Letícia jurou para si mesma que vingaria a morte da irmã. Anos depois da tragédia, ela está de volta à sua cidade natal com apenas um objetivo: destruir a vida do responsável pela morte de Cecília.
Com passos calculados, ela se infiltra na empresa d...
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Se eu fosse sincera, eu poderia completar essa frase assim:
"Só coloco roupas decentes quando sou obrigada, o que era quase nunca até conseguir esse maldito emprego de secretária".
Meu antigo trabalho como fotógrafa permitia que eu me vestisse como bem entendesse. Afinal, eu era minha própria chefe e tenho uma preferência por roupas pretas. E, nos últimos meses, os trabalhos foram raros. Por isso, passava vários dias em casa, editando fotos usando apenas calcinha e uma camiseta surrada.
Passo o resto do meu domingo andando aleatoriamente no único shopping de Aroeiras, pensando em como vou sobreviver a mais três semanas de trabalho tendo apenas duas roupas aceitáveis para uma secretária.
Vamos aos fatos:
Fato número 1: preciso de roupas chatas e formais.
Fato número 2: não tenho nenhum puto no bolso.
Desde que resolvi parar a minha vida para me dedicar a essa vingança, a minha conta bancária foi a única prejudicada.
Parei de pegar os trabalhos que faria para ficar no meu apartamento sozinha, obcecada com a ideia, procurando qualquer informação sobre Matias Bernardi.
Primeiro, tentei encontrar qualquer coisa que pudesse atingi-lo - seja na internet ou em jornais antigos. Liguei para ex-funcionárias da Bernardi CMB, na esperança de que ele tivesse feito com alguma delas qualquer coisa que eu pudesse usar, mas todas me disseram que quase não tiveram contato com ele.
Foi falando com uma delas que eu tive a ideia de me aproximar de Ruth. Segundo essa ex-funcionária, Ruth é a pessoa que mais conhece Matias no mundo. Rolam até alguns boatos de que, antes de ser secretária, ela já tinha trabalhado na mansão dos Bernardi em Berlocchi.
Então, passei alguns meses fingindo que era uma jornalista, ou uma agente do Ministério do Trabalho e até uma advogada em defesa das mulheres para tentar qualquer testemunha que pudesse me afirmar que os antigos hábitos de Matias Bernardi continuavam os mesmos.
Porém, ele foi discreto ou pagou montanhas de dinheiro para que ninguém abrisse a boca.
São as únicas opções, porque - como cantou Mick Jagger - old habits die hard.
Velhos hábitos custam a morrer.
E eu sei que Matias Bernardi continua sendo o mesmo canalha filho da puta que arruinou a vida da minha irmã.
Decidi, então, que se ninguém ia falar, eu iria criar minhas próprias provas.
Eu me dei um prazo apertado para descobrir tudo o que eu podia e me preparar para isso: até o meu aluguel acabar.
Quando acabou, eu enviei o currículo para Ruth, comprei as roupas para a entrevista e avisei a minha avó que estava voltando para Aroeiras. Só esqueci desse pequeno detalhe: eu preciso parecer uma secretária todos os dias. E não somente na entrevista.
Agora, estou perdida no shopping buscando roupas que não tem nada a ver comigo e que não posso pagar.
Depois de duas horas intermináveis rodando pelos corredores lotados e experimentando roupas caras demais, abro a minha carteira pela primeira vez: compro um milkshake de ovomaltine e vou pra casa.
- Isso não é jantar, Lelê - resmunga minha avó quando chego em casa.
Subo para o meu sótão e avalio o desastre que é o meu guarda-roupa: shorts jeans rasgados, camisetas de bandas e roupas de balada.
Os sapatos são ainda piores: tênis surrados ou sandálias de saltos finíssimos.
Tudo é preto, branco e cinza.
Será que está na moda ser uma secretária gótica?
No fundo do meu armário, está a única coisa que pendurei no pescoço na vida - sem contar o colar de prata com a cruz que era da minha mãe - minha câmera canon.
Eu diria que ela está aposentada em prol da justiça, mas a verdade é que ela está quebrada.
Irremediavelmente quebrada.
A minha antiga companheira de tantos trabalhos foi ridiculamente destruída pelo segurança de um evento onde Matias Bernardi estava.
Foi logo que eu comecei a minha investigação. Pensei que seria uma boa ideia entrar escondida em uma festa de gala que premiava as melhores propagandas do mercado varejista e usar minha lente de longo alcance para capturar qualquer affair que Matias pudesse ter. Depois, eu procuraria a mulher e descobriria se Mick Jagger estava certo ou não. Mas um segurança me viu, gritou que a festa era rigorosa contra paparazzis e destruiu minha câmera.
O som da lente da minha canon se espatifando tira meu sono até hoje.
Na manhã seguinte, eu estava na minha cama, lendo o diário de Cecília mais uma vez, quando um pingo caiu em cima de uma carinha feliz que ela tinha desenhado no pé da página. Meia hora depois, chegou o e-mail da imobiliária informando que a proprietária do apartamento se recusava a pagar pelo conserto da infiltração já que ela só apareceu depois que eu me mudei pra lá.
Grande mentira.
Tão grande quanto a imensa mancha molhada bem em cima da minha cama.
Foi esse trio - canon, infiltração e diário - que me fizeram decidir: dane-se a minha carreira de fotógrafa, dane-se a vontade de fugir de Aroeiras.
Eu iria voltar.
E aquele que fez Cecília sofrer iria pagar.
Sugo o último gole do meu milkshake fazendo barulho, enquanto tento descobrir o que vestir na semana seguinte.
Pelo menos, Matias Bernardi só vai chegar de viagem no final da semana.
Separo uma saia apertada que costumava usar para fotografar baladas e uma camisa de botões um pouco transparente. Com o top certo por baixo, vai ficar decente. Espero.
Para calçar, não vai ter jeito: me contento em usar os sapatos de salto médio da minha avó. Não deixei de perceber que eles são idênticos aos de Ruth.
Como pretendo seduzir o CEO mais cobiçado de Aroeiras usando esses recursos é uma parte do plano em que preciso trabalhar...
Mas ainda tenho alguns dias para me preparar antes de conhecer Matias Bernardi.
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