"Não, não me abandone, não me desespere, porque eu não posso ficar sem você..." (Swing da Cor, Daniela Mercury).
...
- Cala a boca e me escuta! – ela gritou – Você confia em mim?
Não escondia um ódio mortal exalando pelos poros e travava os dentes evitando falar algo que me arrependesse depois.
- Responde! Confia ou não? – insistiu.
- Preste bastante atenção no que está fazendo – pronunciei com o dedo em riste – Vai querer mesmo colocar a nossa amizade à prova?
- Augusto... Se eu estiver errada, nunca mais vai precisar olhar na minha cara, mas se eu estiver certa, aí sim eu quero ver o que você vai fazer. Porque nesse exato momento estou confrontando o maior babaca que eu já conheci.
Continuava ofegante, irritado com o rumo daquela conversa.
- Eu vou sair agora desse apartamento – ela se mostrou impaciente – Se acredita em mim, me acompanhe e veja com os seus próprios olhos. Depois reflita se eu sou sua amiga ou não...
Juliana pegou a bolsa e caminhou para o hall, batendo a porta com força, uma das características marcantes que ilustrava a sua rispidez em determinadas ocasiões. Minha vontade era quebrar a primeira coisa que encontrasse pela frente, mas queria saber até onde ela levaria a acusação. Peguei a carteira e o celular e a encontrei aguardando o elevador.
- Reze para estar certa – disse furioso.
Chegando ao térreo, pediu que fôssemos no seu carro. Concordei em silêncio. Durante todo o trajeto não trocamos uma palavra sequer. Se o nosso companheirismo sobrevivesse a esse episódio, seríamos capazes de passar por tudo. À medida que avançávamos, as ruas ficavam cada vez mais conhecidas. No fim, estacionamos em um local bastante familiar para mim.
- O que a gente está fazendo aqui? – inqueri.
- A Suzana mora nesse prédio – apontou logo acima do vidro frontal do veículo – Foi ela quem viu, mas estava com medo de te avisar. Vamos logo, senão não dá tempo.
Não sabia ao certo como a residência de uma colega de sala serviria ao seu propósito. Comecei a me arrepender de ter aceitado a proposta. Juliana trancou o carro e seguiu para o interfone do antigo edifício.
- Oi, sou eu – falou agoniada ao ser atendida – Chegamos.
O portão se abriu e atravessamos a entrada. Suzana, visivelmente sem graça, nos convidou para entrar.
- Eles ainda estão lá? – minha colega perguntou.
- Estão, mas daqui da sala não dá pra ver. Vamos lá pro quarto.
Assim que fechou a porta, a moradora prosseguiu:
- Não façam barulho, ok? Meus pais já estão dormindo.
Assentimos e nos aproximamos da janela. Juliana inspecionava atenta e pediu para desligar a luz.
- Sabe que prédio é aquele ali, né? – me indagou séria.
Já tinha deixado Leonardo inúmeras vezes no imóvel citado, onde estudava com um colega de curso, mas não queria desenvolver a conversa. Apenas confirmei.
- Tenham paciência – a anfitriã revelou – Eles estão com visitas, mas logo ficam a sós. É sempre assim.
"Sempre assim?", me peguei inquieto, reparando que a denunciante analisava a minha reação. O local vigiado não ficava exatamente em frente à residência de Suzana, por isso precisávamos mirar na diagonal, e dois andares abaixo, para averiguar alguma coisa. De fato, meu namorado estava na sala com outras três pessoas e não tardou para que duas delas se despedissem, partindo em seguida.
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Amor de Carnaval não Vinga
RomanceFazer justiça ou tramar a melhor das vinganças? Esperar sentado ou agir com as próprias mãos? Moral e impulsividade lutam entre si na mente de Augusto, um jovem e bem-sucedido empresário que percebe que o "incidente" do último carnaval pode leva-lo...