POV do J.V.
J.V. nunca se considerou alguém especialmente corajoso.
Não sabia se teria coragem de entrar em um prédio em chamas para salvar alguém. Em um assalto, de certo seria o primeiro a entregar as suas coisas e, em casa, nunca tivera coragem de enfrentar o seu pai, mesmo quando achava que era necessário.
Então ele não sabia explicar muito bem o que tinha acontecido.
Era como se, de alguma forma estranha e assustadora, ver o líquido vermelho-escuro descendo pelo rosto de Aspen tivesse o transformado em uma pessoa completamente diferente.
Ela não parecia ter percebido — como, ele não saberia explicar. Ela não teria sentido algo quente e viscoso descendo pelo rosto? Como? Sangue não era como água, não era tão diluído nem muito menos refrescante.
Como é que ela nem ao menos se deu conta de que, a cada minuto que se passava, ela se parecia mais e mais como um personagem de filme de terror?
Talvez fosse esse o motivo, a razão — quando viu o rosto sujo de Aspen, quando notou que o sangue pingava em um ritmo frenético no chão ao redor da menina — começou a pensar em todos os filmes de terror e as reencenações de crimes que já tinha visto em sua vida.
Ela não está sangrando demais?, o pensamento fez com que cerrasse os punhos, pânico e adrenalina começando a pulsar em suas veias. Meu Deus, é muito sangue...
Ele não se lembrava de ter visto tanto sangue na vida, e se questionou se não devia fazer alguma coisa qualquer coisa. Afinal de contas, não era nenhum mestre em biologia, mas tinha certeza de que as pessoas podiam morrer por perder sangue demais.
Aspen podia morrer.
E foi naquele momento, exatamente naquele momento, que viu de canto de olho a menina cair no chão como se fosse um saco de batatas — seu coração parou, seu estômago se contorceu.
Ela não tinha morrido, tinha?
Em meio a um desespero cego, J.V. se jogou em cima de seu pai — sem nenhum plano além de mantê-lo longe de Aspen a qualquer custo, usando o peso de seu corpo para tentar empurrá-lo no chão.
100% coragem cega e desespero, 0% lógica e razão.
É claro que aquilo não podia terminar bem.
*
— Sabe garoto, o que você fez foi muito irresponsável.
Dando um sorriso sem graça, J.V. assentiu, olhando fixamente para o copo de café em suas mãos.
A bebida quente parecia estar trazendo vida de volta aos seus dedos dormentes — mas só isso mesmo, porque ele mal conseguia beber de tão ruim que era o gosto.
Até que, considerando tudo o que podia ter acontecido, as coisas não tinham terminado tão mal assim: tirando alguns arranhões e hematomas e, bem, o seu pé que definitivamente não tinha melhorado, J.V. estava se sentindo bem.
Já Aspen...
Ele realmente queria ter notícias dela.
— Eu sinto muito, — respondeu, tentando focar no homem na sua frente e sentindo a sua boca arder. Em algum momento durante o seu desentendimento com o seu pai, o seu lábio tinha rompido e estava particularmente inchado naquele momento.
Talvez fosse por isso que o café estava com um gosto tão ruim, pensou, se forçando a tomar mais um gole. Ou talvez café de delegacia seja ruim mesmo.
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Entre Cadernos e Notas
RomanceAspen vive com a cabeça nas nuvens. João Vítor, o JV, é um rapaz sob uma enorme quantidade de pressão. Para Aspen, que sempre foi considerada brilhante, JV é um idiota musculoso. Para JV, que sempre teve um grande dom para o esporte, Aspen era uma m...