Capítulo 9

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A luz do sol parecia querer me torturar pela manhã, mau consegui abrir meus olhos e já pude sentir a terrível dor de cabeça me atingir com força, me sento na cama e sinto um gosto amargo em minha boca. Sinto meu estômago embrulhar, e corro pro banheiro colocando pra fora todo vinho da noite passada, me levanto do chão e encaro meu reflexo no espelho do banheiro, eu estava aos cacos.

Tiro minhas roupas e tomo um longo banho, deixo a água correr pelo meu corpo enquanto tentava me lembrar da noite passada. E a última coisa que me recordo era de que eu estava dançando feito uma louca, e me humilhei por um beijo de Marcel, a bebida antes de te matar ela te humilha. Termino meu banho e coloco roupas confortáveis, afinal de contas estava um final de semana preguiçoso.

Caminho em direção a cozinha e escuto um cantarolar e o cheiro de comida invade meu nariz, ao entrar no local encontro Marcel vestido com uma bermuda azul, e sem camisa, ele parecia estar distraído cozinhando alguma coisa. Me aproximo dele e o abraço por trás deixando um beijo em suas costas.

— Bom dia — me sento em uma das banquetas que havia ali.

— Boa tarde, donzela! — ele para o que está fazendo e me estende uma aspirina e um copo com água. — Vai ajudar com a dor de cabeça.

— Você é incrível. — coloco o remédio na boca e bebo a água. — O que houve ontem? Eu não me lembro de nada.

Marcel me encara com um sorriso safado.

— Não acredito que você não se lembra, me sinto ofendido. — ele volta a mexer nas panelas. — Foi a minha melhor noite, você é boa de cama, a gente colocou uma música romântica e o resto você sabe.

— Marcel! — exclamei espantada, levo uma das mãos á cabeça sentindo uma leve pontada. — Você tá dizendo que a gente.. — aponto para nós dois e Marcel cai na gargalhada.

— É claro que não, a gente não fez nada e eu dormi no quarto de hóspedes! — ele ria feito um idiota descontrolado. — Nada paga a cara que você fez, foi ilário.

— Você é um imbecil. — indago fingindo irritação.

Depois de almoçarmos decidimos ver um pouco de tv enquanto falávamos sobre a vida dos outros, o meu passa tempo favorito era fofocar com Marcel, ele tinha ótimas fofocas sobre tudo e todos. Olho em meu relógio e percebo que já passavam das três da tarde, e eu ainda estava me sentindo vazia e solitária. Me levantei do sofá e segui para o meu quarto, abri meu armário de peguei uma caixa onde eu guardava as minha sapatilhas de ballet.

Me sentei na cama e coloquei a caixa sobre o colchão, retirando a tampa, assim que botei os olhos naquele par de sapatilhas rosê meu coração já se lembrará, dos anos que eu praticava ballet. Marcel me apresentou o mundo da dança quando ainda éramos jovens, e confesso que eu me apaixonei de instante. A dança pra mim se tornou a minha válvula de escape, como algumas pessoas usam a leitura ou a escrita pra fugir da realidade, eu usava a dança.

E ali segurando aquele par de sapatilhas, pude notar que eu precisava retornar para a minha terapia, coloquei os sapatos na bolsa, logo em seguida o meu uniforme que eu usava para praticar, prendi meus cabelos, e estava me sentindo pronta para voltar a fazer o que eu mais amava. Retornei para a sala e encontro Marcel ainda vendo tv, pego o controle remoto e desligo o aparelho.

— Qual a su.. uau, vai pra onde? — ele questiona com a curiosidade atiçada.

— Vou ao studio, quero voltar a dançar!

— A minha Rebeca está de volta. — ele se levanta do sofá e em seguida me abraça. — Eu vou com você, afinal faz tempo que eu não pratico.

— Tudo bem, vamos não quero me atrasar.

Saímos do prédio e fomos a caminho do studio de dança, enquanto dirigia até lá, meus pensamentos foram dominados pela única pessoa que tinha esse poder, Dante. Tudo me fazia lembrar ele, meus pensamentos estavam em modo automático, o rosto perfeito do senhor Baronne já estava totalmente cravado em minhas memórias.

Assim que estaciono o carro em frente ao local, um frio percorre minha espinha, parecia que era a primeira vez que eu fazia aquilo. As lembranças da primeira vez que estive ali me inundaram como um tsunami, eu verdadeiramente precisava da minha terapia outra vez.

Fechei o carro o segui para dentro do studio, assim que entrei a música já tomou conta dos meus ouvidos, a melodia suave e tranquila faziam meu me sentir em casa. Marcel segurou a minha mão e fomos até o nosso até então ex professor, quando Seifh nos viu seus olhos se encheram de água de imediato, era notável a saudade que ele sentia de nós.

— Meus melhores alunos! — ele se aproxima e nos abraça. — Como eu senti saudades.

— Nós também Seifh, e voltamos pra ficar. — Marcel exclama e me lança um breve sorriso.

— Hoje esse studio está me agradando, agora pouco chegou uma aluna que quer aprender a dançar. — ele procura por alguém em volta. — Ali está ela, Nihan, venha aqui querida.

Quando me viro para conhecer a tal aluna, o espanto era nítido em meu rosto, a noiva de Dante estava em minha frente com um sorriso sínico em seus lábios.

— Rebeca! — ela indaga fingindo animação. — Que bom vê-la por aqui.

— Não posso dizer o mesmo. — exclamo, cruzando os braços.

— Se conhecem? — Seifh pergunta animado. — Que ótimo, isso será curioso, Rebeca você será perfeita para a minha nova peça.

— Oh não, eu só estou aqui por hobbie. — digo tirando o casaco e começando a me alongar.

Seifh me fita com um olhar de súplica, ele sabia como me convencer de algo.

— Tudo bem, qual a peça? — pergunto sem o mínimo de empolgação.

O fantasma da ópera! — o professor bate palma animadamente. — E Marcel será o seu par.

— Mas o fantasma da ópera é dança contemporânea?! — Marcel pontua começando seus alongamentos. — Rebeca e eu dançamos ballet.

— Quem dança ballet, está pronto para tudo. — Seifh expressa e logo nos guia para o meio do salão.

Depois de algumas instruções de como deveríamos fazer, Marcel e eu começamos a dançar, com leveza, a impressão que tínhamos era de voar pelo salão. A música melodramática ecoa por todo local, e nossos corpos pareciam trabalhar em uma única junção, naquele instante éramos um só.
Os rodopios no ar e as carícias teatrais faziam toda a diferença, no final da música nossos corpos estavam tão colados que pude sentir o peito de Marcel, subir e decser com rapidez.

Ao fim daquela dança o meu coração estava mais leve, eu já não me tinha mais como uma pessoa de alma triste. Eu estava radiante, o pouco tempo que passei ali foi o suficiente para recarregar as energias, e poder voltar para a realidade dura e cruel de minha vida.

Notei também que enquanto Marcel e eu estávamos envolvidos com a dança, Nihan não tirava os olhos de nós, parecia devorar o meu melhor amigo com os olhos, confirmando as minhas teorias assim que nos separamos, a mulher se aproximou dele parecendo um lobo atrás de sua presa.

— Você dançou muito bem, fiquei impressionado. — ela alisava o braço de Marcel o apertando sutilmente.

— Obrigada, mas o mérito não é só meu, Rebeca também deu um show a parte. — ele me olha e me lança uma piscadela.

— É tanto faz, podemos sair um dia desses, tomar um café. — ela se inclina e deposita um beijo na bochecha de Marcel. — Como amigos, é claro!

Sem dizer mais nada ela se retira do local, e eu me aproximo do meu amigo parando ao seu lado, o mal caratismo daquela mulher era inacreditável.

— "Como amigos, é claro" — imito a voz irritante da mulher e Marcel cai na gargalhada. — Vamos embora.

Arrumamos nossas coisas e seguimos para o nosso prédio. Chegando em meu apartamento fui logo pro chuveiro precisava de um banho longo e relaxante, enquanto a água quente corria pelos meus ombros mais uma vez Dante se fez presente em meus pensamentos. Eu não conseguia esquece-lo, aqueles olhos verdes intensos sempre me encarando, como se estivesse vasculhando a minha alma. Tudo o que eu mais desejava naquele momento, era de estar em seus braços e ele me tomar para si como eu sempre sonhei, desde do dia em que ele foi embora.

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