Capítulo 28 - II

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"A cada dia que eu te encontrar; No paraíso você vai viver; Já não consigo evitar; Fica comigo, agora é pra valer..." (Com Amor, Asa de Águia).

...

Adriano manejou a cabeça, assertivo, entregando certa expectativa com a solicitação. Enchi-me de coragem para descrever o quanto ele estava mexendo comigo, mas antes que pudesse pratica-la, um vulto nos assustou, batendo rapidamente na mesa:

- Sabem o que é isso? – Marcela exibia um papel escrito à mão – O número da vitória!

- Quem te garante que o telefone é real? – a colega desprezava o feito, lutando para alcançar o canudo do copo.

- E isso – minha prima apontava para ela – É o choro das inimigas! – gargalhava.

- Com as suas vantagens, até eu!

- Do que estão falando? – indaguei confuso.

- Um menino lindo que estava com dois amigos. Apostamos quem ia descolar o número dele primeiro.

- E como conseguiu?

- Estava de costas escutando o assunto, arranjei uma desculpa para entrar na roda e começamos a papear sobre o que teria sido da humanidade se Krypton não explodisse, e se Kal-El nunca tivesse dado as caras por aqui. É claro que ele ia gamar!

- Nem sabia que Clark Kent tinha esse nome – não escondeu uma feição de derrota.

- Raízes, querida! – apertou a minha bochecha – Minha fonte de informações é inesgotável!

- Se isso ajuda, também não fazia ideia – Adriano a consolou.

- Não se preocupe Eva, te empresto algumas revistas e voltamos aqui outro dia – reforcei.

- Por favor, nunca te pedi nada!

- Me avisa quando rolar esse workshop também. Quero ficar por dentro de algumas coisas – o novato se enturmava mais.

- Que lindo esse bate papo inclusivo, mas não quero desculpinhas – a vencedora abriu o cardápio – Você me deve um drinque.

- Poderia ter apostado uma rodada pra todo mundo, né? Cadê o senso coletivo? – cutuquei.

- Nós já economizamos a diária salgada de um hotel, não custa nada agradecer – a comparsa acatou.

- Assim é que se fala – Marcela chamou o garçom.

O que sucedeu a seguir parecia uma festa colegial. Bastaram duas rodadas para a improvável reunião virar um espetáculo de risos soltos, histórias pitorescas de fracassos amorosos, outras ainda mais mirabolantes de conquistas e flertes bem-sucedidos. Tudo no âmbito da comédia.

Adriano apenas escutava, revelando a sua – já conhecida e escassa – bagagem nesse campo. Às vezes até arriscava um palpite, mas sempre preferia se pronunciar quando tivesse uma opinião mais sólida. Cogitei questionar alguns pontos do seu passado, mas concluí que seria indelicado da minha parte fazê-lo na frente das duas. Na verdade, estava torcendo para que uma delas tivesse a iniciativa por mim e tirasse o peso da minha consciência, mas não aconteceu.

Meus relatos tinham algo de desabafo, por mais que tentasse torna-los engraçados. Aos poucos, também me tornei um mero espectador, ao lado do meu tímido acompanhante. De repente, toda aquela algazarra começou a se distanciar da minha concentração. As risadas em câmera lenta tornaram-se quase inaudíveis. Ser o ouvido amigo na mesa de bar deixou-me inerte por um instante, fazendo-me lembrar de um episódio que, de tão apaziguador, passara a ser um ritual.

Amor de Carnaval não VingaOnde histórias criam vida. Descubra agora