"Tá procurando sarna pra se coçar, Tá procurando sarna pra se coçar, Me leva nesse embalo, lá, laê, lá, lá, ilá..." (Tá procurando sarna, Chiclete com Banana).
...
Dei uma leve batida na porta, respirei fundo e abri lentamente. Ela estava deitada na cama, enrolando o fio do telefone rosa no dedo, falando sem parar. Não queria incomodar, mas não podia negar um pedido dos meus tios. Fiz um sinal com a mão perguntando se poderia entrar:
- Gabi, espera um pouco – ela tapou o fone, interrompendo a conversa – Oi Guto, o que foi?
- Posso falar com você? – comecei a me aproximar do móvel, cheio de papéis de carta espalhados e desorganizados.
- Rapidinho... – se encolheu para retomar a ligação, quase cochichando – Amiga, volto já. Não durma agora, viu?
Marcela esticou o aparelho embaixo da cama e colocou no gancho.
- Seu ouvido não fica quente de tanto falar? – brinquei.
- Às vezes – ela tentou arrumar apressadamente a coleção em um álbum para me dar espaço – Mas tem muita coisa acontecendo naquela sala.
- A sua turma está em apuros?
- Não, só uma menina chata que está importunando um amigo meu.
- Importunando como?
- Ela fica do lado dele toda hora, dizendo coisas idiotas, querendo ficar a sós...
- E isso é ruim? – ri em pensamento, denotando o ciúme do coleguinha.
- Tá na cara que ele não está gostando disso, mas vou dar um jeito de mostrar que ela está sendo ridícula.
- Saquei – sentei ao seu lado, entregando algumas figuras de ídolos teen que tinham escapado para o chão – Ele é bonito?
- Quem? – ela se fez de desentendida.
- O seu amigo... Você gosta dele?
- Acho que sim, o Dan é legal.
- Então porque você não diz isso pra ele?
- Sei lá Guto, tenho medo. Não querem que me achem idiota ou boba – disse meio cabisbaixa.
- Ei... – levantei o seu queixo – Tem que ser muito mané pra te achar boba por causa disso.
- Você acha? – ela franziu a testa, sem conseguir esconder uma paixonite crescente no olhar.
- Eu tenho certeza. Você é a princesa que todo mundo sempre sonhou em ter ao lado. Se não for ele, será outro que te merece ainda mais, pode apostar.
Ela se ajoelhou na cama e puxou o meu pescoço para um abraço apertado. A pré-adolescência da minha quase irmã mais nova começava a revelar os hormônios aflorando e os sentimentos típicos dessa idade. Logo depois, comecei uma sessão de cócegas no seu pé, fazendo-a se contorcer em agonia no colchão. Quando sinalizei uma trégua, ela retomou o papo, ofegante:
- O que você queria falar comigo?
- Sua mãe veio me confidenciar que você andava muito curiosa sobre a minha vida.
- Que fofoqueira! É mentira!
- Tudo bem – fingi acreditar – Mas você quer me perguntar alguma coisa?
- Hum, não sei...
- Pode falar, não se acanhe.
- Acho que não é bem uma pergunta, primo.
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Amor de Carnaval não Vinga
RomansaFazer justiça ou tramar a melhor das vinganças? Esperar sentado ou agir com as próprias mãos? Moral e impulsividade lutam entre si na mente de Augusto, um jovem e bem-sucedido empresário que percebe que o "incidente" do último carnaval pode leva-lo...