OLHEI PARA GUILHERME. SEUS OLHOS ME PRENDERAM, TRANSMITINDO UMA INTENSIDADE QUE FEZ MEU CORAÇÃO ACELERAR. Era como se aquele olhar fosse um espelho do passado, refletindo os momentos compartilhados e as memórias entrelaçadas que nos uniam.
— Eu... — Engoli em seco, lutando contra as palavras que se engasgavam na minha garganta.
Guilherme sorriu, trazendo uma calma reconfortante.
— Marina, relaxa! — Ele deu um tapinha no meu ombro. — Vamos, aceita a carona. Prometo que não mordo... a menos que você peça!
Uma risada escapou de meus lábios, uma melodia suave e familiar que ecoava nos recantos da minha alma. Guilherme sempre teve esse jeito brincalhão, capaz de arrancar um sorriso mesmo nos momentos mais sombrios. Lembrar disso fez com que uma sensação de gratidão transbordasse em meu peito. Apesar de tudo, sua presença era um raio de luz em meio à escuridão.
— Tá bom, eu aceito. — Respondi, após um momento de hesitação.
Depois disso me despedi de Margarida que me envolveu em um abraço caloroso, seus olhos transmitindo preocupação e carinho e Bianca piscou para mim.
— Se cuida, minha loirinha do tchan! — Bianca piscou para mim, com um sorriso travesso. Ela se inclinou e sussurrou em meu ouvido. — E não se perca por aí, senão vou ter que te caçar!
Bianca era extremamente brincalhona desde quando éramos crianças, então apenas sorri para ela e disse:
— Claro, tchau, meninas! — Acenei enquanto me afastava ainda rindo de Bianca, sentindo uma mistura de emoções aquecer meu coração diante do apoio sincero das minhas amigas.
Após isso, segui em direção à saída do bar onde Guilherme me esperava, apoiado no carro.
— Pensei que tinha se perdido no caminho! — Ele abriu a porta do passageiro com um sorriso brincalhão.
— Estava me despedindo das meninas. — Expliquei, entrando no carro sorrindo.
Me sentei no banco macio, e o motor ronronou suavemente à vida sob o comando de Guilherme. A paisagem passou rapidamente pela janela, um borrão de luzes e sombras.
Ao pararmos, a firmeza do chão sob meus pés me proporcionou uma sensação de segurança. Guilherme saiu do carro e a luz da lua derramava-se sobre seu rosto, banhando-o em uma aura prateada de serenidade.
— Valeu pela carona. — Agradeci, tentando disfarçar o nervosismo.
Guilherme olhou-me com uma expressão suave, seus cabelos ondulando ao vento noturno.
— Não tem de quê. — Ele respondeu, seu olhar penetrante.
Nossos olhos se encontraram, um silêncio confortável se instalou. Ele estendeu a mão, tocando levemente meu braço.
— Marina, eu... — Ele começou, hesitante.
— Gui... — Interrompi-o suavemente, sentindo as cicatrizes do meu casamento. — Sabe, tem umas coisas... e eu não tô pronta pra isso... Não sei quando poderei.
Ele assentiu lentamente, uma ruga de preocupação surgindo em sua testa. Tocou minha mão com delicadeza, um gesto reconfortante.
— Tudo bem. Vamos no seu ritmo, Mari. — Ele apertou minha mão com compreensão.
Apenas assenti, um sorriso tímido brotando em meus lábios. Ele se aproximou, depositando um beijo suave em minha bochecha.
— Estarei aqui. — Sua voz era um sussurro suave que acariciava meus ouvidos, transmitindo conforto e segurança enquanto seus braços me envolviam em um abraço caloroso antes de se afastar.
Depois que ele partiu, entrei em casa e me fechei no quarto. As lágrimas finalmente brotaram, um rio salgado que lavava as feridas do meu passado. Mas, em meio à dor, uma pequena esperança persistia. A promessa de Guilherme de que estaria ali me dava força para seguir em frente.
[...]
Acordei com um aperto no peito. A culpa me pesava como uma pedra, me prendendo à cama. Levantei-me com dificuldade, cada movimento um tormento. Logo em seguida segui para o banheiro onde tomei um banho, tentando lavar a culpa que ainda permanecia. Ainda assim, o gosto amargo na boca persistia.
A água fria, contra minha pele, parecia um choque, me trazendo de volta à realidade e quando saí do banheiro, o telefone tocou. Era Laís, minha chefe, com a notícia de uma folga inesperada. Desliguei o telefone, aliviada.
Depois disso, me vesti e aproveitei essa oportunidade para ligar para minha irmã, Patrícia. Havia anos que o afastamento se instalara entre nós, um muro silencioso construído por mágoas e desentendimentos.
Fui obrigada a deixar o Brasil pela nossa mãe, mas Patrícia não sabia disso. Agora, depois de 15 anos, decidi voltar e me reconciliar com ela. Peguei o telefone, o coração martelando no peito. Com um suspiro profundo, disquei o número, cada toque do telefone parecia ecoar em meu peito.
— Alô? — A voz familiar de Patrícia do outro lado da linha trouxe memórias da infância, daquelas tardes cheias de risadas e segredos compartilhados.
— Pati, sou eu, Marina. — Minha voz tremia, traída pela emoção.
Um breve silêncio se seguiu, pesado com o peso do tempo perdido.
— Marina? Caramba, é você mesmo? Quanto tempo, hein! Como cê tá, mana? — A voz calorosa de Patrícia continha uma pontinha de incerteza.
Suspirei, sentindo o peso dos anos e da separação apertando meu peito.
— Bem, sabe como é... Acabo de voltar dos Estados Unidos. E você, Pati? Como têm sido esses anos todos?
Enquanto esperava pela resposta, meus olhos percorriam a sala, encontrando uma foto antiga na estante. A imagem de nós duas, sorridentes e abraçadas, trouxe uma onda de saudade.
— A vida seguiu, como sempre. Porém, acredito que precisamos colocar nossas conversas em dia, não acha? Que tal nos encontrarmos? — A sugestão de Patrícia estava cheia de esperança e um pouco de receio.
Senti um nó se desfazendo na garganta. Era como se uma rachadura no muro que nos separava começasse a se fechar.
— Eu adoraria, Pati. Seria maravilhoso. Tenho tantas coisas para compartilhar contigo.
— Então está combinado. Te vejo em breve?
— Com certeza. E que tal o nosso restaurante favorito? Aquele lugar sempre teve um charme especial.
Pude ouvir o sorriso na voz de Patrícia.
— Ah, sim, o restaurante! Parece perfeito. Mal posso esperar.
Desliguei o telefone, um misto de nervosismo e expectativa borbulhando em mim. Enfim, um novo capítulo estava prestes a começar. Um capítulo de reconciliação, de reencontro, e quem sabe, de cura. De volta ao meu quarto, me acomodei na cama e fechei os olhos, a imagem de Guilherme surgindo em minha mente.
Havia coisas não ditas, sentimentos confusos, mas precisava continuar. Com a voz baixa, quase um sussurro, repeti para mim mesma: "Marina, é hora de traçar seu próprio caminho."
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Destinados a ficarem juntos © 2023 (SEM REVISÃO)
Romance[Romance] [New Adult] [Drama] [Reencontro] Marina Martins e Guilherme são cirurgiões respeitados, mas guardam segredos que os mantêm distantes do amor. No passado, Marina teve que tomar uma decisão difícil que a levou a se afastar de Guilherme, o ún...