Kevin havia perdido a noção de quanto tempo ficou no sofá, chorando em posição fetal e se culpando pelos erros de seus antepassados, até escutar a porta sendo aberta, fazendo-o secar o choro de imediato; o que não deu certo, pois qualquer um que avistasse seu rosto e seus olhos inchados e vermelhos saberia que o mesmo estava em lágrimas há pouco.
ーOi, meu anjinho. Seu pai foi levar seu irmão para uma festinha... Podemos assistir a novela juntos.
A mãe do garoto, dizia pendurando a chave ao lado da porta e pondo a bolsa sob a mesa de centro, olhando para o filho e reparando na sua tristeza.
ーKevin... Meu amor, o que houve? Que carinha é essa, hein?
A mesma havia sentado ao seu lado e começou a alisar sua face úmida, visivelmente preocupada, encarando os olhos azuis dele, tentando achar algo de errado. Olhando para sua mãe, o garoto voltou a chorar, enterrando seu rosto no vão do pescoço dela, que acariciava seus cabelos e passava a mão por suas costas.
ーShh... Estou aqui. Vai passar... Tente relaxar um pouco. -ela pegou uma almofada, ainda dando um cafuné no mais novo e deu tapinhas ali, indicando para o mesmo deitar a cabeça sob seu colo. ーVem.
Kevin não pensou duas vezes antes de fazer o que a mais velha havia lhe pedido, afinal o colo de sua mãe era o lugar onde se sentia seguro e confortável; não importa quanto tempo passasse, seria o melhor refúgio para Schlieb.
Depois de meia hora, o loiro começou a se acalmar, enquanto tantas coisas rodaram na sua cabeça durante esse tempo.
Ele tornou a se sentar ao lado da mãe, que fez uma carícia em sua bochecha, sorrindo de um jeito leve, como se estivesse o incentivando a contar o motivo de ter se sentido mal ao ponto de se debulhar em lágrimas. Kevin pensou, repensou, parou de pensar, gaguejou, engasgou e, ainda sentindo um nó na garganta, que parecia estar o sufocando, decidiu jogar as cartas na mesa.ーMãe... Eu fiz uma besteira... Uma das grandes...
ーAh, filho, você é adolescente, o que mais fazemos nessa idade é besteira. Não se martirize tanto.
ーNão, mãe... Eu... -ele respirou fundo.
ーNo seu tempo.Ela sorriu mais uma vez, virando-se para o menor e ficando mais confortável no sofá.
ーPromete que você não vai me julgar...?
ーKevin, você pode me dizer qualquer coisa.
ーBem... Eu meio que... Acabei traindo a Emily e... Ai! -o mesmo havia levado um beliscão de sua mãe, que agora o encarava com indignação. ーVocê disse que não ia me julgar!
ーQuando que eu disse isso? Eu sou sua mãe, é claro que eu vou te julgar, estando errado ou não... Como você pôde fazer isso, Kevin? Ela é tão boazinha...
ーE-eu sei... Eu estava bêbado, na verdade.
ーIsso não justifica. Já contou para ela?
ーNão tive coragem... Eu sei que eu errei.
ーTraição é uma escolha, não um erro...
ーMãe! Será que dá só para escutar, por favor?
ーDesculpa, vá em frente...Ele ajeitou seus óculos, limpando as lentes com as mangas do moletom e ficou brincando com as hastes para aliviar o estresse.
ーNo dia da festa, sabe, na sexta? -ela concordou, fazendo um sinal gestual para ele continuar. ーEu fiquei com outra pessoa... Mas foi só um beijo!
ーVocê gostou?
ーEu... -o garoto fechou os olhos, se lembrando do momento e deixou um sorriso escapar. ーAdorei. Foi o melhor beijo da minha vida.
ーHm... E quem foi essa garota, hein? Está gostando mais dela do que da sua própria namorada?Schlieb assentiu e sentiu que a vontade de chorar estava voltando, mas decidiu ignorar isso e formular melhor as suas palavras, mesmo sabendo que não queria dizê-las, precisava fazer isso, só assim se sentiria mais leve.
ーMãe... Eu... Beijei o Hunter... -sua voz estava trêmula e acabou saindo num sussurro, porém foi o suficiente para a outra entender.
A mais velha respirou fundo, ajeitando seu corpo novamente e encostando a cabeça no sofá. O silêncio no ambiente era ensurdecedor, mas era melhor do que uma possível gritaria desenfreada. Kevin só pensava em dizer "fala alguma coisa!", mas permaneceu calado, assim como a sua mãe que nunca havia ficado tão quieta na vida. Quando ela finalmente olhou para o filho, ela apenas apertou sua mão e agora era ela quem estava chorando.
ーM-mãe? Por que a senhora está chorando? É tão ruim assim eu gostar de homens...? -ele se afastou um pouco, sem desfazer o aperto.
ーNão... Não é o que está pensando, meu filho... Eu... Só... Não entendo.
ーEu posso tentar explicar.
ーVocê não gosta da Emily?
ーE-eu gosto dela, muito... Não é a mesma coisa. Eu demorei para perceber. Eu só vejo ela como uma amiga.
ーVocê realmente não sente atração por ela? Ou por nenhuma outra menina?
ーN-não... Eu juro que tentei. Não é como as coisas funcionam. Não sei dizer ao certo... Mesmo que ela me beijasse por horas, dias, semanas... Eu não ia sentir... Eu nunca senti nada. Pensei que só era questão de tempo pra gostar dos beijos dela, mas...
ーEsse dia nunca chegou? -ela limpava uma lágrima que escorria, enquanto o filho afirmava com a cabeça.
ーÉ constrangedor... Eu nunca, hm, tive desejos com mulheres... Entende?
ーC-claro, Kevin... Não precisa explicar essa parte. Filho... E sobre o futuro? Nunca pensou em ter uma família...?
ーAi, mãe, isso é tão retrógrado... Mas, sim, é óbvio que já pensei sobre o assunto. Toda vez que penso no futuro, me vejo casado... Com um homem. Eu não sei se quero ter filhos... Se eu quisesse, poderíamos adotar.
ーEu sei, você tem razão... É tanta informação...
ーPara mim também é... Acredite, tudo o que você está pensando agora, provavelmente eu já pensei o dobro.Eles ficaram se olhando e mais uma vez o cômodo foi invadido por um som inexistente, onde dava para escutar o nada e o tudo ao mesmo tempo. De um dia para o outro ambos haviam passado por um misto de emoções. Era um momento único e significava muito para o mais novo saber o que sua mãe achava sobre tudo o que havia dito a ela.
ーNão vai me falar nada?
ーO que eu deveria dizer? Acabei de descobrir que meu filho adolescente, que daqui a pouco vai se tornar um jovem adulto, é gay... E que gosta do melhor amigo de infância... Eu não tenho o que dizer.
ーNão...? Pensei que gritaria comigo, que iria me bater, me expulsar de casa, sei lá... Foi melhor do que imaginei.
ーKevin, escuta o que a mamãe vai te dizer, ok? Eu nunca faria o que acabou de sugerir. Essa não sou eu, não são os meus valores. Eu te amo com todo o meu coração e isso nunca vai mudar. Nunca mesmo. Eu só tenho medo. Medo por você. Medo pelo o que você pode passar, pelo o que pode te acontecer. Medo de que um dia você não volte para casa... Toda mãe tem esses medos. Mas, agora ele se intensificou. Eu não vou te tratar diferente apenas porque você não cumpriu as minhas expectativas. Saiba que você pode confiar em mim. Infelizmente, muita gente como você não tem esse privilégio. Então, lembra que se ninguém te aceitar ou te respeitar, eu irei. E é o que mais importa. Eu serei sua rede de apoio, tá bom?A mesma discursava com tanta sinceridade que fez o loiro voltar a chorar, dessa vez, porém, de felicidade. Sua voz e suas palavras calorosas aqueceram seu coração ansioso, tirando um peso imenso de suas costas. Sua mãe o puxou para um abraço, beijando o topo de sua cabeça. Kevin retribuiu, com toda a alegria que estava o invadindo, depois de dias sem dar um sorriso sequer. Assim que se separaram, a mesma segurou o queixo do mais novo e deu um beijo na bochecha dele, que sorriu aliviado pelo pior ter passado.
ーAgora, que tal assistirmos o novo capítulo da novela? Acho que tem um pote de sorvete na geladeira.
ーDe baunilha com flocos? -Schlieb sorriu.
ーSim, de baunilha com flocos. Guardei para um momento especial e esse, com certeza, é um.Quando a mais velha fez menção a se levantar, o garoto foi mais rápido e então fez o favor de pegar o pote e duas colheres. Ele não esperava que tudo tivesse tomado um rumo tão bom, não imaginou que o dia terminaria assim, tão bem. E naquele momento, tudo o que pensava era no quão sortudo ele era por ter uma mãe tão compreensiva; diferente de seu pai, que só de pensar na ideia de contar para ele ou dele acabar descobrindo sozinho, acabou por causar-lhe arrepios.
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Metal Boyfriends
FanfictionHunter Sylvester é um adolescente rebelde, o clássico bad boy do ensino médio, que demonstra sua ousadia através de seu estilo, sua personalidade e, principalmente, de sua banda, onde toca guitarra e é o vocalista, com músicas do gênero post-death m...