Capítulo 14

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"Onda do mar me levou, Me levou, mas hoje estou aqui; Onda do mar me levou, E eu resisti..." (Me Abraça e Me Beija, Lazzo Matumbi).

...

Na sala da justiça, a cúpula gay para assuntos extraordinários seguia em plena atividade:

- Qual o plano? - Flávio caçava alguns pedaços de frango xadrez no prato.

- Passei o dia no Rio de Janeiro conversando com o garoto. O nome dele é Vinícius - prossegui - Ah, a Ju não sabe sobre a minha viagem. Vamos omitir isso por enquanto - adverti os dois.

- Pode ficar tranquilo.

- Ele me contou como tudo aconteceu. O cara passou um tempo seduzindo e forçando uma aproximação e depois levou para um motel afastado, onde deu o bote.

- Se o pai fica sabendo disso... - Gustavo resmungou, enquanto eu entregava o celular para o meu subordinado assistir o vídeo.

- Quem é o político? - tomou de minha mão e apertou o play.

- Joaquim Silveira.

- Vocês estão de brincadeira - ele arregalou os olhos em choque - Que piada pronta é essa?

- Pois é, todos nós pensamos a mesma coisa - respondi - O filho dele se chama Júlio.

Seus olhos esverdeados congelaram na projeção, com uma expressão incômoda, e ele não tardou em pausar o filme:

- Ok... Já estou com o estômago embrulhado, não vou conseguir assistir isso até o final - proferiu - O que vocês pretendem? O cara deve ter uma puta defesa preparada para qualquer situação.

- É o que eu penso também - procedi - Talvez por isso não seja tão simples entregar esse vídeo à polícia e fazer uma denúncia anônima. O pai vai conseguir abafar o caso. Quero fazer barulho.

- Eu acho perigoso demais - o mais novo se intrometeu.

- Se fizermos corretamente o que imaginei, será só uma faísca para uma bomba maior.

- Fala logo sua ideia então, tô ficando agoniado!

- Certo... - reorganizei a trama na mente - Eu estive no motel onde ele foi levado, e parece ser um lugar próprio para esse tipo de situação. É escondido, discreto, não chama atenção e tem um alto padrão perto dessas espeluncas que a gente vê por aí.

A dupla à minha frente escutava tudo bastante concentrada.

- Vai parecer meio idiota, mas pensei em convencer o garoto a chamar Júlio para repetir a dose, pedir um encontro no mesmo lugar e fazer uma queixa para a polícia pega-lo no flagra. Seriam três acusações em uma só tacada: tentativa de estupro, aliciamento de menores e sequestro.

- Sequestro? - Gustavo não compreendeu.

- Ele me disse que foi obrigado a entrar escondido no porta-malas do carro, porque as pessoas poderiam desconfiar e pedir a documentação dele. Assim, o assunto acabaria facilmente na delegacia, e seria mais provável que começassem um burburinho em cima desse fato.

- Sua pretensão é permitir que ele seja violentado de novo? - seguia perplexo.

- Não, por isso preciso de uma ação em equipe. O lugar é bastante vigiado, o que em parte poderia ser um trunfo pra gente. Minha ideia é ter acesso ao sistema de segurança para entender qual o alcance dos pontos de filmagem e intercepta-los antes que o pior aconteça. Daria um jeito de manter Vinícius seguro até a chegada dos guardas.

- Porque acha que as câmeras podem ser um trunfo? - Flávio tentava não perder o fio da meada.

- Se conseguirmos acessar o sistema, nada impede que a gente investigue o histórico e, em tese, salve as gravações que possam nos interessar.

Amor de Carnaval não VingaOnde histórias criam vida. Descubra agora