Capítulo 3

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"Vertentes que caem do céu, colares que trançam a flor, verdades que doem no peito, a razão..." (Duas Medidas, Banda Eva).

...

Recostei a cabeça no assento e retirei o cinto de segurança assim que o painel sinalizou a permissão. Estava com muito sono, mas era impossível dormir. Não demorou muito para começarem o serviço de bordo. Incentivado pelo meu colega de corredor (um homem que parecia viajar de avião pela primeira vez, de tão nervoso que estava), pedi uma dose de uísque para a aeromoça, já procurando o meu cartão de crédito.

Precisava organizar as ideias a qualquer custo. A minha mente era um exército de pensamentos que se atropelavam, chegando sem pedir licença, competindo para gritar mais alto. Eu realmente precisava fazer algo.

...

Cinco dias antes:

Contei quatro deles, mas não sabia exatamente identifica-los. Alexandre e César com certeza estavam presentes, Júlio e Adriano eram suspeitos. Como penumbras inquietas, eles saíram rápido demais para que pudesse dizer com exatidão. Observei o rumo que tomavam e segui o caminho contrário. A poucos metros de distância, reencontrei a possível vítima do quinteto, vomitando atrás de um carro na calçada e tossindo muito.

"Esse cara vai apagar no meio da rua...", pensei andando ao seu encontro:

- Você tá bem? – indaguei, apesar da obviedade do seu estado.

- Sai daqui! – gritou de volta.

- Escuta... Eu sei o que tentaram fazer com você. Vou te ajudar a chegar em casa.

- Já disse, sai daqui! – ele resmungava enquanto regurgitava.

Atravessei a rua e comprei uma garrafa d'água em uma das diversas barracas que estavam montadas na área. Voltei e permaneci ao seu lado, calmo. Com algum esforço ele se levantou, notando a minha presença.

- Respira fundo, bebe essa água – insisti.

Percebi que ele me olhava com desconfiança, mas aceitou se dando por vencido. Bochechou um pouco e cuspiu no chão, tentando limpar a boca.

- Quer sentar um pouco? – questionei, visualizando o quão pálido estava o seu rosto.

- Eu preciso achar um táxi.

- Aguenta caminhar?

- Não sei, eu não tô legal...

Fiquei pensando naquela situação e como tinha conseguido chegar a minha residência quando estava em igual circunstância. Tentava raciocinar uma forma de ajuda-lo, embora fosse um completo estranho para mim:

- Vamos fazer o seguinte... Você precisa deitar um pouco. O que acha melhor: parar num posto de saúde ou ficar um pouco na minha casa? Eu moro aqui perto.

- Não, minha mãe me mata se souber que eu estava em um posto médico – a sua fala já saía embolada.

- Beleza, você já deu a sua resposta. Segura aqui no meu ombro – passei o seu braço em volta do meu pescoço.

- Cara, por favor, não me machuca...

- Relaxa, vai ficar tudo bem.

Andava apressado, quase o arrastando, com medo de que ele enfim desmaiasse. Pedia licença a todo instante, e as pessoas abriam caminho ao perceber que alguém estava passando mal. Quase quinze minutos depois, chegamos ao meu prédio. Para o porteiro, expliquei se tratar de um amigo que precisava ser socorrido e que estava hospedado comigo. Não recebi nenhuma negativa em troca.

Amor de Carnaval não VingaOnde histórias criam vida. Descubra agora