Calebe

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"Mas, depois de sofrerem por um pouco de tempo, o Deus que tem por nós um amor sem limites e que chamou vocês para tomarem parte na sua eterna glória, por estarem unidos com Cristo, ele mesmo os aperfeiçoará e dará firmeza, força e verdadeira segurança."  (IPedro 5:10)

A semana foi intensa, algumas pessoas se interessaram nos potros e marcaram para visitar o haras. Regiane me pediu informações antes, para saber quais animais apresentar para cada um. Fizemos dois ótimos negócios e no final de semana Patrick veio e colheu o sangue dos cavalos, para fazer os devidos exames e tirar as guias de transporte. Isso me rendeu um ganho extra e antes mesmo de pensar em como o usaria, reservei uma parte.

Sabia que ela chegaria em casa naquela noite, então dormi cedo e antes das quatro já tinha me levantado, notei que seu carro ainda não estava lá. Me concentrei no meu trabalho que estava mais tranquilo com a ajuda de Joaquim, agora por conta de me ajudar na limpeza das baias e alimentação dos cavalos.

Eu estava em uma conversa sobre as próximas competições com Grito, quando o animal simplesmente parou e perdi totalmente sua atenção para algo que estava à frente. Não era para menos. Uma figura se aproximava, com a luz das baias era possível ver seus cabelos ruivos, o brilho do tecido do vestido e sua pele alva, em uma das mãos ela carregava uma mala. O animal ao meu lado relinchou mostrando seu entusiasmo ao ver a dona, eu só pude fechar a boca e engolir em seco.

– Oi meu campeão, – ela disse deixando a mala no chão e tocando o pescoço do cavalo. – Calebe, Bom dia. está meio cedo, não acha?

– Bom dia, precisamos conversar – disse ainda parado no meio do estabulo.

– Claro. – Eu me assustei, nunca tinha visto assim. Ela andou em direção ao carro novamente, pegando outra mala, me dando tempo para recuperar o folego. Estava linda.

– Não quero falar sobre aquela noite. Me fale sobre a garota bêbada e o soco no rosto de um cara que estava tentando beijá-la. – Alice soltou a mochila e caminhou em direção ao escritório. Eu a segui, carregando seus pertences.

– Não foi nada demais. Eu não te bati – afirmou quando se sentou na cadeira do escritório.

– Você não bateu nele pelo beijo, bateu porque ele queria que ficasse bêbada. Me explica sobre isso, por favor. – Eu suspirei. Ela me fitou, arrancando os grampos do cabelo, desfazendo o penteado.

– Não quero falar sobre isso. – Ela disse sem entender a gravidade da aflição que me causava. Segurei uma de suas mãos fazendo-a me fitar.

– Eu tive um pesadelo com você, eu sei que jamais faria algo para te causar tanta dor – fui interrompido finalmente, por uma descrição fiel de algo que aconteceu cerca de três anos.

– Só para que fique sabendo, respeito a sua decisão e não vou embora, meu lugar é aqui.

– Somos amigos Calebe, não vou estragar isso. Não quero ficar nervosa, quando seus rolos aparecerem me xingando, muito menos quando me deixar sozinha no trailer e não quero te ver batendo em alguém, quando eu decidir namorar.

– Tudo bem. Mas para sua informação, eu não sou mulherengo. – Alice revirou os olhos. – Você teve o azar de conhecer as duas mulheres que eu me relacionei na mesma noite.

– O azar foi seu – disse ela, levantando e me dando as costas

– É verdade. – Assumi, mas ela não estava mais em minha frente.

Os dias seguiram como se nada tivesse acontecido, trabalhei bastante, ganhei outra competição. Ajudei novamente Alice e Jorge buscar lotes de animais que seriam confinados, estes receberam brincos com identificação de cada curral. Danilo esteve no primeiro dia e Alice não saia do seu encalço, ela sentia falta da rotina de estudos e tentava obter o máximo de informação do professor. Houve um minicurso de como deveria acontecer os tratos, da importância de seguir os horários. Engraçado os touros gostam de rotina. E o principal, o quanto um pequeno deslize na hora de produzir a ração poderia causar a morte de todos, por uma espécie de intoxicação e ou causar sérios problemas intestinais e até nos cascos dos animais.

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