17 De Novembro de 2004

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Querido amigo,


As coisas estão muito confusas, tanto pro meu coração quanto para minha mente.

E a única coisa que ultimamente vem me parecendo ser real são os livros.

Doces livros, sempre estão lá.

Tudo virou de cabeça pra baixo, e estou alucinando, todos os dias, sentada no mesmo lugar lendo e vendo Alexandre e a garota loira da festa passarem por mim de mãos dadas e sorrindo, ele ainda me olha, mas parece ser mais com pena do que amor.

E então de uma maneira muito estranha meu peito dói, e parece saudade, mas eu não sei dizer ao certo o que é como eu já disse tudo esta muito confuso.

E as pessoas parecem que já não se lembram mais de mim, como se eu nunca tivesse ido aquela festa e todos nunca tivessem elogiado meu vestido ou se não tivessem se preocupado comigo quando comecei a chorar.

A humanidade é um grande poço de indecisão e futilidade.

Por isso fujo pro beco, que é o lugar ao lado de escola, que realmente é um beco, e os alunos procuram-no para fumar, se agarrar ou brigarem uns com os outros, ele é escuro, estreito e comprido, e as vezes extremamente silencioso, sei disso por que procuro matar as aulas nos horários aonde quase ninguém esta lá.

Então eu me sento e fumo.

1, 2, 3, 4 cigarros até sentir que já me matei o suficiente por um dia.

Existe um livro chamado ''Quem é você Alasca" e a protagonista fala que ela não fuma para saborear, fuma pra morrer.

Estou fazendo isso desde que li este livro, me matando um pouco de cada dia, para que eu sofra e continue vendo calada tudo ao meu redor.

Eu o amo, e mais uma vez não sou correspondida, como foi com meus pais e com todos que um dia pensei amar, mas agora é de verdade sabe?!

É uma sensação estranha toda a vez que penso nele ou o vejo, e outra mais estranha ainda quando estou no beco e ele e a garota loira da festa estão lá também se beijando, as vezes me pego olhando pra eles e choro silenciosamente no breu do lugar, encostada na parede com um cigarro entre os dentes.

E sinceramente, tenho medo dela, digo, da menina loira que é namorada do Alexandre, por que ela já me roubou o que eu amo uma vez, imagine o que ela mais pode roubar?

Todos parecem gostar dela, bonita, popular e rica, e quem eu sou? Medrosa, órfã e com um cabelo muito estranho.

De noite depois de comer comida chinesa ou pizza eu corro pro quarto e escuto algumas musicas no fone, pensando no sorriso dele, pensando em como seria telo ali comigo, sofrendo por não poder dizer a ele que o amo e sabendo que ele tem uma namorada.

Meus pulsos estão cobertos de pulseiras para esconder os cortes, as pernas estão sempre cobertas por um jeans para esconder o sangue que das mais recentes ainda sai.

Não acha trágico? Sofrer por amar alguém que já disse gostar de você e agora tem uma namorada que obviamente não é você.

Se pudesse me dar um conselho, qual seria?

Por que de verdade, eu preciso de um agora.


Com amor,

M.A.A



Cartas Sem RemetenteOnde histórias criam vida. Descubra agora