Vizinhos, ex-amigos?

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Querido diário...

Não sei como devo fazer isso, meu avô decidiu me dar um caderno para eu fazer um diário enquanto eu moro aqui. Minha estadia agora é permanente, vou estudar na mesma escola que o vizinho do meu avô.

Não sei imitar o sotaque britânico igual o meu avô, mas acho que conforme os dias passam por aqui, é capaz de eu aprender rápido.
Eu faltei no primeiro dia de aula por medo, não sei como irão reagir com meu cabelo.

Será que faz sentido eu explicar da onde eu vim pra um pedaço de papel? Provavelmente não, mas vou te dar um contexto.
Meu nome é Lucy Montgomery, sou neta do Herman Melville da casa 185, eu morava em Nova Jersey do lado de Nova York. Meus pais não gostam de mim, sempre disseram que eu dava muito trabalho, aí eles me transferiram pra um internato de meninas em Washington. Eu já estava muito longe, e mesmo assim eles não estavam satisfeitos.

E foi aí que eu vim parar aqui, em uma cidade no interior da Inglaterra.

Mas não é a primeira vez que eu venho pra cá, tem um ano desde a última vez que vim, tinha que ficar com o tal do vizinho da casa da frente. Ele era bem tímido, amava ler, tinha cabelo grande. Trocava algumas palavras com ele, mas nada além de "oi" ou "Meu avô está te chamando".

Uma coisa que lembro era de como ele era preocupado com a mãe dele, pelo que eu sei, o pai dele morreu de câncer maligno e a mãe dele entrou em depressão. Triste, fiquei com peso na consciência por não ter sido amiga dele, mas também, ele não fazia o menor esforço pra ter uma conversa normal.

Mas mudando de novo, eu tenho medo de ir para escola. Quando eu morava no internato, minhas colegas de quarto estragavam meu cabelo ruivo. Puxavam, colocavam produtos no meu shampoo, o preendiam na cadeira. Teve uma vez que eu estava descendo as escadas do dormitório e começaram a brincadeira de me empurrar e puxar meu cabelo.

Doía muito, e dói até hoje. Meu coro cabeludo é fraco, as pontas além de ressecadas por conta dos produtos está extremamente fina pelos puxões.

Tem partes irregulares, elas amavam cortar meu cabelo na aula. E se eu não as respeitasse, eu iria ficar careca de tanto que elas iriam puxar meu cabelo.

Talvez, eu consiga deixar ele saudável finalmente. E a minha mente também.


《...》

- Querida? Está pronta? - o homem alto e barbudo, estava na porta vendo sua neta escrever algo no caderno que o mesmo deu.

- Estou sim vô, só preciso por a parte de cima do uniforme. Pode me esperar lá em baixo. - Ela disse, fechando o caderno e deixando em cima da mesa.

- Tudo bem, é que eu já vi o Edgar saindo, normalmente é bom sair no mesmo horário que ele, talvez um dia vocês possam começar a sair juntos pra escola. - Ele falou se aproximando da neta e colocando as mãos sobre os ombros. - Você está linda, se algo acontecer pode ligar pra cá, que eu apareço na hora!

- Do jeito que você é, capaz de no meio do caminho dar mal jeito nas costas e eu ter que te buscar no hospital.

- Haha! Eu te busco de ambulância, agora vamos, vai se atrasar!- o mais velho disse se virando.

Lucy se levantou pegando o colete com o brasão da escola. "Parece com o de Washington..." Pensou.

Colocou colete e pegou sua mochila.

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