4. Matias

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O céu está nublado quando o motorista entra em Berlocchi, a cidade vizinha a Aroeiras e onde fica o aeroporto

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O céu está nublado quando o motorista entra em Berlocchi, a cidade vizinha a Aroeiras e onde fica o aeroporto. Abro um pouco a janela, inspirando o ar fresco com cheiro de grama e chuva. Ainda faltam três horas para o embarque no voo, por isso, quando chegamos à bifurcação no fim da estrada, ele vira à esquerda, nos afastando do caminho para o aeroporto.

Eu poderia tomar um café da manhã escandalosamente caro no aeroporto e ficaria feliz de pagar 30 reais por um pão de queijo murcho e uma xícara de café aguado para evitar o meu pai por mais algumas horas, mas... Não seria justo com Dafne.

O carro passa por um portão com antigas grades de ferro retorcidas em formatos florais. Uma ladeira serpenteia à frente, cercada por árvores frondosas cujas plantas começam a cair. Vejo o trabalho de alguns jardineiros assim que nos aproximamos da mansão cor de areia.

Um castelo de areia, definiu Dafne uma vez, quando eu era apenas um adolescente.

Na época, concordei, feliz e orgulhoso daquela enorme mansão que eu poderia chamar de casa. Grande como um castelo, opulenta e majestosa.

Hoje, entendo por que ela disse aquilo. Não se tratava de beleza e tamanho, mas de fragilidade.

Uma onda um pouco mais forte derruba um castelo de areia. Mas, por sorte, as águas estão calmas.

Ainda estamos aqui, tantos anos depois, eu e Dafne. E as paredes do castelo continuam firmes o suficiente para abrigá-la, como uma princesa aprisionada na torre mais alta do palácio.

O carro desliza pelas pedrinhas que cobrem a entrada, e vejo Dafne de roupão encostada em uma grande porta-dupla. Ela se esgueira para fora, fechando a porta atrás de si. Pelo jeito, não vamos entrar.

Estou prestes a sair do carro, quando ela se aproxima, dando duas batidinhas no vidro. Entendo seu gesto e abro a porta ao meu lado, permitindo que entre.

⁃ Bom dia - ela me cumprimenta com um sorriso cansado no rosto sardento Então, se dirige ao motorista:. - Josué, nos leve para o jardim das ninfas, por gentileza.

O Jardim das Ninfas é o favorito de Dafne. Ela o cultiva pessoalmente há mais de 20 anos, quando descobriu que a natureza tem quase 100 espécies de plantas com seu nome. Inspirada nisso, ela criou o jardim, onde cultiva não somente plantas das espécies que levam o nome da ninfa da mitologia grega, mas qualquer uma que capte seu interesse.

Dafne cruza as pernas longas dentro do roupão e prende os cabelos ruivos em um coque frouxo. Ficamos em silêncio enquanto o motorista faz o carro descer pela estrada de pedras que leva ao início da mata preservada dentro da propriedade do meu pai. O som do rio começa a entrar pela fresta da janela. Quando saímos, peço para ele me buscar em 1h. Percebo que Dafne está descalça apenas quando ela avança à minha frente, passando pelas coloridas flores que crescem no jardim. Ela me mostra suas novas aquisições, a quem ela chama de "filhas", e, depois, segue para o canto direito onde, na frente de uma roseira, está o nosso café da manhã, fartamente servido em uma mesa de madeira.

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