Rebeca Caccini
Algumas semanas se passaram desde do dia do acidente de Marcel, voltamos para nosso país e começamos a dar início no projeto que fechamos no México. Muitas coisas mudaram nessa quebra de tempo, e uma delas era que Dante e eu decidimos reatar o nosso relacionamento de anos atrás, estávamos nos conhecendo de novo, mas só nós dois sabíamos disso.
Até porque se meu pai soubesse não seria nada bom, pra nenhum dos lados. Nihan havia ficado com Marcel até ele se recuperar, ela estava ajudando ele em tudo que precisava, estava sendo muito prestativa. Depois de alguns dias, quando Marcel já estava bem o suficiente eles voltaram para a Turquia.
Estava eu em meu escritório avaliando algumas planilhas de contabilidade da empresa, e mais uma vez percebo um rombo financeiro. Aquilo já estava me dando nos nervos, como era possível?! A empresa sempre gerou bons lucros, não pode estar indo a falência simplesmente do nada! Respiro fundo e jogo a cabeça para trás apoiando no encosto da cadeira, estava pensando nas mil e umas possibilidades de reerguer o meu império, quando vejo Dante adentrar o local.
- Meu amor! - Ele exclama e se aproxima de mim, e deixa um beijo em meus lábios. - Como você está?
- Estou bem, só um pouco cansada. - digo enquanto ele se posiciona atrás da cadeira e começa uma massagem em meus ombros. - Isso é muito bom, continua.
- Conheço outros métodos para relaxar. - ele cochicha ao pé do meu ouvido e sinto meu corpo se arrepiar.
- Estamos no trabalho senhor Baronne, se controle. - sinto seu sorriso em meu pescoço.
Ele se inclina mais um pouco até alcançar a minha boca, onde inicia um beijo mais caloroso. Estávamos tão conectados que nem percebemos a porta do escritório ser aberta.
- Ah o amor, como é lindo - meu pai estava parado nos observando. - A quanto tempo essa palhaçada vem acontecendo?
Ele se aproxima de nós e vejo Dante caminhar lentamente em sua direção, tudo o que eu não queria naquele momento era um embate entre os dois. Alph para em sua frente e o encara, eu conhecia aquele olhar, a sombra da morte pairava sobre ele.
- Caccini, quanto tempo! - Dante diz com deboche, e analisa meu pai com afronta.
- Baronne, vejo que cresceu mas as atitudes continuam uma merda. - Alph não estava para brincadeiras, ele coloca as mãos no bolso de sua calça. - Não ouse a chegar perto da minha filha outra vez!
Dante solta uma gargalhada sem humor e volta a encarar meu pai.
- Ou que? Não me ameace Alph, você não sabe do que eu sou capaz.
Me aproximei e me coloquei entre os dois, eu previ que aquilo não iria acabar bem. Dante é o homem que eu amo, mas Alph é meu pai, não vou permitir que Dante fale com ele daquele jeito, não na minha frente.
- Já chega! Dante, ele é um filho da puta mas ainda é meu pai. - Olhos em seus olhos e vejo o sentimento de raiva, Dante estava fora de si.
- Seu pai?! Então pergunta pro seu pai desde quando ele está desviando dinheiro da empresa, e sabe o que mais?! Com a ajuda do Marcel, é isso mesmo Rebeca, o seu melhor amigo te apunhalou pelas costa! - A voz de Dante soa grave e mais alta que o normal, ele se desvencilha de mim e saí da sala.
Demorou um pouco para eu raciocinar aquelas palavras, já fazia um tempo que a empresa estava indo a falência. Dinheiro sumindo do nada e Marcel andava estranho, não comentava mais sobre as finanças, parou de entregar o balancê da empresa. Agora tudo fazia sentido, mas eu não queria acreditar que o meu melhor amigo faria aquilo.
Olho para o meu pai que permanecia parado a minha frente, ele suspirava alto como sinal de quem havia sido descoberto. Me aproximo dele lentamente, a raiva por dentro me consumia.
- Eu não me espanto que você faria isso, mas colocar o Marcel nessa sujeira toda?! - começo a bater em seu peitoral, descontando a raiva que eu estava sentindo. - Você é um babaca, eu te odeio, eu tenho nojo de você!
- Rebeca! - ele diz um pouco mais alto e segura meus braços. - Ele está querendo te deixar vulnerável, te afastar de quem te protege, você não vê?!
- Para de me jogar contra ele - puxo meus braços e me afasto dele. - Dante é o único que se importa comigo, ele jamais faria isso.
- Quando você perceber, eu espero que não seja tarde. - seu olhar sombrio deu lugar a piedade, eu nunca vi aquele olhar.
- Vai embora e me deixa em paz!
Alph sai da sala e me deixa ali numa situação deplorável, a minha vontade era de mata-lo com as minhas próprias mãos. Saio da empresa e sigo a caminho do apartamento de Marcel, ele ainda estava em casa por conta da cirurgia não tem trabalho na empresa. Eu precisava de uma explicação. Eu não queria acreditar que ele fosse capaz de me trair daquela maneira, ele me prometeu que não seria manipulado, me prometeu lealdade.
Dirijo com rapidez até o prédio, estaciono o carro e desço seguindo para o elevador. Já parada em frente a porta de seu apê, fiquei um tempo tentando segurar as lágrimas pra conseguir bater de frente com ele. Marcel ainda estava se recuperando da cirurgia que havia feito no México, e eu não queria agravar a situação.
Bato á porta algumas vezes e quando a mesma se abre, vejo o vislumbre de Nihan a minha frente. A observo por alguns segundos e noto que ela está vestida com uma das camisas de Marcel, aquilo me causaria ciúmes em outra ocasião. Mas naquele momento eu só queria colocar tudo em pratos limpos.
- Oi, Marcel está? - pergunto olhando por cima de seus ombros a procura daquele traíra.
- Está sim, entra! - ela dá espaço e em seguida eu entro. - Fique a vontade, eu vou chamá-lo.
Ela estava me tratando como se o apê fosse dela, Nihan não perde tempo.
Ela some do meu campo de visão, espero por alguns segundos e logo vejo o homem de cabelos bagunçados adentrar a sala, seu sorriso contagiante não tinha aparecido desta vez. Marcel se aproxima de mim e para em minha frente, ele não parecia nem um pouco surpreso com a minha visita, sua expressão era indecifrável.
- O seu pai me ligou minutos atrás. - Ele tenta encostar em mim mas eu recuo. - Rebeca..
- Como você teve a coragem de fazer isso comigo? - Questiono o interrompendo. - Meu Deus, eu confiei em você, eu acreditei na porra da sua lealdade!
Começo a andar de um lado para o outro, eu estava nervosa demais para permanecer quieta.
- O seu pai me fez ameças, ele ameaçou a Cecília. - ele diz se referindo a irmã, e vejo seus olhos se enxerem de lágrimas. - Você sabe que Cecília é tudo o que eu tenho. Eu não fiz por maldade, eu fiz para protegê-la!
- Porque não me contou? Você sabia que eu podia te ajudar. Eu conheço todos os truques do meu pai! - seco as lágrimas que insistiam em cair. - Como eu fui burra, eu olho pra trás ligo os pontos e percebo o quão idiota eu fui. Mas a errada aqui sou eu, eu que confiei em você, um desconhecido que entrou na minha vida do nada!
Marcel se aproxima de mim novamente, e segura meu braço e em seguida desce para a minha mão. Seus olhos estão cobertos pro lágrimas, o arrependimento é nítido, mas eu não conseguiria perdoar assim tão fácil. Ele quebrou a minha confiança, e junto com ela a nossa amizade.
- Rebeca..
- Você está demitido! - digo com uma dor imensa em meu coração. - E não me procure mais, eu não tenho mais nada a ver com você.
Deixo seu apartamento e entro no elevador, ali sozinha, eu pude chorar. Marcel sempre foi meu melhor amigo, e dizer aquelas palavras doeu mais em mim do que nele. Eu esperava aquilo de meu pai, de qualquer um, menos de Marcel, ele sempre foi o meu pilar. A pessoa que eu confiava cegamente, o meu braço direito. Depois daquele dia ele se tornou um homem comum.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Tudo de Você em Mim
RomanceRebeca Caccini, uma mulher empoderada que aos vinte e seis anos já é dona de uma das empresas mais renomadas da Turquia, Beca, como gosta de ser chamada, esconde um passado obscuro, que acabará vindo a tona quando ela finalmente reencontra o seu ant...