chamar minha atenção.
— Fala tu!– Franzi o cenho, quando vejo o cara magro com um boné verde.– Você tá bem? Parabéns pelo show!— Valeu, Ret.– Digo, colocando os braços atrás do meu corpo.
Ainda não gosto desse cara.
— Aê, mó moral tu deu no show dos racionais. Tu ganhou meu respeito.
— Eu não pedi seu respeito.– Sorri, sem humor.– Você só foi um cuzão da última vez que nos trombamos.
— Foi um acidente, pô.
— Um acidente que você causou, e me culpou. Se liga, mano.
— Eu vim aqui te parabenizar.
— Você só está me "respeitando"– Faço aspas com as mãos.– Pelos caras que eu estava, e não por minha causa.
— E faz diferença.– Felipe faz uma cara de tédio.
— Na verdade, não. Você não tem relevância nenhuma na minha vida mesmo.
Passo por ele, e entro no meu camarim.
— Você 'tá de boa?– Luiza questiona, ainda atrás de mim.
— Estou sim!
— Parabéns, meu amor!– Sou dominada por um abraço apertado do meu pai.
— Obrigada, pai. Por tudo.
— Eu te amo.– Ele diz quando nos separamos.
— Também te amo, Marcelinho.– Digo com humor.
— Aí, que orgulho!– Minha mãe me dá um abraço.– Você foi incrível.
— Eu te falei, mãe!– Dou uma risada, orgulhosa.– Eu consegui.
— Minha vez!– Minha avó me puxa me abraçando.– Você é espetacular, meu amor. Parabéns pelo show lindo. Você é a minha cantora favorita.– Minha avó passa suas mãos macia por meu rosto.
— Obrigada por tanto, vovó.– Sorrio sincera.
— Aí, dona Márcia!– Minha melhor amiga choraminga.– Me perdoa, mas vou roubar a Isa de você.– Heloísa diz, nos fazendo rir.
— Fica em paz, minha filha.– Minha avó diz, sorrindo.
— Aí, amiga!– Heloísa me abraça tão forte, que o impacto quase nos faz cair.– Parabéns, meu xuxu! Você é a melhor do mundo, minha cantora favorita!
— Obrigada, Lolo! Por tudo, agora, e desde o começo.
— Coisa linda!– A garota dá um beijo estalado em minha bochecha, e se afasta.
— Aê, preta!– Sávio abre seus braços vindo até mim, o que acaba me fazendo rir. Então ele me abraça forte.– Parabéns, sereia. Você é foda! Tu já é um nome da cena, 'cê 'tá ligada, né? Eita bichinha arretada.
— Obrigada, bê. Muito obrigada. E tu 'tá ligado que já já vai ser você, né?
— Hoje é seu dia, pretinha.– Meu namorado sorri, com muito orgulho.– Hoje e todos os dias. Você é a mina mais foda que eu conheço. O mundo é teu. Eu te amo muito.
— Eu te amo muito, bê.– Digo com os olhos lacrimejando, e ponho minhas mãos em seu rosto.
— A lua vai te iluminar. Para sempre.– Sávio diz, e sela nossos lábios, logo iniciando um beijo apaixonado.
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Maktub, sinônimo do destino.- Teto.
FanficMAKTUB, estava escrito, ou melhor, tinha que acontecer. Teto e Isabelle namoram, foram destinados a ficar juntos. Dois cantores, que tem vidas e rotinas muito parecidas e ao mesmo tempo completamente diferentes. Acompanhe de perto o casal mais cobiç...