Capítulo 26

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"Quanto mais eu me vejo em você, mais eu guardo em segredo, a vontade de dizer, que é maior o que há em meu coração..." (Beijos de Hortelã, Ivete Sangalo).

...

- Calma, respire – tentava tranquiliza-la.

O pranto não cessava. Enlacei o seu ombro e comecei a conduzi-la para o sofá. Saí rapidamente para pegar um copo d'água e pedi que bebesse um pouco, ato que ela realizou com as mãos trêmulas, tamanho desespero instaurado no corpo.

"Adriano saberá ser um pouco paciente...", agachei-me à sua frente, apoiando-me nos seus joelhos:

- O que aconteceu? – indaguei já conhecendo os pormenores da resposta.

- Eu e Marquinhos... Nós – soluçava para tentar formular uma frase coerente – A gente já tava tentando ter um filho há alguns meses. Transamos regularmente, e a natureza não fazia a sua parte. Aí tive a ideia de procurar um médico, saber o que era, buscar um tratamento, sei lá.

Juliana apertava os meus dedos com força, e eu escutava tudo com um grande pesar.

- Ele pediu para nós dois fazermos exames e estudarmos as possibilidades juntos. Hoje à noite encontrei o resultado lá em casa, e descobri que Marcos estava escondendo de mim...

Seus olhos voltaram a se inundar:

- O problema sou eu... Sabia que era...

- Não fala assim. O que o diagnóstico dizia?

- Não sei, não conseguia entender aquela papelada. Quando o chamei para explicar, ele ficou agoniado, sem saber o que fazer. Disse que precisávamos conversar, mas não tinha a mínima capacidade para assimilar nada. Preferi sair para espairecer...

- É melhor avisar que você está aqui.

- Não! Ele vai aparecer para me buscar. Impossível ter qualquer tipo de diálogo agora.

- Ju, não é bem assim.

- Eu tenho certeza que vamos terminar... – tentava limpar as lágrimas com o punho.

- Você não tá raciocinando o que está dizendo.

- Formar uma família completa é a lógica de todo casamento, e eu não serei capaz disso...

- Para, não fala mais nada... – interrompi antes que aquilo piorasse e peguei um leve impulso para me levantar outra vez – Só preste atenção, pode ser?

O choro tinha dado uma trégua, e aproveitei a deixa para esclarecer algumas coisas:

- Vamos por partes, ok? O Marquinhos me procurou na quinta-feira para falar sobre isso.

Repentinamente, ela focou o olhar no que eu dizia, bastante séria:

- Você sabia?

- Sim. Ele estava desesperado, angustiado e precisava desabafar. Não pra terminar, nem todas essas maluquices que está pensando, mas porque estava com medo de como iria enfrentar.

- Já tem quase cinco dias que sabia disso e não me contou nada?

- Foi um pedido dele, não poderia negar.

- Que tipo de amigo é esse? – ela se levantou também, inquieta.

- Juliana, eu não terminei – tentei conter a irritação – Sabemos que não é uma notícia fácil. Seu marido está tão arrasado quanto você. O desejo dele também era poder realizar esse sonho, e ele estava sentindo o peso da responsabilidade de te falar isso.

- Vocês pretendiam esconder isso de mim pelo resto da vida, é isso? Que plano genial! – não disfarçou a ironia gratuita.

- Não. Disse a ele que era melhor amadurecer os fatos e, com calma, encontrar uma maneira de te avisar.

Amor de Carnaval não VingaOnde histórias criam vida. Descubra agora