⚠️️ Este capítulo contém gatilho ( tentativa de suicídio) ⚠️
Rebeca Caccini
Ver meu melhor amigo caído no chão e machucado, a sua camisa branca coberta de sangue, certamente não era uma cena que eu gostaria de ver. Enquanto eu gritava desesperadamente para ele não me abandonar, seus olhos fechavam lentamente enquanto me olhavam, foi a cena mais desesperadora da minha vida.
A ambulância chegou e levamos Marcel para o hospital mais próximo, assim que chegamos levaram ele para uma sala e eu briguei com as enfermeiras, pois eu queria estar com ele o tempo todo. Vendo o meu total desespero elas aceitaram, desde que eu ficasse quieta num canto enquanto eles realizavam os procedimentos.
Marcel estava deitado em uma cama hospitalar, e seus batimentos estavam sendo monitorados por um aparelho. Os médicos pediram uma pilha de exames e tomografias, colocaram um tubo de respiração seria por onde Marcel iria respirar, até ele recobrar a consciência. Estava tudo indo bem até o aparelho que monitorava seus batimentos começar a apitar de forma continua. O coração dele havia parado.
- Parada cardíaca - uma das medicas diz em voz alta. - Pega o desfibrilador, agora!
Eu estava completamente apavorada, eu não sabia o que estava acontecendo e nem se meu amigo estava bem, naquele momento eu só sabia chorar e implorar para salvarem a vida de Marcel.
- Ele assinou a O.N.R - outra médica diz e os médicos param o que estavam fazendo. - Eu peguei a ficha do paciente em outro hospital, ele assinou a ordem.
Mas que porra era O.N.R?
- O que isso quer dizer? - pergunto me aproximando mais dos médicos.
- Ordem de Não Reanimar. - o doutor me explica e me olha com pena.
Aquilo não poderia acontecer, Marcel não pode me deixar ele era a única pessoa que se importava comigo, não, ele não vai me deixar.
- Ressuscita ele - os médicos me encaram como se eu fosse louca. - Ressuscita ele agora!
- Não podemos senhorita, é o desejo do paciente.
- Ele não está em condições de decidir nada agora, ele é meu melhor amigo, ele é a única pessoa que eu tenho nesse mundo. - Digo com lágrimas de súplica em meu olhos. - Por favor, faça isso por mim!
A doutora me encara com carinho e depois olha para os outros médicos, eu me distancio dela e volto para onde eu estava.
- Inicia uma dose de adrenalina e meia de atropina. - ela da as ordens e as enfermeiras começam a trabalhar, em seguida apanha o desfibrilador. - Carrega em duzentos. Afasta!
A mulher encosta o aparelho no peito do meu amigo e despeja a carga elétrica, de longe eu torcia para que a qualquer momento o coração dele voltasse a bater.
- Carrega em trezentos. Afasta! - Mais uma vez seu corpo é chocado.
E como um milagre se pode ouvir o aparelho medir a frequência cardíaca novamente.
- Ele voltou, prepara ele pra cirurgia, vamos operar. - A doutora diz animada.
Voltei pra sala de espera, Nihan e Dante estavam ali também. Me aproximei dos dois e sem pensar Dante me envolve em um abraço reconfortante, ali eu pude chorar feito uma criança. Eu senti o acalento de seus braços e o carinho que ele ainda sentia por mim, pude ouvir seu coração bater de pressa.
Nos sentamos nos bancos que haviam na sala de espera, Dante ficou o tempo todo ao meu lado segurando a minha mão. Nihan estava sentada a nossa frente mas parecia não se importar com a gente. Ela parecia mesmo era estar preocupada com Marcel, a todo instante ela olhava para a porta por onde ele foi levado. Seus olhos estavam marejados e ela esfregava as mãos uma na outra, ela estava preocupada.
- Parece que a sua noiva está nervosa - digo quebrando aquele clima tenso.
- Ex noiva - ele diz e me encara com a expressão seria. - Terminamos o noivado.
- É sério? - exclamo mais animada que o normal. - Quero dizer, sinto muito por vocês.
Dante sorri levemente e segura forte a minha mão.
- Não temos mais nada nos impedindo de ser felizes, agora só depende de nós! - ele beija o dorso de minha mão. - Eu te amo, florzinha.
Enquanto ele se declarava eu só conseguia pensar nas ameças de meu pai, toda maldade que ele faria com Dante se soubesse que estávamos juntos.
- Podemos falar disso depois? Marcel está lá dentro sendo operado, não consigo pensar em mais nada. - Não poderíamos ficar juntos, meu pai o mataria.
Ele apenas concorda e voltamos a ficar em silêncio. Esperamos por longas quatro horas e Nihan continuava inquieta, andava de um lado para o outro suspirando fundo.
- Que droga, porque estão demorando?! - ela dizia enquanto passava as mãos pelos cabelos.
Eu não queria pensar naquilo, mas Nihan estava preocupada demais para quem conhecia Marcel em tão pouco tempo, ou só poderia ter se apaixonado por ele.
Saí dos meus pensamentos quando um dos médicos responsáveis apareceu para nos dar notícias, e sua cara não era das boas.- Eai doutor, como ele está? - pergunto me aproximando do homem de cabelos grisalhos.
- A cirurgia foi delicada, durante a operação ele teve duas paradas cardíacas, seu estado é delicado e será um milagre se ele passar desta noite. - O doutor nos olha com pena. - E na tomografia que fizemos, encontramos um aneurisma no cérebro. Notamos que está em estado crítico e é inoperável, eu sinto muito.
Naquele instante eu vi meu mundo cair, meu melhor amigo poderia não sobreviver e estava com uma bomba relógio alojada em seu cérebro. Só consegui lembrar de todos os momentos maravilhosos que passei ao lado de Marcel, e eu não saberia viver sem ele. Eu estava cansada de tudo aquilo, estava cansada de perder pessoas que eu amava. Estava cansada de atrair problemas, eu estava cansada das ameças de meu pai.
Eu estava cansada daquela vida de merda
Saí daquele hospital e pedi para que nem Dante e Nihan me seguissem, eu queria ficar sozinha. Eu precisava ficar sozinha. Caminhei por aquelas ruas sem rumo e sem medo do que pudesse me acontecer, minha visão turva pelas lágrimas não me deixavam enxergar por onde eu estava andando. Cheguei perto da praia e parei em frente aquela imensidão que era o mar, enfiei meus pés na areia e senti o ar entrar pelos meus pulmões.
Caminhei devagar até a beirada e senti a água molhar meus pés, pensei em toda a minha vida até aquele momento. Eu vivi tudo o que tinha pra viver?! Eu vivi o meu amor de adolescência, eu o amei até aquele momento, eu ouvi ele se declarar pra mim pela última vez. Eu tentei ser a melhor amiga que Marcel poderia ter tido, eu o apoiei em todas as suas escolhas e eu o amei, eu o amei muito.
E meu pai? Bem, por mais que ele me odiasse, no fundo eu o amava, eu sempre o amei mesmo ele sendo um pai de merda.
Todas as pessoas que passaram pela minha humilhante vida, irão se lembrar de mim.
Continuei caminhando mar a dentro até sentir que meus pés não alcançavam mais o chão, as ondas me puxavam para baixo, a correnteza me arrastava para o outro lado. Eu poderia lutar e desistir daquela loucura, mas eu estava cansada de tudo o que já havia passado. Eu não queria mais lutar, e eu tinha certeza que tudo seria melhor sem mim, o meu pai seria mais feliz, Dante se casaria com a Nihan sem sentir culpa e Marcel não iria se preocupar em me amar.
Eu era o fardo de todos eles
Senti meu corpo afundar nas águas e meus pulmões arderem, eu já não tinha mais consciência, era o fim.
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Tudo de Você em Mim
RomanceRebeca Caccini, uma mulher empoderada que aos vinte e seis anos já é dona de uma das empresas mais renomadas da Turquia, Beca, como gosta de ser chamada, esconde um passado obscuro, que acabará vindo a tona quando ela finalmente reencontra o seu ant...