Recomeço nas Sombras

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O AVIÃO CORTAVA O CÉU AZUL, JÁ HAVIA AMANHECIDO E O SOL ESTAVA BRILHANDO

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O AVIÃO CORTAVA O CÉU AZUL, JÁ HAVIA AMANHECIDO E O SOL ESTAVA BRILHANDO. As nuvens brancas flutuavam suavemente, como algodão-doce, e o céu parecia enorme.

Dentro do avião, havia pessoas de todas as idades e de vários lugares. Algumas pessoas conversavam animadamente, contando histórias e experiências. Outras liam livros ou revistas, relaxando e curtindo a viagem. E havia também aquelas que simplesmente olhavam pela janela, admirando a paisagem.

A senhora de cabelos brancos ainda continuava sentada ao meu lado. Ela estava enrolada em um cobertor de lã, com um livro de capa gasta no colo. Ela tinha um olhar calmo e um sorriso acolhedor que iluminava seu rosto enrugado. Passamos a viagem conversando e rindo. No entanto, no meio da nossa conversa, ela parou e me olhou com um olhar atento.

— Parece que algo te preocupa — ela comentou, sua voz suave quebrando o silêncio.

Esbocei um sorriso meio sem jeito e respondi:

— Tô só pensando na vida. — Houve uma pausa enquanto eu me perdia em pensamentos. — Quinze anos atrás, eu era uma sonhadora. Agora, estou voltando para casa.

Ela pareceu pensar por um momento antes de responder.

— Quinze anos... uma eternidade — ela disse, seu olhar distante. — Mas, às vezes, a maior viagem que a gente pode fazer é voltar pro começo. É como se a vida fosse um círculo, não é? Sempre voltamos para onde começamos. E, às vezes, é exatamente onde precisamos estar.

— Acho que você tem razão — concordei. — Tô ansiosa pra ver minha família e amigos, mas também tô com medo do que vou encontrar. Será que eles ainda vão me reconhecer? E eu, será que reconheço eles?

— É normal se sentir assim — ela tranquilizou, segurando minha mão com firmeza. — Mas você vai ficar bem. Você tá pronta pra isso. Pode confiar em mim.

— Você parece ter experiências com isso. — disse.

— Olha pra mim — ela respondeu, rindo. — Esses cabelos brancos não são é só por conta da genética. — Ela olhou para mim com um sorriso malicioso. — Já vi muita coisa nessa vida — ela continuou. — Já fui casada, tive filhos, divorciei, fui avó... Já passei por tudo o que uma pessoa pode passar.

— E você continua aqui — eu disse, admirada.

— É porque sou forte — ela respondeu, levantando o queixo com orgulho. — Porque sou uma sobrevivente.

Ela apertou minha mão com mais força.

— Então, se estou dizendo que você vai ficar bem, pode acreditar — ela disse. — Sei do que tô falando.

Eu sorri, sentindo um pouco mais de confiança.

— Obrigada — eu disse.

— De nada — ela respondeu. — Agora, vamos lá. Essa missão é sua, e sei que a mocinha consegue.

Estava ansiosa para voltar para casa, mas também um pouco nervosa.

De repente, senti uma leve mudança no zumbido constante do avião. Olhei pela janela e vi as luzes da cidade chegando perto. Foi nesse momento que a voz do piloto falou no alto-falante, interrompendo nossa conversa.

— Estamos chegando no Brasil. Preparem-se para o pouso.

As luzes da cidade brilhavam como estrelas na janela do avião. O avião pousou suavemente, e ao sair da aeronave, uma onda de saudade me atingiu.

Andei pelo aeroporto, cada passo me fazia lembrar que estava em casa. Quando cheguei ao saguão de desembarque, me senti sozinho. Olhei ao redor e vi que, apesar de estar em casa, ninguém estava lá para me receber. A solidão era tão forte que parecia que eu podia tocar. Era um contraste com o calor das luzes da cidade.

Enquanto esperava minha bagagem, lembrei dos últimos meses. Cada memória, cada momento, parecia mais real agora que eu estava de volta.

A visão da minha mala na esteira trouxe um alívio imenso. Mas também trouxe a realidade de que minha jornada havia chegado ao fim.

Mesmo que ninguém estivesse lá para me receber, eu tinha histórias para contar e lembranças para guardar. E isso, eu percebi, era o que realmente significava estar em casa.

Quando saí do aeroporto, vi uma taxista de cabelos longos e vermelhos e um lindo sorriso em seu rosto. Me aproximei do seu táxi, toquei a janela do veículo e perguntei:

— Oi, tá ocupada?

— Não, estou livre. Deixa eu te ajudar com as malas.

A mulher acenou com a cabeça, saiu do táxi e colocou as malas no carro. Depois de garantir que minhas malas estavam seguras, ela fechou o porta-malas. Ela me olhou, sorrindo gentilmente.

— Quer entrar? — ela perguntou, sua voz tão suave quanto a luz em seus olhos.

Concordei, entrando no carro e me acomodando no banco confortável. Enquanto isso, ela voltou para o táxi, que ronronava suavemente.

O táxi ficou em silêncio por um momento, apenas o som do motor. A motorista se virou para mim e nossos olhos se encontraram no espelho retrovisor. A viagem começou.

— Então, pra onde você tá indo? — ela perguntou, a voz dela quebrando o silêncio.

Olhei para ela, um brilho de reconhecimento em meus olhos.

— Tô voltando pra casa depois de 15 anos fora do Brasil, indo pra Rua das Flores, número 123.

Ela sorriu para mim, um sorriso que dizia que ela entendia.

— Tá bom, bora lá. — disse ela, dando a partida no veículo.

Começamos a percorrer as ruas de São Paulo, a energia da cidade viva ao nosso redor. As luzes da cidade passavam em um borrão, e então, uma visão familiar surgiu à distância.

— Olha, é a universidade onde estudei, pena que acabei não concluindo o curso. — apontei, com o olhar fixo no prédio que aparecia à nossa frente. — Já faz tanto tempo... — murmurei, perdido em pensamentos. O táxi continuou, mas por uma fração de segundo, fui transportado de volta à minha juventude.

A viagem seguiu, e a paisagem começou a mudar. As luzes da cidade deram lugar a ruas mais estreitas e casas coloridas. Antes que eu percebesse, já estávamos no meu bairro. Finalmente, havíamos chegado.

— Esse bairro é sempre tão animado, cheio de cores! É legal que algumas coisas nunca mudam, né?

O táxi parou na frente da minha casa nova. Olhei pela janela e vi minha casa chegando. Senti saudade, alegria e ansiedade ao mesmo tempo. Era bom estar de volta, mas também era um pouco assustador. Afinal, muita coisa tinha mudado desde que eu havia ido embora.

— Valeu pela carona! — Agradeci, passando a grana pra ela.

Ela aceitou o dinheiro com um aceno de cabeça.

— Que isso, foi um prazer te dar uma mão. — ela disse. — Espero que você curta sua nova morada. Seja bem-vinda de volta!

Desci do táxi e a motorista me ajudou a tiras as malas. Olhei para a rua. Estava parada na frente da minha nova casa. A rua estava quieta e as casas coloridas pareciam bonitas com o sol se pondo.

A motorista entrou no táxi e foi embora. Fiquei ali olhando para a minha casa. Sentia uma mistura de saudade e expectativa. Queria ver a cara da minha irmã e meus amigos quando soubessem que eu estava de volta. Seria uma surpresa incrível.

Destinados a ficarem juntos © 2023 (SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora