Metal Boyfriends

✎🎸„28 .ཻུ۪۪⸙͎

Emily ainda não havia recebido notícias de Kevin.
Aquilo a fazia perder todos os nervos de sua mente, que a mantinham calma; e já eram poucos os que conseguiam se preservar.
Ela conversou com Hunter, que disse que iria visitá-lo, mas não sabia se a missão fora concluída com sucesso, afinal, das outras vezes suas tentativas foram falhas e, até o momento, não havia recebido um retorno.
A garota aceitou o convite de Henri de sair de casa para esfriar a cabeça e se distrair enquanto a tal mensagem, ou ligação, não chegava nela e concordou de imediato. Ela precisava mesmo se distrair de toda a ansiedade dos últimos dias; até já havia pensado no pior. Sua mente às vezes gostava de fazê-la se sentir mal. E se estivesse certa? Não gostava nem de imaginar.

De tarde, ela se arrumou com um de seus vestidos de mangas bufantes, saia bolha e cor castanha com detalhes em areia. Esse traje era um entre os vários de seu arsenal de vestidos iguais, porém com cores diferentes, que poderiam ser usados para um passeio no parque, num dia quente e levemente fresco. Ou seja, era o dia perfeito para usar.
Spector encontrou o vizinho a esperando na varanda de sua casa e eles caminharam até o parque mais próximo.
Os dois ficaram conversando, alimentaram uns pombos e uns peixes que tinham no lago e compraram uma casquinha de sorvete para cada; uma de baunilha com cobertura de morango para Emily e uma casquinha mista simples para Henri.

ーEstá animada para a Batalha das Bandas? -o garoto perguntou na volta para casa, tomando seu sorvete. ーQuais são os planos?
ーHm, acho que estou mais ansiosa do que animada... Ano passado eu estava animada e perdemos, então... -ela deu uma risada, mordiscando a casquinha. ーEu e o Hunter decidimos fazer um mashup, com nossas três músicas autorais.
ー"Três"? Pensei que fossem só duas.
ーMeio que a gente está desenvolvendo uma nova... Não sabemos ainda se vamos usá-la na competição.
ーE por que não?
ーPorque não conversamos com o Kevin sobre isso... E nem sei se até lá a música vai estar pronta.
ーAh, eu entendo...

Cinnamon jogou sua casquinha no lixo quando terminou e Spector fez o mesmo.

ーPorém, tenho certeza que vocês vão conseguir.

Emily sorriu para ele e parou quando chegou na varanda de sua casa.

ーAcho que a minha parada é aqui...
ーE a minha ali... –ele apontou para o quintal ao lado.

A garota deu um tchau tímido, subindo os dois degraus que tinham do quintal para a varanda, mas Henri se aproximou.

ーPosso falar mais uma coisa antes de você entrar?
ーPode... O que foi?

O mais alto passou a mão pelos cabelos espetados, parecendo nervoso, mas suavizou sua expressão com um sorriso amarelo.

ーEm, não é de hoje que eu gosto de você e você sabe disso. Por mais que a gente saia e fique às vezes, eu sinto que queria algo a mais... Queria um compromisso. Eu e você. Você aceita?
ーHenri, eu adoraria... Mas, a resposta é não.
ーE-espera... Achei que você sentisse o mesmo que eu.
ーE eu sinto. –ela respirou fundo e se sentou na escada, no degrau de cima. ーO problema é que o que eu sinto por você não faz com que eu me sinta menos mal pelo o que aconteceu comigo e o Kevin... Não sei se consigo explicar.
ーTenta. –ele sentou ao lado dela. ーExplica do seu jeito. Não vou julgar nem interromper.
ーBem... Sei que já tem quase três meses que a gente terminou, não que seja recente de verdade, mas para mim ainda é... Eu não sei se eu conseguiria entregar o meu coração assim, tão fácil, de novo. Já foi difícil eu aceitar toda aquela chuva de informações e sentimentos conflitantes... E é foda eu não poder dizer que eu não errei, só que eu, também, não culpo mais o Kev e... Ele sumiu... Sei lá. Demorou para eu conseguir superar de alguma forma. Eu adoro passar o tempo com você, Henri, você é um dos caras mais legais que eu já conheci, a sua família é maravilhosa, assim como você e eu gosto de quando estamos juntos, independente de estarmos fazendo alguma coisa ou não... Você me ajudou muito nessas semanas e eu não quero pensar que estou sendo impulsiva ou, até mesmo, inconscientemente estar te usando como tapa buraco...
ーEu nunca acharia isso de você, Em, nunca.
ーTalvez... Provavelmente, sim... Eu digo mais por mim mesma, sabe? Quero me curar disso tudo. Quero não me sentir mal toda vez que penso nessa situação, toda vez que penso que o garoto que eu mais amei nem sequer um dia vai me amar da mesma forma. Quero não me sentir trocada, descartada, mesmo compreendendo as circunstâncias... Quero me sentir bem comigo mesma. Quero me amar mais e cuidar mais de mim. Quero me achar a mulher mais incrível do mundo e que também merece a felicidade que ela achou que já tinha conseguido e, no fim, o seu mundo acabou por desmoronar... Quero aprender a me reconectar comigo, ser mais eu. Quero saber que eu também sou merecedora de coisas boas. Dá para entender?

Henri ficou em silêncio, mas não um silêncio constrangedor, estava mais para confortável. Emily pensou, inclusive, ter escutado as engrenagens do cérebro do maior funcionando, mas devia ser só o nervosismo de ouvir algo de volta, qualquer coisa que fosse.

ーNão sei se entendo muito bem, mas pelo o que você disse, parece ser algo muito importante para você. Nunca passei por isso, mas se a garota que eu amo está passando, quero me fazer presente, quero te ajudar, ir aprendendo aos poucos... Com você. Se quiser que eu te ajude, claro, eu nunca iria te incomodar ou insistir em nada. Você é mais que a garota por quem eu me apaixonei ou a minha vizinha... Você é a minha amiga. Quero te ver bem. Mas, se quiser também que a gente se distancie, eu faço questão de fazer isso durante o seu processo de cura e...

A garota deu uma risadinha, segurando as mãos dele.

ーEu agradeço... Só... Não precisa se afastar... Quero que você esteja por perto, por favor. Sua amizade me faz bem. Fica do meu lado.
ーSim... Eu vou ficar.
ーAmigos... Por enquanto?
ーAmigos, por enquanto. –afirmou.

Ele ergue a cabeça para beijar a testa dela, que sorriu com o gesto e deitou a cabeça no ombro dele. Spector entrelaçou os dedos nos dele, com leveza e calma.
Continuaram por um tempo assim, em silêncio, apenas na companhia um do outro, até que um toque de celular começou a ficar alto, vibrando dentro da bolsa da garota. Ela se desvencilhou de Henri e pegou o aparelho, ficando de pé e atendendo no mesmo instante.

ーHunter?! Ele 'tá bem?! Sim, eu posso passar aí... Agora? Ok, eu já 'tô indo.

Emily olhou para o vizinho, que já estava de pé e sorriu como quem dizia que estava tudo bem. Então, Spector sorriu de volta, concordando com a cabeça; saindo disparada para o prédio em que Schlieb morava.