Epílogo

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KARA

Era a mulher mais sortuda do mundo. E nem estava sendo dramática. Essa era a melhor parte.

Não era a garota que costumava ser, aquela que devorava as sobras que as pessoas me ofereciam e depois se gabavam da refeição que me deram para amigos e familiares.

Não.

Lena me deu um banquete que me alimentaria por meses, décadas, pelo resto da minha vida. Para uma mulher que estava acostumada a estar sozinha, e os contratempos de Louise com que se preocupar, ela era surpreendentemente hábil em iniciar e desenvolver um relacionamento.

A mulher de alguma forma conseguiu me dar uma exposição de presente de Natal, pelo amor de Deus. 

Que era onde estávamos.

Sonhei com minha primeira exposição um milhão de vezes ao longo dos anos. Mas nenhum desses devaneios chegou perto da realidade.

Lena me levou a uma galeria íntima com suas janelas da frente do chão ao teto como marca registrada e paredes brancas para que o tráfego de pedestres pudesse ver a arte e, possivelmente, decidir entrar para comprar algo. 

E tenho a maldita coisa toda para mim. Sem compartilhar de espaço na parede. Posso colocar minhas telas tanto quanto eu quiser. Reconheço que fiquei um pouco louca. Mas, apesar de geralmente ouvir apenas coisas positivas sobre minha arte, ainda havia aquela pequena artista insegura dentro de mim que tinha certeza de que as pessoas iriam arrastá-la na lama.

Então, enchi o lugar com todos os estilos diferentes, de paisagens a retratos e tudo mais. A multidão também era incrível. Entre meus antigos colegas de escola de arte e os amigos de Lena, estava praticamente lotado desde que as portas se abriram.

Lena estava com meus pais olhando para um retrato que fiz de minha mãe caminhando em seu jardim com um vestido esvoaçante cor de canela, o cabelo balançando com a brisa, o braço estendido, passando os dedos pelas superfícies das flores silvestres que ela tinha plantado muitos anos antes.

Era um dos meus favoritos. O suficiente para que o pintasse duas vezes. Um para vender, outro para manter. 

— Posso roubar Lena por apenas um minuto? — Pedi, ligando meu braço ao dela.

— Claro que você pode, querida. — disse minha mãe, dando-me um grande sorriso. 

— O que está acontecendo? — Lena perguntou, franzindo as sobrancelhas enquanto eu a levava em direção ao fundo da galeria.

— Tenho um quadro que fiz só para você. — disse eu, mal conseguindo conter minha diversão, minha piadinha que esperava ser tão engraçada para ela quanto foi para mim.

— Você tem? — Lena perguntou, parecendo tocada. — Espere, Kara... — disse ela, com os olhos arregalados.

— Não é uma tela de pau, não se preocupe. — disse a ela, inclinando minha cabeça contra seu braço. — Aqui, — disse, me afastando para mover uma planta falsa cuidadosamente posicionada para fora do caminho.

E aí estava. Meu presente para ela. Uma grande e feia tela branca com algumas listras pretas e cinzas nela.

— Em homenagem ao seu péssimo gosto para arte antes de você me conhecer. — disse enquanto ela olhava para tela por um segundo antes de começar a rir. 

Não pensei em nada com ela enfiando a mão no bolso. Mas então ela estava se ajoelhando. E abrindo a caixinha azul na mão.

Então aí estava.

O anel perfeito.

Não um diamante simples e claro cortado em um círculo ou um quadrado, uma pedra e um estilo que não teria me agradado de forma alguma.

Não. 

Era um grande diamante amarelo com lapidação pera, alinhado com pequenos diamantes rosa. Extravagante, colorido e único.

Perfeito. Era absolutamente perfeito.

— Oh, meu Deus. — engasguei, meu olhar deslizando do anel para seu rosto adorável. O rosto da mulher que estava fazendo todos os meus sonhos se realizarem, aqueles que conhecia por toda a minha vida, e aqueles que estava apenas começando a perceber e virem à vida.

— Case-se comigo, Kara! — disse ela, a voz baixa, mesmo enquanto os suspiros e Awwws da multidão começaram quando perceberam o que estava acontecendo.

Ainda era um relacionamento relativamente novo?

Sim.

Mas sabia quase desde o momento em que finalmente nos encontramos que era algo diferente, algo especial?

Absolutamente.

— Sim! — disse, estendendo minha mão para ela.

Ela pegou o anel e o colocou no meu dedo. Uma vez colocado, estendi a mão, agarrando seu rosto, inclinando-me para frente e selando meus lábios nos dela. Lena se levantou, envolvendo os braços ao meu redor e aprofundando o beijo.

Nós nos separamos sob aplausos, e mesmo enquanto minha mãe corria para frente, uma voz familiar se elevou acima do outro barulho na sala.

— Yey! Não perdi! — Sam gritou, correndo no meio da multidão e se jogando em nós duas.

— Sam! — Disse, apertando suas costas com um braço, meu outro ainda em torno de Lena. — Você veio! 

— Claro que vim. Estava vindo apenas para a exposição porque é um grande negócio, mas então sua garota aqui me disse que seria um evento extra especial e me enviou uma passagem para voar. Passagem de primeira classe, devo acrescentar. Foi um voo chique… — disse ela, dando a Lena um grande sorriso. — Ela é para casar. — declarou ela.

— Vou casar com ela. — concordei, mostrando a ela o anel.

— Oh, é tão perfeito quanto Lena disse que era. — disse ela, com um enorme sorriso no rosto. 

— É! — concordei. — Então como você está?

— Ótima! Estou amando o calor em LA e as pessoas. Eles são tão dramáticos quanto eu... — disse ela com um sorriso que dizia que ela sabia que era exagerada na maior parte do tempo. — E o programa é fantástico.

— Você tem muita química com essas duas garotas. — disse Lena, sendo minha companheira viciada em novela. 

O olhar de Sam deslizou para o meu, uma luz em seus olhos que era inconfundível. Sim, Sam gostava de ser compartilhada. E algo estava me dizendo que seu triângulo na tela era, na verdade, um relacionamento de três vias na vida real de algum tipo. 

— Estou tão feliz por você! — disse a ela, estendendo a mão para dar um aperto em sua mão.

— Estou tão feliz por você também. Oh, exceto por isso… — disse ela, olhando além de mim para a peça que fiz para Lena como piada. — Que diabos é isso? — Ela perguntou.

O resto da noite foi um borrão de parabéns e ver pequenos adesivos vermelhos aparecendo nos cantos das telas que haviam encontrado compradores.

— Oh, você não fez! — disse quando Lena me puxou para fora depois, e uma limusine parou. 

— Oh, eu fiz, — ela disse, a voz rouca porque já sabia o que eu tinha em mente. E envolvia nudez e uma divisória levantada. — Também arranjei um quarto de hotel que tem janelas do chão ao teto nos dois lados. — acrescentou Lena, inclinando-se para mordiscar minha orelha.

Mencionei que ela era a mulher perfeita?

Porque era.

E era toda minha. 

E teríamos uma vida inteira para encontrar maneiras de sermos acidentalmente pegas fazendo coisas impertinentes...

Voyeur - Lena IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora