Calebe 16

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"porqueDeus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boavontade."

Filipenses 2:13 ARA

Seis meses depois.

Em umas conversas entre os funcionários do confinamento, ouvi muito o nome do Ricardo atribuído a péssimas falas. Júlio não tinha muito contato com os outros peões porque estava sempre no haras comigo, mas o irmão trabalhava junto com a turma todos os dias.

– Coitada da dona Alice se depender só daquele garoto, ele é péssimo no serviço. – disse o vaqueiro olhando para Ricardo.

– Pior ainda que finge ser bom quando Jorge está junto, – disse o outro.

Precisei analisar melhor a situação.

– Ei Jorge, estou com um potro que preciso trabalhar a pasto. Que dia posso ajudar? – perguntei ao homem que se aproximava junto a esposa.

– Vou à alguns leilões essa semana e preciso de alguém para conferir os piquetes, que bom que está disponível.

– Pode ficar tranquilo, Ricardo vai me auxiliando. – eu sorri para o garoto que assentiu.

No dia seguinte Ricardo parecia incomodado, quando ficou junto com os funcionários. E não foi em vão. Logo que Jorge saiu da fazenda, os vaqueiros começaram a caçoar do rapaz. Sem nem ao menos responder, ele selou seu cavalo e o montou de cabeça baixa, só abriu a boca quando chegamos a área dos piquetes.

– Estou à disposição. – disse.

– Vamos olhar, laçar os animais que precisam ser curados e fazer a contagem em cada piquete. – Sem mais delongas, recebi um aceno de cabeça.

– Você vai precisar de mais um cavaleiro Calebe, eu vou junto. – Um dos homens disse.

– Não é necessário. Eu e Ricardo damos conta do trabalho. – Imediatamente ouvi algumas gargalhadas e outro desejando-me boa sorte.

Ricardo arqueou ainda mais a cabeça, demonstrando tamanha sua vergonha. Fingi não ter visto os insultos na frente da turma, mas precisava tirar aquilo a limpo mais tarde.

– É assim, toda vez que seu pai sai?

– Pior as vezes. Mas não me importo, sei que não sou tão bom, mas eu me esforço todos os dias..

– O que você queria fazer antes de nos conhecer Ricardo? – perguntei sem demonstrar tamanho interesse.

– Calebe o meu sonho não mora aqui. Eu realmente não sou bom nisso, por mais que eu me esforce. Em tudo que me foi proposto tenho me dedicado mas nunca cheguei a encontrar algo como meu irmão conseguiu aqui no haras. Dessa vez, só estou tentando ser um bom filho.

– Não leve a sério o que esses homens dizem, eles só têm medo, que você os supere. Por quantos lares vocês já passaram?

– Meu esforço nao tem resultado aqui, me sinto exausto todos os dias. Passamos por três famílias, não éramos santos e a primeira vez nos separaram. então cada um fez o inferno que pode para voltar. A segunda família era uma fachada, eles foram investigados e novamente voltamos e por ultimo, segundo o tutor a gente comia demais, ele não conseguiria nos sustentar.

Assenti e iniciamos os trabalhos. Ricardo no laço era tão bom quanto o irmão, talvez de tanto treinarem a noite no haras. Mas na lida ele não tinha mesmo o dom, desastrado, se aproximava dos animais em momentos inoportunos, gerando risco para sua própria vida

Júlio desde o primeiro dia já agia como um irmão mais novo. Ricardo sempre estava calado, mais arredio. Quando quebrou o braço, Alice me alertou sobre não colocá-lo mais nas competições a fim de não correr mais riscos. Eu não posso começar a me intrometer tanto na vida dos outros, mas o risco de um acidente pior era eminente

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