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— Se faz assim. — Kauê disse tentando ao menos auxiliar Kaolin com o arco e flecha — o solte lentamente e — suspirou — sinta a bri...
Antes que o garoto sequer pudesse finalizar a frase, Kaolin já havia soltado a flecha, acertando o braço de Xombari de raspão.
— É IMPOSSÍVEL TREINAR ESSA GAROTA SRA. GUANABARA. — gritou Koda impaciente.
Os três garotos estavam ali a mais de cinco horas tentando ensinar a Kaolin acertar o alvo e controlar sua mente para manter-se em equilíbrio, mas ensiná-la algo uma missão quase impossível.
A mulher levantou-se apoiada em sua bengala caminhando em direção ao grupo de adolescentes, que estavam brigando sem parar, capaz de acabarem se matando caso Maiara não os intervisse.
— A pressa é inimiga da perfeição. — Maiara sorriu deixando um ar de sabedoria para os jovens que ficaram um pouco sem jeito — Vocês precisam apenas de um descanso, por isso fiz essa lista enquanto treinavam. — a mulher entregou a Xombari o papel — Comprem essas coisas lá no Bahamas e voltem logo.
Xombari segurou a pequena lista correndo para dentro da casa junto aos outros três adolescentes para terem tempo de trocar de roupa antes de irem ao centro, os quatro jovens por sua vez despediram-se de Maiara pedalando em suas bicicletas até o centro. Kaolin estava na garupa de Xombari e Koda na garupa de Kauê reclamando a cada cinco minutos.
Como Sípal era próximo o centro não demorou muito para que chegassem ao mercado, Xombari e Kauê guardaram as bicicletas no estacionamento, enquanto Kaolin e Koda adentravam do mercado segurando a cesta avermelhada em uma mão e a lista de compras na outra.
— É sério que ela precisa de tudo isso? — Koda perguntou um pouco impaciente.
— Você sabe muito bem que sim. — Xombari disse tomando a lista da mão de Koda e passando pelo corredor de chás e especiarias — É uma das muitas maneiras dela preparar chás, curativos e claro receitas maravilhosas que só de imaginar me dão água na boca — o garoto comentou lembrando dos quitutes da mulher — Kaolin pode não saber, mas vocês sabem o quanto esses chás, óleos, banhos, entre outros, fazem a diferença após um dia cansativo de treino.
Todos se mantiveram calados voltando a atenção na lista, ervas, farinhas, frutas, hortaliças e alguns frios que Maiara exigia.
Infelizmente naquela lista e nas demais casas dentro de Sípal não possuíam nenhum tipo de doces ou coisas do tipo, nada de produtos "industrializados" e essa era uma das muitas coisas a qual a garota teria de se acostumar.
Ao mesmo tempo em que escolhiam as hortaliças, Kaolin e Koda notavam a ausência de Kauê e de Xombari que por sua vez estavam a brincar com um filhote de cachorro que havia entrado no mercado. A garota deu um tapa na nuca de cada um, os fuzilando com o olhar com os braços cruzados.
— Temos hora sabia? — resmungou a jovem índia. Só de imaginar a possibilidade de ficar até mais tarde treinando já se tornava um pesadelo.
— Mas olha esse cachorro lindo Kaolin. — Kauê disse ainda abobado com o filhote.
— De fato ele é, mas temos muito ainda do que comprar e voltar logo para Sípal. — concluiu Koda de forma grosseira.
— Então porque não fazemos assim, tem espaço na sua bolsa não é? — Xombari perguntou observando a garota confirmar com a cabeça — Ótimo então põem o Cleitinho aí dentro, ele é um filhote, mais um membro pra família.
Kaolin o encarou um pouco receosa, mas não resistiu aos encantos do cachorrinho, sua pelagem era toda caramelo e ele era tão pequeno em suas mãos, para que parceiros românticos se Cleitinho roubou seu coração.
Os jovens voltaram a transitar pelo mercado colocando os alimentos no carrinho e o direcionando até o caixa, a compra não tinha sido tão cara quanto Kaolin imaginava e com o restante do dinheiro conseguiram comprar um picolé na volta para casa.
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Maiara os esperava na entrada de Sípal com um olhar preocupado e assustado, um misto de emoções, deixa-los sozinhos era a mesma coisa que abandonar explosivos na rua por cinco minutos. Mas sua feição mudou ao avista-los de longe retornando a Sípal em suas bicicletas segurando as sacolas do mercado e de brinde com um cachorro nos braços.
— Onde vocês estavam com a cabeça ao trazerem um cachorro pra cá? — perguntou a mulher analisando o animal.
— Não foi nossa culpa, ele é tão bonitinho. Olha! — o quarteto disse junto.
— Ao menos ele tem um nome? — Maiara sorriu acariciando a cabecinha do cachorro.
— Esse é o Cleitinho, Cleitinho Bahamas. — Xombari respondeu sorridente.
A mulher passou a mão na testa rindo e voltando a encarar os jovens com um semblante sério em seu rosto, o quarteto riu retornando para a casa de Maiara, onde ouviram um longo discurso como cuidar de cachorro era uma responsabilidade muito grande e que eles não dariam conta por causa do treino.
— Mas por outro lado vocês precisavam de um guia mesmo. — a mulher tossiu algumas vezes — E bom nada mais justo que um animal que representasse bem nossa região. — sorriu.
— Então de toda forma trazer Cleitinho não foi totalmente um erro? — perguntou Kauê acariciando o animalzinho.
— Ele será de extrema importância para vocês em diversos sentidos, principalmente para Kaolin. — a mulher disse colocando sua bengala no meio do quarteto e passando sua mão em volta dela liberando uma pequena névoa roxa no lugar — Kaolin terá de enfrentar uma grande ameaça ainda e desvendar alguns mistérios que no passado não fui capaz de desvendar. — Maiara mostrou os garotos com nitidez os perigos que teriam de percorrer — Por isso que toda proteção e treinamento é pouca...
— E onde o Cleitinho entra nisso tudo? — Kaolin perguntou ainda paralisada com as imagens sendo transmitidas na névoa.
— Cleitinho seria um Guardião para o grupo ele absorveria todo o mal que é designado a vocês. — Maiara suspirou forte — Por ele ser um cachorro de raça não definida, ele tem mais chances de sobreviver do que um cachorro de raça, eles são leais aos donos e por isso são os Guardiões. — sorriu.
— Bom... Espero então que ele não fique doente absorvendo essas energias negativas, feitiços ou até mesmo maldições. — Xombari disse olhando para as mãos.
— Infelizmente isso é inevitável, mas com todo o treinamento intenso que vocês estão tendo além das loções que estou preparando. Vocês praticamente estão prontos para a primeira missão de vocês. — a mulher disse levantando-se da cadeira.
Todos a encararam incrédula e com uma expressão surpresa, eram jovens demais ainda não estavam prontos fisicamente e psicologicamente para missões desse tipo que exigia tudo e mais um pouco de si.
— Você está ficando velha e maluca. — Koda disse dando de ombros.
— Não fala assim, porque ela é a mais sábia daqui e é ela quem cuida de todos, não seja ingrato. — Tainá o encarou com desdém entrando na sala — A Sra. Guanabara faz de tudo para deixar todos felizes e confortáveis, então se vocês tiverem um pouco de compaixão e empatia será o suficiente.
Maiara pousou sua mão pelo ombro da azulada com um sorriso orgulhoso no rosto encarando cada uma daquelas feições assustadas.
— Quando eu tinha a idade de vocês também tive medo na minha primeira missão e tudo ocorreu muito bem e com certeza vai acontecer o mesmo com vocês. — disse abraçando todos presentes — E tudo bem Koda sabemos do seu jeito impaciente de ser, isso não me machuca.
O garoto suspirou sentindo-se um pouco culpado pelo que disse referente a mulher, de longe Maiara era a mulher mais forte que conhecia e a única que foi capaz de treinar diversos jovens mesmo nas condições que se encontrava atualmente.
— Agora sentem-se e relaxem, fiz um bolo mole que hmmm... — riu — Está de lamber os beiços.
Maiara caminhou até a cozinha pondo na mesa de centro da sala o bolo, percebendo os olhares ansiosos do quinteto para atacar e a reação de cada um comendo não tinha preço, Maiara sentiria falta daquela casa toda cheia novamente com aqueles sorrisos e risadas, as brigas desnecessárias, tudo lhe deixaria um grande vazio ao peito.
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Kaolin e os Mistérios da Floresta
FantasyOnde uma jovem indígena descobre que pertence a uma família de Guerreiras Amaldiçoadas, obrigada a sair de Gramado às pressas, Kaolin descobre que é a chave para desvendar os mistérios que aguardavam pela sua volta ao estado do Ceará. Com a ajuda de...