24 De Agosto De 2004

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Querido amigo,

Você já sentiu medo? Não do tipo medo de dentista ou de palhaço , Mas medo de verdade aquele que acaba te corroendo por dentro e gritando na sua cabeça que você é fraco? Se você nunca sentiu, não queira sentir, porquê não é nem um pouco bom, E sua reação ao medo nunca é boa, acredite em mim.

Estava na escola, sozinha sentada em um banco lendo um livro, estava fazendo sol naquele dia, e a sombra de uma árvore me mantinha segura, até uma garota estranha sentar do meu lado, não quero ser má com ela, mas ela era realmente estranha, meio sombria e tímida, a blusa dela não era comprida e conseguia ver claramente seus pulsos e ante braços todos cobertos de cortes, alguns já eram sicatrizes e outros já pareciam mais recentes com um pouco de sangue seco ao redor.

Quando percebeu que eu estava olhando tentou esconder de mim, mas não havia como.

-está tudo bem? Perguntei um pouco preocupada

-por que se importa?

-por que não? Perguntei focando o livro em minhas mãos - é auto - mutilação, você se corta, para aliviar. Nunca ouviu Falar?

-não, e parece tão estranho. Falei olhando pros seus cortes

-Quando um dia, você estiver triste, se sentindo sozinha e fraca, pegue a faca ou a lâmina, e faça quantos cortes você quiser, vai aliviar, é como a droga, viciosa e te deixa feliz, simplesmente faça sem pensar.

-fazer as coisas sem pensar pode ser perigoso, e o resultado pode ser insatisfatorio, além das consequências que você pode causar por não discernir o certo do errado. disse com indiferença

-por isso deve fazer sem pensar. Ela disse se levantando e saindo

E agora aqui estou eu, dentro da minha casa, no meu banheiro segurando uma lâmina afiada. Tudo o que ela falou me causou tanta curiosidade, tanta vontade de experimentar como é. Eu quero simplesmente saber como é ficar feliz e agir sem pensar. Só isso.

Um primeiro corte no pulso, rápido e sem pensar.

Um segundo corte do pulso, rápido e sem pensar.

Um terceiro corte no pulso, rápido e sem pensar.

Vi o sangue brotando nos cortes e a lâmina com já muito sangue brilhando, um sangue tão vermelho que chega a ser cor de vinho.

Fui subindo até fazer uns oito cortes no ante-braço inteiro. Apesar de estar cheia de sangue, e apesar de saber que fazia algo errado, eu me sentia tão feliz, eu finalmente me senti feliz ali . E agora tenho medo, muito medo de que isto se torne vicioso, e me destrua, como destruía aquela menina. Eu fui fraca em fazer isso, e o medo e o vazio, voltaram, mais fortes, e piores.

Eu agi sem pensar, isso não é bom, e nem certo. E agora o o que me resta é apenas chorar,por que fui fraca, mesmo não querendo ser. então o que eu faço nessa maré baixa? Talvez esperar ela passar e depois voltar, como sempre é.

Com amor,

M. A. A

Cartas Sem RemetenteOnde histórias criam vida. Descubra agora