Pai Celestial, o Calebe precisa de uma resposta. E eu quero muito isso, mas é a decisão para toda a minha vida. Não haverá brigas que nos possa separar ou desentendimentos que nos distancie o suficiente desse laço. Sendo o Senhor também envolvido nessa aliança, não permita que eu faça escolhas mediante aos meus sentimentos, mas segundo o propósito da minha existência. Acalma o meu coração e me dê a paz que excede todo entendimento em nome de Jesus Cristo, Amém.
O dia amanheceu e a camionete não estava estacionada perto da porteira. Respirei fundo e agradeci. A nossa conversa ficará para mais tarde. Enquanto isso eu gastaria minha energia e alegria com meus sobrinhos que já estavam acordados, dona Menina tinha feito um verdadeiro banquete. A maioria do pessoal da fazenda já sabia que receberíamos visitas, então tudo estava preparado. Até Carla chegou cedo com Ben, que não parecia contente por não ser o centro das atenções de todos. E realmente, nunca vi a casa tão cheia. Todos os lugares da mesa estavam ocupados exceto o do meu pai, que agora tinha uma cadeira no lugar.
– Tia, tia. A gente vai andar a cavalo hoje?
– Tia, posso jogar no seu quarto? – Quando foi que cresceram tanto?
– Bom dia meus amores. Sim e sim. Mas só depois do almoço, agora vamos brincar, como sempre fazemos.
– Ah, a senhora está preparada para contar quantas vezes, tia? – como ele estava abusado e confiante. Todos rimos e as crianças se apressaram para engolir o que faltava do café.
Mais uma vez eu conto de um a trinta enquanto as crianças escondem.
A minha brincadeira favorita! Meu avô, um homem enorme e trabalhador sempre brincou com os filhos e netos ao final da tarde, ele contagia a todos e no final, os outros adultos estavam brincando. Recriar essa memória em minha nova casa, me alegra o coração, uma pena meu avô não estar na fazenda, a brincadeira fica melhor na companhia dele.
Minha irmã provavelmente já escondeu Benjamin e se ele ficar em silencio, será o mais difícil de encontrar.
– Vinte nove, trinta. Lá vou eu! – disse me afastando do lugar, dando uma chance melhor aos mais novos.
Não foi tarefa fácil encontrar as crianças. Mas pior ainda era correr com minha irmã para marcar ela, antes que se salvasse, suas pernas são mais longas que as minhas e ela sempre me assusta, tirando vantagem e correndo a frente, já que eu mal consigo respirar de tanto rir, quando isso acontece.
– Aline, me fala logo, onde você escondeu o Benjamin? Ele é muito pequeno, já o procurei em todo lugar.
– Desculpa maninha, mas deixei ele com o Calebe. – Não poderia ter sido com outra pessoa?
– Com certeza estão no estábulo. – Comecei a correr.
– A gente vai continuar brincando sem vocês – ela gritou.
Que ingrata, não pode esperar dois minutos? Apertei o passo.
– Tem alguém aqui? – até parecia abandonado. Quem dera se meus cavalos ficassem quietos assim a noite. – Ben, você está aqui?
Ouvi um riso baixinho,
– Ben, a maninha vai te encontrar.
Antes que eu realmente o encontrasse, o pequeno saiu de uma das baias vazias com umas flores de ipê na mão e correu para os meus braços. Quando o peguei no colo, percebi que não estávamos sozinhos. Engoli em seco tentando evitar do meu coração sair pela boca.
– Para você. – ele disse, me entregando as flores.
– Para mim?! Obrigado meu amorzinho. – Antes que eu pudesse o usar como desculpa Benjamin esperneou em meus braços, pedindo para ir para o chão.
– Obrigado Calebe, são lindas. – mais uma vez fitei as flores, tentando encontrar as palavras certas para voltar ao assunto.
– Vamos lá, não é tão difícil me despachar. – Ele cruzou os braços e ficou em uma postura confortável, tentando passar a ideia de que não se importava, talvez.
– Não é isso, eu não sei como dizer. – A postura mudou novamente, ele deu dois passos em minha direção e se inclinou para ver meu rosto.
– Então está dizendo que sua resposta é Sim? – ergui os olhos e o fitei em silencio. – Não me faça pedir de novo se não vai aceitar.
Suas palavras fizeram um sorriso se formar em meu rosto. E antes que pudesse realmente dizer o tão esperado sim, recebi um abraço, me tirando do chão. Quando meus pés alcançaram a superfície novamente, ele tirou do bolso uma caixinha. Não era um par de alianças como eu esperava, mas duas correntes de ouro iguais com uma cruz em cada uma.
Naquele momento, todo medo, receio foram embora. Aquela era a confirmação que eu tanto esperei. Nossos corações estavam alinhados no mesmo propósito. Não o desejo, não a carnalidade, mas o respeito, admiração e principalmente o amor.
– Sei que toda mulher espera uma aliança, mas achei melhor nesse momento, um lembrete de que tem um propósito maior, o qual nos uniu. – Meus olhos estavam inundados de lágrimas. Peguei o fino adorno e coloquei em seu pescoço, da mesma forma ele o fez.
O que me parecia algo muito íntimo e pessoal, a qual pouquíssimas pessoas sabiam, no meu pequeno entendimento. Não ficou despercebido aos olhos de todos que estavam a nossa volta.
Ao nos aproximarmos do casarão, começamos a ouvir os aplausos. E antes mesmo que eu pudesse abrir a boca para contar a notícia, todos estavam a nossa volta, suspirando e dizendo frases "finalmente" "achei que esse casamento não ia sair nunca", cruzei os braços e fiquei observando o tamanho do time que eu joguei contra, por tanto tempo.
– Alice, eu o avisei que você pode se superar, sendo mandona e chata. – Minha irmã disse ao me abraçar.
– Coitado minha filha, ele já me pediu sua mão a quase um ano. – Com aquela afirmação da minha mãe eu não pude deixar de encarar meu futuro marido.
– Você dificulta as coisas, sabe disso né. – Pisquei tentando reiniciar minha mente e encontrar argumentos contra aquela acusação, mas obviamente que não seriam verdadeiros.
Anísia e Carla já haviam preparado um cardápio para o jantar. As mesas foram colocadas no jardim e as luzes do casamento ainda estavam no mesmo lugar, talvez tenha sido propositalmente, não sei. Nossos líderes chegaram antes do anoitecer, os pastores oraram por nós e no final, sem ao menos planejar, tive um lindo jantar com nossas famílias e amigos da fazenda, em comemoração ao nosso noivado.
"Bendito o varão que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor."
Jeremias 17:7
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Me encontro em Ti
SpiritualTalvez você assim como eu, já viveu muitas coisas antes de entregar sua vida para Jesus. E para quem está no mesmo barco, sabe que não é tarefa fácil se desconectar do mundo e de seus maus hábitos. Alice se encontra em meio a um emaranhado de situaç...