Letícia jurou para si mesma que vingaria a morte da irmã. Anos depois da tragédia, ela está de volta à sua cidade natal com apenas um objetivo: destruir a vida do responsável pela morte de Cecília.
Com passos calculados, ela se infiltra na empresa d...
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Pior. Secretária. Do. Mundo.
Letícia é, definitivamente, a pior de todas as assistentes que Ruth já contratou.
Como assim ela não sabe nem onde eu estou?
Apesar de ser domingo, estou em um prédio alto com uma vista deslumbrante para o Rio Bósforo. Odeio usar terno e gravata aos domingos e só sei que estamos no fim de semana, porque, ontem, passei a madrugada conversando sobre tênis e livros com a secretária - que estava de folga.
Pelo jeito, ela leva os dias de folga bem a sério, porque até já esqueceu o itinerário da minha viagem.
Eu poderia responder simplesmente "Istambul", mas acho que ela precisa se esforçar um pouco mais.
- Por que você não descobre?
- Que tal mais uma dica?
O Sr. Asfan entra no lobby, o que faz com que eu guarde meu celular no bolso. Ele cumprimenta a todos da nossa comitiva, mas logo volta sua atenção para mim. Passamos por um longo corredor e chegamos em um escritório comprido, com cadeiras de couro. Um garçom nos oferece café turco e charutos. Uma das executivas aceita o charuto, o que faz o Sr. Asfan a olhar com uma cara feia. Faço uma anotação mental para dar um aumento para ela por ter que aturar esse tipo de tratamento.
O café turco arranca mais tossidas do que o charuto, principalmente de Eduardo que quase se engasga com uma golada. O Sr. Asfan faz novamente a sua cara de puro desdém.
Mesmo assim, conseguimos terminar a reunião sem maiores intercorrências.
Fazemos algumas mudanças nos termos e um secretário sai para atualizar a papelada. Enquanto isso, analiso as amplas janelas que proporcionam uma vista privilegiada de Istambul. Deste lado, encontro a famosa Mesquita Azul, o ponto turístico mais conhecido da cidade. Decido que essa é uma boa dica para a secretária Letícia.
Sentado, faço uma foto discretamente, pegando um pedaço da minha calça e a vista.
- Consegue descobrir?
Ela demora para responder, fico pensando que ela está se esforçando para abrir a minha agenda ou lembrar o itinerário, mas quando ela responde, vejo que não está nem aí.
Para o trabalho dela, pelo menos.
- Só tem uma coisa que eu quero descobrir. Sabe o que é?
Do jeito que ela é safada só pode ser...
- O que tem debaixo da minha calça?
- Acho que, nesse caso, já sei...
- Já sabe? Como assim?
- Uma cadeira, ué! Kkkkk
Tá mais para palhaça do que para safada hoje, pelo jeito. Ela manda outra mensagem: - Eu estava falando do assassino no novo livro do Gallo. Palpites?
- Passou o dia inteiro lendo?
- Corri mais cedo e agora estou lendo.
Ela me manda uma foto das pernas pálidas cruzadas em cima de uma cerca que dá para a praça principal da Aroeiras.
Estou cada vez mais curioso para ver a dona dessas coxas.
- Queria uma foto do outro lado...
Letícia me manda uma selfie com o rosto escondido atrás do livro e um boné do Led Zeppelin. Não dá pra ver nada do seu rosto. A única dica que a foto proporciona sobre a sua aparência, eu já sabia: longos cabelos pretos.
Mas tem uma coisa que me agrada e quase deixo uma risada escapar: minha secretária nova tem um gosto musical parecido com o meu.
- Me mostra mais - peço, tentando não parecer autoritário.
Essas mensagens seriam o meu fim num tribunal.
Acho que a manchete não chegaria a ser "Bernardi atrás das grades", mas seria pelo menos "Bernardi paga indenização milionária".
É estranho que eu esteja tão à vontade trocando mensagens com essa secretária. A verdade é que ela me ganhou na parte em que disse logo de cara que não queria nada sério.
Tem tanta mulher que já tentou se aproximar de mim pelos motivos errados que acabei me tornando completamente cético quando qualquer uma delas vem me falar de sentimentos. Não acredito em nenhuma delas.
A maioria nem chegou a me conhecer de verdade antes de alegar estar apaixonada.
Não sou otário de cair nessa.
E as que já apareceram grávidas? Mais de uma vez, fiz um teste de DNA para confirmar o que eu já sabia: o filho não era meu.
Eu não transo sem camisinha. E, se estourar, vou perceber.
Quantas vezes eu desejei que existisse uma mulher que pudesse me ver apenas como um pedaço de carne? Vamos transar e pronto. Mas, quando ficam sabendo da minha conta bancária... Ninguém quer só ir pra cama.
- Não dá, gato - é a resposta da Letícia.
Agora, eu rio sozinho.
Só essa mulher pra chamar o chefe dela de "gato".
- Por que não?
A resposta dela me faz dar uma gargalhada, me garantindo uma cara fechada do meu pai.
- Porque estou vestida que nem uma mendiga.
- Achei seu boné bem maneiro pra uma mendiga... Sempre se veste assim aos domingos?
- Na verdade, só coloco roupas quando sou obrigada...
Caralho, preciso muito conhecer essa mulher.
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