Capítulo 23

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"Essa alegria é minha fala, que declara a revolução, revolução; Dessa arte que arde, de um povo que invade, essas ruas de clave e sol, e de multidão..." (Música de Rua, Daniela Mercury).

...

Adriano ficou paralisado, sem acreditar no que escutara.

- Topa ou não? - reagi antes que me arrependesse da ideia.

- Aonde quer ir? - ele não escondia a surpresa.

- Uma lanchonete, talvez... Sei lá - dei de ombros.

- Tudo bem, me passa o endereço.

- Se estiver de carro, basta seguir o meu. Onde estacionou?

- Eu não dirijo - balbuciou com timidez.

- Então te dou uma carona, ué!

- Não precisa - parecia temer um novo confronto - Vou chamar um táxi.

- Não seja idiota. Se quisesse fazer alguma coisa contra você, já teria feito - retruquei.

O visitante ponderou alguns segundos e logo consentiu com a cabeça. Pedi um instante para salvar o trabalho realizado e desligar o computador. Ele permaneceu o tempo todo acuado ao lado da porta. Findado o processo, seguimos em silêncio pelo corredor, e avisei a Rebeca que já estava de saída.

Quando o elevador chegou, receou mais uma vez antes de entrar. Comecei a ficar impaciente:

- Quanto mais você pensa, mais demoramos em resolver o assunto. E aí?

Titubeante, dividiu aquele cubículo mínimo comigo, ainda taciturno e cheio de incertezas. Por um breve momento, me senti um monstro por ter colocado tanto medo em alguém. Talvez ele não estivesse preparado para escutar o que ia contar. Ao chegar à garagem, perguntei se queria ficar no banco traseiro, dada a preocupação. Num ímpeto de coragem, porém, abriu a porta da frente, como se quisesse provar que era digno de confiança.

Durante o trajeto, não sabia exatamente como interagir, estava mais atento ao lugar aonde iríamos. Lembrei-me de uma antiga cafeteria próxima de casa, com um ambiente aconchegante e intimista. Os espaços mais reservados seriam ideais para o tipo de conteúdo a ser discutido.

Assim que chegamos, percebi uma movimentação maior, talvez pelo horário. Pedi uma mesa para dois, e o mais afastado possível. A atendente prontamente nos direcionou, sem qualquer questionamento. Após nos acomodar, entregou o cardápio e disse que retornaria logo mais para anotar os pedidos. Olhei ligeiramente e percebi que ele examinava o ambiente, curioso com o local.

- O que vai querer? - chamei sua atenção.

- Não sei - voltou-se novamente ao menu - Acho que nada.

- Dificilmente teremos uma conversa rápida, por isso preferi sair da empresa. Melhor se abastecer.

Adriano não parecia interessado no que iria comer e provavelmente desejava ir direto ao ponto. A verdade é que aqueles minutos extras eram o artifício perfeito para maturar a maneira como discursaria sobre os últimos eventos. Pouco tempo depois a garçonete voltou, como prometido:

- E então meninos?

- Uma quiche de tomate seco e um cappuccino grande - anunciei.

- Certo, e você? - apontou com a caneta para o outro componente.

- O mesmo... - fechou o cardápio e o entregou em suas mãos.

- Tudo bem - ela deu um sorriso cúmplice, como se estivesse presenciando algum tipo de encontro - Volto já!

Amor de Carnaval não VingaOnde histórias criam vida. Descubra agora