Capítulo 27 - II

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"Por que será que tem que ser assim; A gente gosta, a gente ama, a gente muda..." (Não vou chorar, Chiclete com Banana).

...

As horas progrediram normalmente. Perto do frenesi do dia anterior, o período beirava o tédio. Confirmei a disponibilidade de Flávio e, logo em seguida, liguei para o restaurante. Pedi a Rebeca que me avisasse discretamente quando o entregador chegasse, e já deixei o valor separado em suas mãos.

Mais tarde, Adriano enviou uma mensagem sobre a sua chegada. Pedi que fosse direto para o último andar me encontrar. Aproveitei outra reunião da minha sócia com um grupo de atendimentos e persisti com a ideia do meu sumiço temporário.

Fora o horário de almoço ou eventos casuais, aquele espaço era bastante subaproveitado. Como o prédio não era relativamente novo, intuí que a área não foi devidamente planejada. Ainda assim, era um lugar agradável. Alguns minutos após o seu aviso, o barulho da engrenagem do elevador anunciou a chegada de Adriano, que espreitava os olhos por causa da forte claridade. Assoviei para reforçar onde estava e ele veio ao meu encontro na sacada:

- Uau! De dia, a vista impressiona! – apoiou os braços no parapeito.

- Esqueci completamente que você já esteve aqui – divaguei se não teria sido cruel reviver uma primeira lembrança ruim e lamentei a minha falta de noção.

- Pois é. Antes queria me matar, agora fica querendo me beijar... – não escondeu uma risada sincera, e seu rosto voltou a ficar vermelho.

O joguinho "morde e assopra" dele às vezes me deixava intrigado. Por mais que achasse encantador, procurava agir de forma respeitosa, pelo menos até sentir algo mais concreto entre nós. Continuei sem dar muita bola:

- Desculpa, não queria relembrar aquele dia... – estava encabulado.

- Para com isso. Não enxergo aquela festa como algo esquecível. Querendo ou não, graças ao Gustavo e a esse lugar, tive a chance de reencontra-lo.

A retrospectiva me deixou mais sério, e o meu acompanhante percebeu:

- O que foi? Falei algo que não devia?

Aproveitei a calmaria e comecei uma breve sessão de alertas e precauções:

- Ontem tive uma conversa com o Gustavo.

- Sobre o que?

- Ele sabe que eu conheci alguém, a irmã deixou escapar.

- Hum... – parecia surpreso, arqueando as sobrancelhas.

- Ainda não falei sobre você exatamente. Ele pareceu um pouco chateado por ter ficado de escanteio, mas já deixamos tudo em pratos limpos. Quer dizer, quase tudo.

- Isso é bom ou ruim?

- A verdade é que não faço ideia. Tenho medo de achar que estava mentindo ou querendo engana-lo, preciso me aprofundar melhor em como abordar o tema.

- Entendo... Não tenho intimidade suficiente para dizer que conheço alguém próximo a ele. Enxergaria um pouco de intromissão da minha parte. Não conversamos tanto assim.

- Se por acaso, algum dia, ele parecer diferente ou inquisidor demais, releve...

- Acho que não tem motivo para nenhum estranhamento ou necessidade de mentir. Mas o amigo é seu, prefiro que decida.

Estava pensativo, queria que as coisas realmente voltassem a funcionar. Não poderia ficar adiando, e às vezes me sentia mal por achar que não estava zelando pelas minhas amizades. Tenho uma estranha mania de querer agradar a todos, e isso frequentemente parece me sufocar. Além disso, interpretava que a situação poderia, em partes, prejudicar Flávio. As pessoas à minha volta importavam, e muito. Elas estavam acima de qualquer discussão ou ideias contra indivíduos de má índole.

Amor de Carnaval não VingaOnde histórias criam vida. Descubra agora