Capítulo 2

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"E eu tão acostumado a ter tudo na mão, tão acostumado a ter sempre razão, perdi a noção de tempo, espaço e direção..." (Acabou, Ricardo Chaves).

...

Senti um formigamento no rosto e ouvi uma voz que parecia me chamar de longe. Marcela batia seguidamente no meu rosto, tentando me acordar:

- Augusto! Augusto levanta!

Comecei a abrir os olhos, totalmente desnorteado.

- Mas que droga, velho! O que aconteceu?

Olhei lentamente para o lado, e aos poucos me dei conta de que estava sentado no hall, ao lado da porta do apartamento, apoiado em um vaso de planta que decorava o local. Apertei os olhos na esperança de enxerga-la melhor, mas tudo parecia rodar.

- Anda Augusto, vamos entrar! – ela parecia bastante irritada.

Fazia uma força descomunal para estender-lhe a mão, na esperança de receber alguma ajuda para me reerguer. Marcela me puxava, mas as minhas pernas simplesmente não obedeciam. Tentei rastejar para dentro e, de uma forma totalmente desajeitada, alcancei o tapete da sala, a poucos centímetros da entrada, onde me dei por vencido.

Sem saber ao certo quanto tempo depois, senti minha prima abrindo os meus olhos e acender uma pequena lanterna. Um clarão me invadiu, prejudicando ainda mais a pouca visão que me restava. Encostei a cabeça novamente no chão e percebi que ela se afastava.

...

Sentia tantas dores pelo corpo e não sabia exatamente como localiza-las. Abri os olhos outra vez e a tontura havia melhorado consideravelmente. Virei a cabeça para o outro lado e dei de cara com o pé do sofá. Ainda estava no meio da sala e fazia um calor fora do comum. Não fazia ideia de como tinha ido parar ali. Apoiei-me no chão para conseguir me sentar e fui atingido por uma nova onda de espasmos, fazendo-me gemer de agonia. Fiz uma rápida avaliação e identifiquei que ainda trajava o abadá do dia anterior, além dos pés imundos e um odor insuportável. Olhei para o travesseiro no chão e logo em seguida avistei um prato com um sanduíche (provavelmente já frio) em cima da mesinha de centro. "Marcela...", concluí.

Mais um impulso e consegui ficar em pé. Segui para a mesa e havia um recado ao lado do prato:

"Querida Bela Adormecida, saí para almoçar com uns amigos. Espero não te encontrar no mesmo lugar quando eu voltar".

"Droga!", sabia que precisava conversar com ela, provavelmente estava muito chateada. Tirei o tênis, caminhei até a área de serviço, joguei-os no tanque de lavar roupa e peguei uma toalha. Assim que entrei no banheiro, notei que meu estado era pior do que eu imaginava. Estava tão sujo que qualquer pessoa poderia ter me encontrado numa lata de lixo. Livrei-me das vestimentas, num misto de nojo e repulsa e me olhei no espelho. Não constatei nenhuma escoriação, o que já era uma grande satisfação. Virei-me de costas e, além de uma grande vermelhidão no meu bumbum, notava algumas áreas pegajosas na minha coxa.

Liguei o chuveiro e senti uma enorme sensação de alívio quando a água quente começou a percorrer o meu rosto. Procurava focar nos locais onde estava doendo, para então tentar relembrar o que tinha acontecido.

"Deita aí, vamos fazer uma brincadeira gostosa...".

A frase de Alexandre ainda ecoava na minha cabeça, mas não sabia como a noite anterior tinha terminado. Apoiei a mão na parede e comecei a molhar o meu dorso. Quando a corrente atingiu a minha bunda, senti um ardor tão forte que meus olhos lacrimejaram, fazendo-me fugir da água.

"Que porra é essa que tá acontecendo aqui?", lembrei que em algum momento duas mãos seguravam os meus pulsos, e gelei. Desliguei o chuveiro rapidamente e saí do boxe. Virei de costas para o espelho mais uma vez e abri lentamente as nádegas. Uma dor latejante se manifestava ali, e não conseguia enxergar nada.

Amor de Carnaval não VingaOnde histórias criam vida. Descubra agora