Undecided Heart

𝐜𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐭𝐡𝐫𝐞𝐞

A cada milésimo de segundo que passa, me sinto mais nervosa para entrar naquele salão de festa e agir como se eu tivesse concordado com esse matrimônio e como se ele fosse a melhor coisa que já me aconteceu.

Odeio ter que fingir algo que não sinto verdadeiramente, não gosto do pensamento de ser fingida. Mas sei que é necessário, ao menos em público e perto dos meus pais, eles não podem sonhar que moverei montanhas para fazer esse Príncipe desistir de colocar uma aliança em meu dedo.

Eu continuo me encarando no espelho preso na parede, as ranhuras ilustradas na saia do vestido refletindo com a luz do pôr do sol que entra pela minha janela. Enlaço uma mecha superior atrás da minha cabeça com uma fita da mesma cor do vestido. Eu me sinto semelhante à um pote de tinta azul escuro, tão monocromático.

Ando de uma ponta do quarto até a outra ouvindo o farfalhar do vestido quando entra em contato com o tapete no centro do cômodo e o som seco do salto contra o chão. Paro em frente ao espelho novamente mordendo meus lábios até que o tom avermelhado tome conta das extremidades.

Ouço três batidas seguidas na madeira da minha porta e levo meu corpo até o objeto com passos largos e apressados. Giro a maçaneta e quando abro a porta, dou de cara com Mariana e suas roupas costumeiras de criada, imagino que não usará um traje especial para o evento de hoje. Ela faz uma breve reverência.

— Com licença, Alteza. A Rainha mandou avisar que está no aguardo de sua presença no salão de festas. — Ela passa o recado e eu pressiono os lábios um contra o outro formando uma linha reta. Movo a cabeça para cima e para baixo lentamente dizendo silenciosamente que descerei com ela. Ela entende meu recado e me reverencia novamente se virando para seguir em direção ao salão de festas, ela anda lentamente para que eu seja capaz de acompanhá-la. 

Dou um último suspiro antes de deixar meu quarto e ir atrás de Mariana. Nesse momento, tudo que sinto, sinto demais. O vestido parece pesado demais para o meu corpo, os sapatos apertam levemente meus dedos mas sinto como se estivessem sendo esmagados, consigo até mesmo sentir os fios do meu cabelo roçarem contra o tecido que cobre minhas costas.

Fecho meu punho apertando as unhas contra a palma da mão sentindo o incomodo instantâneo contra a pele. Desço tantos degraus de escada que penso que em algum momento pisarei no chão do inferno.

Não soa tão diferente para mim.

(...)

Quando chego ao salão, ele está repleto de pessoas conversando e comendo os alimentos postos nas mesas no canto do salão. Uma música baixa soa por todo o cômodo e alguns casais dançam em seus lugares. Involuntariamente penso se é real ou apenas fingimento da parte deles, assim como muitas coisas que terei de fazer futuramente.

Minha mãe gesticula com uma mão para que eu me sente ao seu lado e espere pela entrada do Príncipe. Estou cansada de contrariá-la, então apenas sigo para a cadeira me sentando lentamente, é tão difícil com essa saia imensa que penso em ficar em pé pelo resto da noite.

— Está magnífica, querida. Tenho certeza de que o Príncipe ficará encantado. — Ela me elogia e evito torcer a boca com o último comentário.

Espero que não.

— Eu agradeço por dizer isso. — Forço um sorriso que espero ter sido convincente e viro o rosto em direção à multidão no salão. Inconscientemente, passo os olhos pela maioria das pessoas pensando se, por um acaso, o Príncipe não estaria estocado no meio de todas essas pessoas.

Tenho a total certeza de que não está quando ouço a música abaixar, as pessoas misturadas no salão abrirem espaço no centro e as trombetas começarem a substituir a música por um breve momento. Me pergunto se é mesmo necessário tudo isso.