16 de Junho de 2005

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Querido amigo,

Eu jamais estarei na universidade Berkeley, eu jamais me cortarei de novo e eu jamais amarei outra pessoa pelo resto de minha vida, assim espero.

Eu não cheguei sequer a conhecer meu dormitório na universidade, foi uma estória bem inesperada, no avião eu apenas lembrava dos olhos dele, eu só conseguia pensar que eu não podia pensar, não podia lembrar dele, não podia ter uma recaída, não podia lembrar de nossos dias juntos, eu mentalizava que meu objetivo era apenas seguir em frente, dizia a mim mesma que eu iria canalizar toda a dor dessa despedida em minhas cartas, em poemas, em textos, que escreveria e melhoraria, mas eu não consegui nem mesmo me desligar por um segundo dele, era como se eu estivesse deixando absolutamente tudo o que tinha, era como se ele estivesse me levando, levando a maior parte do meu consciente, eu não me sentia bem, meu peito se apertava, meus olhos estavam marejados e a menininha que estava sentada ao meu lado dormia serenamente, como se não soubesse que eu era protagonista de uma estória muito triste.

E então o avião pousou, e eu estava na Califórnia, e no caminho para a universidade eu pedi para o táxi parar em qualquer praia, e quando isso aconteceu eu tirei meus tênis e pisei na areia, molhei meus pés e tentei mais uma vez me desligar dele, tentei eu juro, mas um flashback de memórias, como um caleidoscópio de memórias me invadiram, e eu não conseguia me desligar dele, isso ate eu chegar no campus de Berkeley, um campus cheio de rostos desconhecidos, mas havia um, um que eu jurava pesadamente para mi mesma que jamais veria de novo.

Ele estava lá.

Seus cabelos desgrenhados, sua barba estava mal feita, seus olhos cansados sorriram ao me ver, sua camiseta cinza estava amassada, seu jeans estava sujo, mas nada disso o impediu de correr desesperadamente ao meu encontro e me envolver em seus doces braços, nada o impediu de me beijar com urgência e absolutamente nada o impediu de me olhar no fundo dos meus olhos e me dizer o mais sincero de todos os te amo.

Nada em mim foi capaz de esconder a surpresa, e então ele se ajoelhou no meio de todos os estudantes, no meio do campus de uma das maiores universidades de todo o estados unidos, e tirou de seu bolso uma caixa vermelha, os olhares estavam em nós, mas ele não se conteve em pedir com todas as palavras um jamais esperado: Casa comigo? Vem comigo pra França, seja minha pra sempre, para que eu para sempre seja seu, e somente seu?

Meus pensamentos não vacilaram em lembrar de sua vizinha, meus pensamentos não falharam em lembrar do baile ou dos dois juntos naquela foto.

Por isso fui obrigada a cair em lagrimas e abraça-lo perguntando: E ela?

A resposta dele foi dizer que para ele só eu existia, que ela havia ido e que ele não conseguiu seguir com ela, por que realmente me amava, a sua resposta foi dizer que precisava de mim, foi um pedido de desculpas acompanhado por lagrimas nos olhos, foi um abraço sincero e teve como resposta um retumbante e nada duvidoso SIM!

Eu o amo, e é por isso que estou indo agora para a França, gritar da torre Eiffel meus sentimentos por ele, é por isso que estou deixando pra trás um eu abusado sexualmente, um eu órfã, um eu triste, um eu mutilado, um eu sozinha, um eu nada eu.

E então finalmente estou te escrevendo por que acho que encontrei meu lugar. E espero fielmente que esteja feliz por mim. Agora eu finalmente não me sinto sozinha entende? Não sinto que estou falando comigo mesma, agora eu posso dizer que tenho alguém. Não que eu nunca tenha te considerado como alguém especial pra mim, não, não é isso, mas você nunca esteve aqui de verdade, por mais que você provavelmente me conheça e por mais que eu tenha revelado mais sobre mim do que esperava e deveria e por mais que eu saiba que algumas das minhas cartas ficaram molhadas pelo meu constante choro, você nunca esteve aqui de verdade para me consolar, mas agradeço a você por isso, por que sei que essa foi uma das coisas que me fizeram crescer, e todos nos precisamos disso sabe?! Precisamos crescer por que isso faz parte da vida, e temos que saber que na vida, não se pula nenhuma parte, não se comprime emoção, e aprendi que ela faz isso por que quer que tenhamos coragem. Coragem para enfrentar os nossos medos, as nossas lembranças e inimigos, que no meu caso, foi o meu passado.

Cartas Sem RemetenteOnde histórias criam vida. Descubra agora