KARA
Lena não ligou para me despedir.
Honestamente, imaginei que ela teria se sentado mais tarde, algum tempo antes de dormir, revisto as câmeras, visto que estive em seu laptop e imediatamente me ligado para dizer que ultrapassei a linha e me despedisse. Mas o fato dela não ter ligado significava apenas uma coisa.
Ela sabia que eu sabia sobre as câmeras e que as estava usando para excitá-la, e não ficou chateada com o fato.
Talvez devesse ter ficado surpresa com esse fato. Quer dizer, na maior parte do tempo, ficávamos sozinhas naquela casa grande e vazia. Se ela de alguma forma visse minhas pequenas apresentações como um convite para mais, Lena seria capaz de agir de acordo com isso. Minhas objeções não me fariam bem sem ninguém por perto para intervir se ela decidisse se forçar a mim.
Eu não deveria querer voltar.
O jogo sempre terminava para mim quando o voyeur sabia que eu sabia que estava sendo observada. A diversão sempre esteve na proibição de tudo. Mas se a pessoa soubesse que não era realmente proibido, que, na verdade, estava convidando, isso deixaria de ter a mesma emoção. E, nos piores casos, fazia elas pensarem que eu realmente as queria.
Nunca foi sobre elas.
Não ficava excitada com a ideia de suas mãos em mim, mas sim com a maneira como não conseguiam se controlar por minha causa. Era, em sua essência, uma mania bastante narcisista. E não fazia sentido querer voltar agora que minha chefe sabia o que estive fazendo.
Talvez uma parte minha estivesse intrigada em como isso poderia me animar, sabendo que ela sabia, mas não dizendo nada, sem ação, apenas silenciosamente se permitindo ser atormentada dia após dia, sabendo que eu estava em sua casa, que estava ao alcance, mas não podia me tocar. Isso adicionou uma nova camada de excitação que realmente não tinha antecipado.
Quer dizer, se Lena tentasse algo, eu sairia de lá.
Mas se quisesse continuar jogando?
Estava inclinada a jogar também.
Pelo menos por um tempo, ver se parecia tão bom quanto em minha mente. Além disso, o dinheiro. Não conseguia esquecer o dinheiro. Tinha uma conta de luz paga e algumas telas novas esperando pela pintura. Ter aquela segurança era muito importante para mim. Não queria estragar tudo por causa de um pequeno fetiche meu. Mas, desde que meu emprego estivesse seguro, achei que não faria mal ficar bagunçando um pouco. Especialmente agora que sabia que ela estava assistindo, e Lena sabia que eu sabia que estava assistindo.
— Kara, você está sequer ouvindo? — Sam perguntou, arrastando-me para fora dos meus pensamentos turbulentos, fazendo com que a culpa me dominasse imediatamente. Porque, bem, não, não estive ouvindo.
Em minha defesa, ela estava falando sem parar sobre seu namorado babaca, e havia poucas vezes que eu poderia dizer coisas meio boas e de apoio antes de explodir e lembrá-la de que ela merecia algo melhor. O que só iria aborrecê-la, então a mim, e causar uma situação horrível pela qual passamos muitas vezes antes.
— Sinto muito. Não. Estava pensando no trabalho, — admiti, dando a ela um sorriso culpado.
— Oh, como vai isso? — Ela perguntou, colocando seu chocolate quente em suas mãos cobertas de luvas enquanto caminhávamos pela rua, olhando as vitrines, ocasionalmente dizendo uma a outra para “me lembrar de comprar isso para fulano de tal no Natal”, embora nós duas soubéssemos que esqueceria qualquer item que fosse antes de chegarmos ao próximo quarteirão.
— Está indo muito bem, na verdade. Não acho que um trabalho com tanta estrutura seria bom para mim. Você sabe, tipo, criativamente. Mas tenho feito um monte de peças ultimamente.
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Voyeur - Lena Intersexual
FanfictionEu sabia sobre as câmeras. Ela não sabia que eu gostava de ser observada.