Capítulo 4

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Faziam alguns anos que eu não via o meu pai, eu evitava ao máximo qualquer contato com ele, e para ele ter vindo até aqui pessoalmente, então realmente ele tinha problemas. Caminhei pelo corredor e entrei em minha sala, encontro o homem sentado em minha cadeira virado de costas para mim, me aproximo devagar e ele se vira lentamente.

- O que veio fazer aqui? - pergunto sem rodeios, eu só queria que ele fosse embora. - E levanta dai, está poluindo a minha cadeira.

Ele se levanta e permanecia calado, dei a volta na mesa e me sentei, cruzo as perna e deixo meu corpo relaxar na cadeira, meu pai caminha pela sala parecia analisar cada centímetro do local, com certeza iria julgar alguma coisa isso é do feitio dele. Ele caminha devagar até mim e se senta na cadeira em minha frente, ele apoia uma das mãos sob a mesa e me encara.

- Eu vou deixar o meu cargo de chefe. - ele diz olhando diretamente para mim.

- E o que eu tenho haver com isso? - pergunto sem medo, eu queria enfrenta-lo.

- Você assumirá os negócios da máfia, já estamos cuidando de todos os trâmites.

Ao ouvir aquilo meu corpo congelou, tudo o que eu não queria era tomar conta dos negócios sujos de meu pai, e ele sabia muito bem disso, eu tinha um nome a zelar e uma empresa muito bem sucedida, eu não iria manchar a minha reputação.

- Você só pode estar ficando louco! - esbravejo e ele permanecia sério. - Eu jamais farei parte desse seu jogo sujo, eu tenho dignidade.

- Por favor, Rebeca! - ele diz com desdém e um sorriso debochado surge em seu rosto. - Você acha mesmo que isso aqui vai ter algum futuro? - ele aponta com os dedos para o escritório, indicando o meu fracasso. - Quem você acha que planejou o desabamento?!

- Você é um cretino, miserável - me inclino sob a mesa para ficar cara a cara com ele. - Eu já desconfiava, e fique sabendo que tudo já está sendo resolvido. Eu tenho nojo de você.

- Diga o que quiser, filhinha - seu tom debochado ainda era nítido, ele queria me provocar. - Você ainda vai implorar pela minha ajuda.

Meu sangue já estava fervendo, a raiva incontrolável ja havia tomado conta de mim, ele era meu pai mas a vontade de mata-lo era ainda maior. Passei a mão por debaixo da mesa e senti que a minha pistola ainda estava ali, em um movimento rápido e repentino saquei o revólver e apontei para a cabeça do homem a minha frente, ele permaneceu parado sem esboçar reação alguma.

- Será que se eu arrebentar a sua cabeça agora, eu vou ter um pouco de paz?! - encostei a pistola em sua testa, eu estava por um fio de apertar o gatilho.

O homem olha no fundo dos meus olhos e sorri de canto.

- Você tem meu sangue Rebeca, não adianta tentar evitar o inevitável. - sua voz era calma e tranquila, ele não estava com medo.

- Se eu fosse igual a você, eu te mataria sem peso na consciência, igual você fez com a minha avó. - engatilhei a arma e meu pai solta uma gargalhada assustadora.

Eu estava aponto de aperta a porra do gatilho quando Marcel entra na sala e presencia aquela cena, só aí dei por mim, e percebi a besteira que estava fazendo. Afastei a arme de sua cabeça e deixei sob a mesa, minha respiração estava acelerada. O que eu iria fazer? Eu estava me igualando a ele! Se Marcel não tivesse entrado eu teria feito uma besteira, eu teria matado meu próprio pai.

- Eu já estou de saída - meu pai se levanta da cadeira e me encara com um sorriso sínico. - Eu estou orgulhoso de você, Rebeca.

- Saí daqui, agora! - grito dentro daquela sala e tenho certeza que todos naquela empresa puderam ouvir. - Eu te odeio Alph, eu te odeio!

Ele saí e Marcel fecha a porta e em seguida vem em minha direção, o homem me envolve num abraço caloroso, eu estava precisando daquilo e ele sabia disso. Desabo a chorar em seus braços e penso em tudo que aquele maldito já me fez passar, minha vida estava indo bem e ele resolve voltar pra me atormentar, e ainda me coloca em uma posição que eu jamais queria estar.

Meu pai liderava uma gangue muito poderosa, a máfia italiana, desde pequena eu cresci vendo ele mantando pessoas, ordenando o tráfico e fazendo lavagem de dinheiro. A gota d'água pra mim foi quando Alph mandou que matassem a minha avó, pelo fato de que ele desconfiava que ela era informante da gangue rival, isso aconteceu no porão da nossa casa. Eu pude ouvir seus gritos de socorro e seu desespero implorando pela vida.

Alph não amou nem a própria mãe quem dirá a mim, eu nunca acreditei nele e sei que ele esconde muito mais coisas por debaixo dos panos. Ele é um assassino cruel e perverso e eu jamais serei como ele.

- O que ele queria? - Marcel pergunta se afastando de mim.

- Ele quer me colocar como chefe dos negócios dele - digo secando as lágrimas que insistiam em cair. - Você sabe que não sou como ele, não sabe?

- É claro que sei, eu só não sabia que você tinha coragem para enfrenta-lo daquela maneira. - ele sorri e coloca uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. - Você foi corajosa, Alph não vai voltar aqui tão cedo.

- Acho que vou pra casa, preciso descansar. - deixo um beijo em sua bochecha e caminho até a porta. - Obrigada, você um amigo incrível!

Saio dali e sigo para fora do prédio, entro em meu carro e dirijo até um mercado próximo eu precisava comprar algumas coisas, pois pretendia ficar no apartamento por alguns dias.

Entro no estabelecimento e vou direto para a seção de frutas, pego algumas maçãs e pêras, são as minhas frutas favoritas. Estava distraída olhando alguns tomates quando sinto alguém parar atrás de mim, aquele perfume que eu senti naquele dia mais cedo.

- Ainda gosta das mesmas frutas? - Dante pergunta em voz baixa, e aquela pergunta me deixa completamente sem reação.

Me virei devagar para ele, e aqueles olhos verdes me olharam da mesma forma como ele me olhava a dez anos atrás.

- Como você se lembra? - pergunto sem perder o contato visual. - A sua noiva me disse que você havia perdido a memória.

- Ela não mentiu, a gente pode conversar em algum lugar mais reservado? - ele diz enquanto me analisa, parecia fotografar com a mente cada detalhe meu.

Sem questionar dou a ele o endereço do meu apartamento, e ele sai sem dizer nenhuma palavra. Dante estava misterioso, e essa volta de memória repentina me fez questionar se ele estava mentindo desde o começo, ou se realmente era verdade que ele tinha recuperado as lembranças. Dentro de mim um fio de esperança começava a surgir, ele me reconheceu, seus olhos brilharam quando me viu, aquele olhar apaixonado que eu conhecia a muito tempo. O meu Dante estava de volta.


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