"Eu vou arrasar, me decidi, vou me jogar por essa vida; Quero te ganhar, te possuir, te namorar vida bandida..." (Quebra Aê, Asa de Águia).
...
Fechei a porta do apartamento e encostei a testa na madeira. O feriado mal tinha começado, mas a cereja do bolo já tinha sido colocada. Suspirei pesaroso. Um maremoto de sensações ruins chocava-se na minha cabeça. Só conseguia pensar em me enterrar na cama e permanecer lá semanas a fio.
- Guto, é você?
O grito da minha visita, vindo do andar superior, lembrou-me de descartar qualquer possibilidade de isolamento:
- Oi prima, o que houve?
-Onde encontro uma toalha? Fala rápido antes que eu molhe o piso todo! – parecia afobada.
- No armário do lado da pia, embaixo! – esbravejei de volta, escutando a fechadura trancada como resposta.
Meu celular tocou. Era a quinta tentativa de comunicação do novo casal. Desliguei o aparelho, impaciente. Deixei o almoço em cima do balcão, e comecei a arrumar os pratos na mesa. Tentava planejar alguma programação para o dia, mas aquela maldita discussão insistia em bloquear os meus pensamentos.
- "Augusto? O que aconteceu?", a voz do meu funcionário tentava sobressair-se perante o rosto pálido.
- "Calma, vamos conversar. Flávio, vista alguma roupa...", Gustavo implorava.
Tal qual naquele momento, permaneci estático sem saber como reagir:
- Conversar é o caralho! – pensei alto, lamentando não ter dado essa resposta.
- Falando sozinho? – minha convidada deu o ar da graça, enxugando os cabelos e exalando um perfume suave de sabonete.
- Não, apenas divagando – era verdade – Achei que tinha se perdido no banheiro...
- Estava resgatando a minha beleza. Nem eu acreditei quando me vi no espelho.
Mal prestava atenção no seu senso de humor. Peguei os copos e pedi que ela levasse o refrigerante à mesa.
- E você – continuou – Tá com essa cara de derrota por causa da ressaca ou está escondendo alguma coisa?
"Isso, esfrega na minha cara, melhora meu ânimo...", revirei os olhos, sem ser percebido:
- Fome! Vem, vamos comer logo – sentei-me, já me servindo de um rolinho primavera.
- Sei... – desdenhou – Por acaso tem alguma coisa a ver com o que me disse?
- Do que você tá falando?
- Sobre o Gustavo.
Engasguei com a comida, arregalando os olhos.
- Eu bebo, mas não esqueço – ela gargalhou.
- O que foi que eu te contei, Marcela? – fiquei preocupado em diagnosticar até aonde teria ido a minha revelação.
- Bom, pra começar, que ele é gay. Obviamente fiquei arrasada, mas ok – desandou a falar – Depois, que estava afim de você, o que é uma pena, porque o nosso Don Juan não quer saber de relacionamentos.
Repousei a cabeça no encosto da cadeira e fechei os olhos. "Me leva Deus! Acaba com esse martírio...".
- Aí você falou que também ficou apaixonadinho e eu dei um grito, que provavelmente acordou os vizinhos. Convenhamos, isso sim é um mega avanço! Só que o seu amado te deu um fora, porque cansou de esperar. "Hastag corações abalados". Como ousa me deixar de fora disso?
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Amor de Carnaval não Vinga
RomanceFazer justiça ou tramar a melhor das vinganças? Esperar sentado ou agir com as próprias mãos? Moral e impulsividade lutam entre si na mente de Augusto, um jovem e bem-sucedido empresário que percebe que o "incidente" do último carnaval pode leva-lo...