Capítulo 07: Não Prometemos Nada

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Comunidade Indígena de Sípal.

26 de fevereiro de 2019 – 07:12 AM.

A semana da garota tinha sido muito agitada, Kaolin tinha tido febre e enjoos, além de passar as noites em claro, a adolescente parecia um zumbi de tão acabada que estava, mas seu corpo estava recuperando-se aos poucos da virose.

— Você está horrível hein garota. — Koda disse pegando uma banana — Temos que arrumar nossas malas e juntar todo o dinheiro que temos.

Xombari e Tainá o encararam bebendo café, enquanto Kaolin e Kauê continuavam sonolentos e lerdos, de todos ali presentes Koda era o único que aparentava estar mais ativo.

— Vamos com calma okay? Nem sabemos como iremos chegar em Manaus e sabe se lá como vamos arranjar tanto dinheiro do dia pra noite. — Kaolin falou pegando uma maçã e a cortando em pedaços.

— Se você é tão inteligente como Maiara fala pelos 4 ventos, sabe que todos temos um pouco de dinheiro além de que... — Koda disse sendo interrompido por Maiara.

A mulher pôs as mãos no ombro do rapaz com um sorriso simpático no rosto, cravando as unhas lentamente na pele do garoto que deu um pequeno gemido.

— Bom eu tenho uma quantia guardada a um tempo e não vai ser útil para mim nesse momento. — a mais velha se afastou indo até seu quarto e trazendo consigo uma caixa antiga e avermelhada — Acho que tem o suficiente para essa viagem e se usarem bem a cabeça não irão gastar tudo. — Maiara falou encarando cada um dos adolescentes na mesa.

Xombari puxou para perto de si a caixa contando nota por nota e voltando a por dentro do plástico, o garoto arregalou os olhos fechando a caixa ao mesmo tempo em que seu sorriso ia de orelha a orelha.

— Temos mais ou menos uns R$2.500,00 só nessa caixa, acho que é o suficiente para sobrevivermos durante esse período. — Xombari disse bebendo um pouco d'agua.

Todos continuavam a discutir os preparativos para a viagem, enquanto Tainá pesquisava o preço das passagens de ônibus, tudo sairia mais em conta se fossem de ônibus e seria apenas uns três quatro dias de viagem, nada muito entediante afinal ela estaria viajando com duas pessoas calmas e duas pessoas que adoram se provocar, talvez fosse um sonho e um pesadelo ao mesmo tempo.

— A passagem tem o valor de R$275,93 e como estamos em cinco somando tudo fica... — Tainá comentou fazendo a conta de cabeça — Fica R$1.379,65 e nos sobra R$1.377,15. — a azulada anotou tudo em um guardanapo — Até que está bom.

Maiara observou o olhar de receio nos olhos de cada um dos jovens e os abraçou carinhosamente, a mulher logo os soltou entregando-os alguns objetos um tanto quanto aleatórios.

— O que vamos fazer com essas coisas? — Kaolin e Kauê questionaram segurando as coisas delicadamente.

— Quero que tragam os objetos e me acompanhem até o lado de fora. — a mulher disse apoiando-se em sua bengala.

Os adolescentes se entreolharam dando de ombros seguindo a mulher até o quintal, o sol àquela altura parecia querer assar os jovens que ainda estavam meio moles. Maiara afastou cada um deles com o espaço de um braço, ela não sabia como seria o estrago daquela "mini aula" que teriam antes de embarcarem no ônibus.

— Eu sei que é estranho eu ter entregado um pincel a Kaolin, um cinto a Koda, uma boina a Xombari, uma tesoura Kauê e um bracelete a Tainá. — Maiara observou a expressão entediada dos jovens e deu um sorriso ladino pondo uma das mãos na cintura — Quero que joguem cada objeto para o alto e vejam a mágica acontecer.

Cada um dos adolescentes analisaram os objetos os jogando para o alto e cada um deles tomou uma forma diferente, o pincel de Kaolin transformou-se em uma espada prateada com detalhes avermelhados e esverdeados. O cinto de Koda tornou-se uma espada dourada com detalhes azulados no cabo e na lâmina. A boina de Xombari transformou-se em um escudo roxo com detalhes esbranquiçados que servia também como um disco, ele era afiado em sua volta para acertar quem quer que fosse o adversário. O chaveiro de Kauê tornou-se uma enorme lança decorada por cristais, cipó e com detalhes rosados por completo. E por último o bracelete de Tainá não era apenas um acessório qualquer, ele também era um arco e flecha de tons prateados com algumas pedras azuis decorativas, além da própria lâmina da flecha ser bem afiada.

Cada um desses objetos era uma arma útil e nem um pouco exagerada para que os adolescentes conseguissem se proteger dos ataques dos adversários à sua volta, que provavelmente os seguiriam.

— UAU! — Xombari disse animado — Isso é mais do que incrível.

— É perfeito, olha essa espada, meu Deus. — Kaolin falou surpresa — Não lembrava que pudessem ser tão pesadas.

Koda riu ainda admirando a sua espada e comparando sua arma com a de seus amigos como uma espécie de competição para inflar seu ego.

— Bom, quando tiverem que guardá-las basta vocês apenas jogarem para o alto mais uma vez, não tem segredo. — Maiara passou a frente dos jovens com uma das mãos nas costas –— Acho que posso confiar em vocês não é? Não farão besteira alguma certo?

Os jovens se olharam com sorrisos travessos no rosto como se estivessem falando "Não prometemos nada...", mas Maiara confiava no potencial e gênio de cada um, todos se complementam de alguma forma.

— De qualquer modo vocês irão guardar suas novas armas okay? E arrumarem suas malas, vou levá-los até a rodoviária e a partir de lá o destino de vocês estará nas mãos de Kaolin. — a mulher sorriu.

— Pois saiba que não voltaremos vivos dessa batalha então. — Xombari zombou a amiga recebendo alguns leves tapas.

Tainá revirou os olhos puxando todos de volta para dentro, organizando as malas, a azulada era um pouco mais responsável do que todos juntos ali e por causa disso a morena teria de ser babá de todos durante a viagem.

— Acho que acabei. — Kaolin falou fechando a mala e guardando alguns itens básicos na mochila.

— Ótimo e vocês meninos? — Tainá perguntou terminando de dobrar algumas roupas.

— Kauê encheu a bolsa de comida e algumas mudas de roupa é necessário para não morrermos de fome. — Koda disse pondo seu tênis.

— Certo, Maiara já chamou dois táxis pra gente. — Xombari comentou entrando no quarto e levando as malas até a sala.

[. . .]

Kaolin nem conseguia acreditar o quanto sua vida tinha mudado em tão pouco tempo, sua família tinha morrido à algumas semanas, ela era uma das mulheres amaldiçoadas da família e uma guerreira indígena, muita coisa que a garota imaginava existir só em filmes e livros estava acontecendo diante de seus olhos.

O percurso até a rodoviária tinha sido tranquilo, tirando o fato de diversos carros terem sofrido acidente durante todo o percurso e talvez até chuvas fortes tentado atrapalhar os planos da garota de chegar até seu destino.

— Cuidado e tenham juízo. — Maiara disse beijando a testa da bisneta com um sorriso um pouco triste.

A mulher observava todos entrarem no ônibus ao longe, Maiara confiava que Kaolin poderia desvendar o motivo das queimadas na floresta e trazer respostas que talvez ninguém teria imaginado antes e por isso a mulher depositou toda sua positividade e confiança nos cinco adolescentes.

Eles estariam seguros onde quer que fossem contanto que estivessem com o totem de madeira que a mulher insistiu em guardar em meio às roupas e armas, Maiara torcia para que tudo acabasse bem sem conflitos ou mais uma nova maldição e Kaolin era a esperança da mulher.

Kaolin e os Mistérios da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora