Entre Cadernos e Notas

Capítulo 17

POV do J.V.

Eu acho que vou vomitar.

Indo diretamente para o banheiro do clube depois do treino, J.V. colocou para fora tudo o que ele tinha comido no dia. Sentado em frente ao vaso sanitário, sem forças para se levantar do chão, J.V. encostou o rosto no ladrilho frio da parede do banheiro.

Estou tão cansado...

Tinha sido um mês difícil para J.V.. Com o seu pai tomando conta dele de perto, J.V. tinha que treinar do momento em que acordava até a hora de ir dormir. Sem pausas, sem descanso.

Graças a Deus ele me dá tempo para dormir.

Era inevitável que, por causa disso, sua vida tivesse virado uma bagunça. Tinha passado dias tentando convencer a seu pai a deixá-lo fazer as provas, mas mal tinha tido tempo para estudar. Se Aspen não tivesse mandado aqueles resumos para ele através de Liam, ele estaria ferrado.

Aspen...

Ele nem queria saber o que ela estava pensando dele naquele momento - não, bem, talvez quisesse. Ele tinha tantas coisas para falar com ela, tantas desculpas para pedir...

Eu não acredito que o meu pai chamou a pessoa mais inteligente que eu conheço de burra, Deus do céu...

Mas pelo menos ela não parecia estar com raiva dele... e Enzo, Enzo estava praticamente gerenciando a participação dele no concurso sozinho.

Liam estava entregando os resumos de Aspen para ele às escondidas, além de mantê-lo informado com todos os recados dos seus amigos... E Nath, a única pessoa que o seu pai o permitia ver de fato, embora com horários bem marcados, Nath estava contrabandeando chocolates e outras comidas que não fossem a mistura esquisita com gosto de ovo cru que o seu pai estava lhe forçando a comer todo dia pela manhã.

Graças a Deus pelos meus amigos.

De uma forma que ele não entendia, eles tinham virado parte da sua família... e ele sentia uma gratidão e um amor tão grande por eles que quase chorou quando viu Olívia discretamente colocar um pacote de barrinhas de cereal na sua mochila.

Quase.

Se sentindo mais forte, se levantou do chão e foi em direção a pia para lavar a boca e o rosto. Decidindo que comer uma barrinha pudesse ser uma boa ideia, abriu a mochila e se surpreendeu ao notar que, colado no pacote de barrinhas, havia um bilhete com a letra de Olívia, descrevendo com grande riqueza de detalhes os passos de como estancar sangramentos usando gelo, limpar feridas usando água e sabão e cuidar dos hematomas usando compressas de água morna.

Como é que ela sabia de tudo isso?

Dobrando o papel novamente, J.V. guardou o bilhete em sua bolsa e abriu uma barrinha para comer. O sabor do chocolate misturado com castanhas explodiu em sua boca.

Era tão bom...

O gosto de um sonho do qual ele não queria acordar...

*

Mas não se pode dormir para sempre, pensou J.V., segurando a bola de futebol em suas mãos.

Na frente do gol improvisado em sua casa, seu pai estava agachado, preparando para agarrar a bola.

Qualquer pessoa que visse aquela cena diria o quão 'fofo' era ver pai e filho passando 'tempo de qualidade' juntos.

Para J.V., porém, aquilo era uma prisão, uma tortura que parecia não ter fim.

Como todo dia desde o dia em que ele havia faltado o treino com Liam, o seu pai o forçava a continuar treinando no instante que chegava em casa. Nessa altura do campeonato, J.V. tinha que admitir que já estava acostumado aos treinos exaustivos e que pareciam nunca ter fim.