Capítulo 19

1.5K 160 166
                                    


"Eu vou arrasar, me decidi, vou me jogar por essa vida; Quero te ganhar, te possuir, te namorar vida bandida..." (Quebra Aê, Asa de Águia).

...

Fechei a porta do apartamento e encostei a testa na madeira. O feriado mal tinha começado, mas a cereja do bolo já tinha sido colocada. Suspirei pesaroso. Um maremoto de sensações ruins chocava-se na minha cabeça. Só conseguia pensar em me enterrar na cama e permanecer lá semanas a fio.

- Guto, é você?

O grito da minha visita, vindo do andar superior, lembrou-me de descartar qualquer possibilidade de isolamento:

- Oi prima, o que houve?

-Onde encontro uma toalha? Fala rápido antes que eu molhe o piso todo! – parecia afobada.

- No armário do lado da pia, embaixo! – esbravejei de volta, escutando a fechadura trancada como resposta.

Meu celular tocou. Era a quinta tentativa de comunicação do novo casal. Desliguei o aparelho, impaciente. Deixei o almoço em cima do balcão, e comecei a arrumar os pratos na mesa. Tentava planejar alguma programação para o dia, mas aquela maldita discussão insistia em bloquear os meus pensamentos.

- "Augusto? O que aconteceu?", a voz do meu funcionário tentava sobressair-se perante o rosto pálido.

- "Calma, vamos conversar. Flávio, vista alguma roupa...", Gustavo implorava.

Tal qual naquele momento, permaneci estático sem saber como reagir:

- Conversar é o caralho! – pensei alto, lamentando não ter dado essa resposta.

- Falando sozinho? – minha convidada deu o ar da graça, enxugando os cabelos e exalando um perfume suave de sabonete.

- Não, apenas divagando – era verdade – Achei que tinha se perdido no banheiro...

- Estava resgatando a minha beleza. Nem eu acreditei quando me vi no espelho.

Mal prestava atenção no seu senso de humor. Peguei os copos e pedi que ela levasse o refrigerante à mesa.

- E você – continuou – Tá com essa cara de derrota por causa da ressaca ou está escondendo alguma coisa?

"Isso, esfrega na minha cara, melhora meu ânimo...", revirei os olhos, sem ser percebido:

- Fome! Vem, vamos comer logo – sentei-me, já me servindo de um rolinho primavera.

- Sei... – desdenhou – Por acaso tem alguma coisa a ver com o que me disse?

- Do que você tá falando?

- Sobre o Gustavo.

Engasguei com a comida, arregalando os olhos.

- Eu bebo, mas não esqueço – ela gargalhou.

- O que foi que eu te contei, Marcela? – fiquei preocupado em diagnosticar até aonde teria ido a minha revelação.

- Bom, pra começar, que ele é gay. Obviamente fiquei arrasada, mas ok – desandou a falar – Depois, que estava afim de você, o que é uma pena, porque o nosso Don Juan não quer saber de relacionamentos.

Repousei a cabeça no encosto da cadeira e fechei os olhos. "Me leva Deus! Acaba com esse martírio...".

- Aí você falou que também ficou apaixonadinho e eu dei um grito, que provavelmente acordou os vizinhos. Convenhamos, isso sim é um mega avanço! Só que o seu amado te deu um fora, porque cansou de esperar. "Hastag corações abalados". Como ousa me deixar de fora disso?

Amor de Carnaval não VingaOnde histórias criam vida. Descubra agora